Folha de S. Paulo
Com Lula e Bolsonaro consolidados como cabos
eleitorais, debate está desvirtuado
Em 1985, pressionado pelo Partidão, João Saldanha —cartola, técnico e comentarista de futebol, além de comunista de carteirinha— aceitou sair candidato a vice-prefeito do Rio na coligação de esquerda encabeçada pelo advogado Marcelo Cerqueira. Ele cumpriu a ordem e depois resmungou: "A lagoa Rodrigo de Freitas é do estado, só o peixe podre é da prefeitura. O Theatro é municipal, mas quem manda é o estado. Eu vou fazer o quê? Pegar o lixo?".
Para alívio de Saldanha, o brizolista Saturnino Braga venceu as eleições com 42% dos votos; a
chapa PSB-PCB-PCdoB terminou em quarto com apenas 7%. Três anos depois,
Saturnino decretou a falência da cidade, reclamando a não efetivação da ajuda
financeira prometida pelo governo federal (na época, o presidente era José Sarney).
Hoje, prefeitos e vereadores nunca tiveram tanta importância, a julgar pela montanha de dinheiro do fundo eleitoral determinada pelo Congresso (R$ 4,9 bilhões do Orçamento, contra R$ 2 bilhões em 2020). E a despeito das contas em vermelho dos municípios: déficit de até R$ 4,7 bilhões em 2023, com receita menor de ICMS e maior gasto com pessoal.
Com Lula e Bolsonaro como principais cabos eleitorais, as campanhas prometem o impossível. Que prefeitos de capitais e grandes cidades vão acabar com a violência. O debate está deslocado para acirrar a briga ideológica. A segurança pública é atribuição do governo estadual, com o Planalto tendo o dever de elaborar políticas para a área.
O PT (leia-se Janja) quer emplacar a ministra Anielle Franco na chapa da reeleição de Eduardo Paes. Será difícil convencer o prefeito, que lidera as pesquisas e ainda busca conquistar votos na direita. De olho na dobradinha dos filhos 01 e 02 para o Senado em 2026, Bolsonaro quer sentir o clima com a candidatura de Alexandre Ramagem, suspeito de corrupção na Abin. Quem vai cuidar do transporte e dos buracos na calçada?
Nenhum comentário:
Postar um comentário