O Globo
Deputado passou recibo após votação que manteve Chiquinho Brazão na cadeia
Na quarta-feira, a Câmara manteve a prisão
preventiva do deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle
Franco. Na manhã seguinte, Arthur Lira acordou invocado. Despejou a fúria no
articulador político do governo.
O chefão da Câmara chamou Alexandre Padilha
de “desafeto pessoal” e “incompetente”. Acusou o ministro de plantar “mentiras
e notícias falsas que incomodam o Parlamento”. Encerrou os ataques em tom de
ameaça: “Depois, quando o Parlamento reage, acham ruim”.
Lira usa a palavra Parlamento como sinônimo
de si mesmo. É ele quem está incomodado com a soltura de Brazão. É ele quem
ameaça reagir, impondo derrotas ao Planalto.
O roteiro para soltar Brazão foi bem ensaiado. Os bolsonaristas, que não se importam em defender um acusado de duplo homicídio, votariam para derrubar a prisão. O Centrão, que tenta manter as aparências, esvaziaria o plenário. Na prática, as ausências contariam a favor do deputado preso. Para mantê-lo na cadeia, eram necessários 257 votos.
Lira não assumiu a paternidade do plano, mas
deixou as digitais à vista. Permitiu que a votação fosse adiada, o que diluiu o
clamor popular, e impôs um rito expresso na quarta-feira, o que impediu um
debate aberto em plenário. Seu braço direito, Elmar Nascimento, preferiu agir
sem disfarces. Criticou a decisão do Supremo e deu um dos 129 votos para
libertar o colega.
O Planalto demorou a despertar para a
operação. Acreditou que a pressão da opinião pública se encarregaria do
serviço. Padilha só começou a procurar deputados horas antes da votação. O
resultado foi um placar apertado, com apenas 20 votos a mais que o necessário
para manter a prisão preventiva.
Além desmoralizar o Supremo, a soltura de
Brazão significaria um baque para a Polícia Federal. Se ficasse de braços
cruzados, o Planalto frustraria os investigadores e assinaria um atestado de
covardia.
Ao esbravejar e ameaçar o governo, o chefão
da Câmara passou outro tipo de recibo. Não que ele tenha perdido o sono pelo
colega preso. O que o aflige é saber que seu próprio poder, antes absoluto,
começa a ser visto como declinante.
Saída de emergência
Circula entre políticos fluminenses um
roteiro para evitar que Cláudio Castro siga o mesmo destino de cinco
ex-governadores do Rio.
Em caso de derrota no Tribunal Regional
Eleitoral, que julgará a cassação de seu diploma, o bolsonarista abriria mão de
recorrer em Brasília. Em troca, ganharia uma vaga no Tribunal de Contas do
Estado, preservando o foro privilegiado.
O plano tem duas pontas a serem amarradas. A
primeira é convencer um conselheiro do TCE a antecipar a aposentadoria. A
segunda é a incerteza na sucessão estadual.
Se a Justiça cassar o diploma de Castro, o vice Thiago Pampolha também deve perder o cargo. Neste cenário, o deputado Rodrigo Bacellar assume interinamente, e os eleitores voltam às urnas para escolher um novo governador.
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