Folha de S. Paulo
Previsões catastrofistas relativas às
tecnologias jamais se materializaram
Com medo de que os avanços na inteligência artificial (IA) possam custar-lhe
o emprego e outras coisas mais? Bem, você não é o primeiro. Nossos cérebros
temem tudo aquilo que possa representar concorrência a nossas mentes. Foi assim
com a primeira geração de computadores, que chamávamos de "cérebros
eletrônicos", e com as máquinas de calcular, que nos transformariam em
analfabetos numéricos.
Foi assim também com a escrita. Sim, leitor, a escrita, a mais importante de todas as invenções humanas, sem a qual nossas ciência, tecnologia e filosofia seriam só uma sombra do que são, foi recebida com desconfiança em alguns círculos.
E um dos que torceram o nariz para ela não
é ninguém menos do que Platão, um dos mais importantes filósofos
de todos os tempos. Em "Fedro", Platão sugere que a disseminação da
escrita mataria a memória, pois ninguém mais se preocuparia em exercitar a
capacidade de guardar informações. A ironia de Platão ter produzido pela
escrita um argumento contra a escrita não passou despercebida a comentadores.
O fato inconteste é que as previsões catastrofistas relativas às tecnologias
que de alguma forma afetam o pensamento jamais se materializaram. Pelo
contrário, cada uma dessas invenções contribuiu para tornar a atividade
intelectual mais eficiente. Contas que antes poderiam exigir minutos ou horas e
mostrar-se erradas hoje são feitas em segundos, para citar um único exemplo.
Sim, é possível que desta vez seja diferente. Não dá para descartar a hipótese
de que a IA seja tão superior à mente humana que a escanteará de forma
definitiva. Ficaremos sem emprego e sem propósito.
Mas uma das tentações intelectuais a que precisamos resistir é a de ver a nós
mesmos e a nosso tempo como excepcionais. O mais verossímil é que a
inteligência artificial, a exemplo de seus antecessores, cause uma
desorganização passageira, mas, depois, mais ajude do que atrapalhe na sutil
tarefa de pensar.
Um comentário:
Concordo Com o Colunista.
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