segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lula mais presidente depois de ex:: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Depois de oito anos dos dois mandatos como presidente da República, embora não seja a regra, é compreensível que Lula custe a desencarnar. Mas, pegaria bem um pouco de cautela para não passar os limites da excentricidade.

Um ex-presidente merece o respeito do país e mais do que isso, Lula é o mais popular líder de todos os tempos. Mas, não domina a ânsia de continuar desfrutando do que o cargo tem de melhor. E, como os seus ministros que continuam ministros da presidente Dilma Rousseff também se consideram ministros de Lula, os quiproquós se sucedem enriquecendo o anedotário oficial.

Na noite em que deixou o cargo, Lula e sua esposa, dona Marisa Letícia, foram passar a noite no apartamento da família em São Bernardo do Campo. De camiseta e calção, dormiu a noite com o sono pesado da exaustão. O banho de chuveiro, o café com leite e bolinhos preparados por dona Marisa restabeleceram o ânimo do ex-presidente, que voltou à atividade com todo o vigor.

A presidente Dilma vai assumindo o exercício do alto cargo com decisões surpreendentes, como o convite às companheiras das torturas nas masmorras da ditadura militar para assistir à sua posse. E que foram recebidas com todas as gentilezas pela presidente.

Mas, Lula não tem jeito para ex. E no angu de dois presidentes, um ex que prolonga as despedidas, com um programa de dar inveja a um milionário, e a presidente que vai ocupando o seu espaço, a cada dia o pitoresco vai renovando o seu repertório. A última é a mais festejada, deixando o ministro da Defesa, Nelson Jobim, numa que gostaria de ter evitado. E, ao contrário, teve que assumir a responsabilidade pelo convite ao ex-presidente Lula, de sua mulher, filhos, noras e netos para se hospedarem no Forte dos Andradas, no Guarujá, no litoral de São Paulo, e uma propriedade do Exército. Convite feito e aceito na hora. Lula e a sua família estão hospedadas no Forte dos Andradas pela quinta vez, a primeira como ex-presidente. E o ex-presidente Lula tem lá suas razões. Foi ele quem construiu a suíte presidencial e toda a infraestrutura para a hospedagem do presidente, família e convidados. O presidente brinca com os netos na praia, pesca peixes miúdos. Um de seus filhos, Luís Cláudio Lula da Silva, comemorou o sol que aqueceu Guarujá depois de uma semana de chuva.

A Casa Civil, com os naturais embaraços, confirmou para os jornalistas que o ex-presidente da República não tem o direito de gozar férias em instalações militares. E amaciou o embaraço pelo desvio do óbvio de que ex-presidente pode ser convidado “como qualquer pessoas para se hospedar no Forte dos Andradas”. Mas, a lei que trata dos ex-presidentes – 7.474/86, regulamentada pelo Decreto 6.381, de 27 de fevereiro de 2008 – estabelece que eles têm direito a quatro funcionários, dois automóveis e seguranças pagos pelo governo. E só.

Ora, se o comportamento de Lula é censurável, não se compara com a orgia de gastos que estão sendo aprovados pelo novo Congresso, já credenciado para disputar o título de pior de todos os tempos. O PMDB e o PT, aliados do governo mas que se unham como gatos, travam uma briga de bastidores por cargos e espaços no governo, responsável por obras e com fartas verbas orçamentárias. Não se conhecem planos, propostas, projetos na ganância por nomeações e ministérios com obra e verbas.

A mina disputada pelo PMDB e pelo PT é o Ministério da Saúde, com um orçamento de R$ 77,3 bilhões para este ano. O PT já abocanhou a pasta da Saúde para o ministro Alexandre Padilha. Mas, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), como outros cargos no ministério, ainda são disputados pelo PMDB e pelo PT. O vice-presidente da República, Michel Temer, entrou no baile para abafar o ruído da orquestra. E deu o seu palpite sensato sobre o aumento do salário mínimo acima de R$ 540. Garantiu que a bancada do PMDB não votará contra o governo. Se a proposta do governo for encaminhada ao Congresso, a bancada do PMDB só aprovará se for compatível com as possibilidades do Erário. Não se pode exigir maior demonstração de fidelidade ao governo.

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