DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Em encontro hoje, petista também assumirá "compromisso de fé" com a liberdade religiosa
Vera Rosa
BRASÍLIA - Alvejada pela polêmica do aborto no primeiro turno da disputa, Dilma Rousseff (PT) vai garantir hoje a líderes evangélicos de todo o País que, se for eleita, não enviará ao Congresso projeto de lei para legalizar a interrupção da gravidez. Mais: a candidata do PT à Presidência reafirmará, no encontro, o que classifica como "compromisso de fé" com a liberdade religiosa.
A reunião entre Dilma e os evangélicos foi preparada sob medida pela coordenação da campanha para estancar a sangria de votos entre cristãos e tentar pôr um ponto final na guerra santa em que se transformou a corrida ao Planalto. O encontro ocorrerá em um hotel de Brasília e deve contar com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na hora do almoço.
Dois dias após visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde rezou e conversou com católicos, Dilma fará agora um afago aos evangélicos. O PT avalia que subestimou a questão do aborto no primeiro turno e não quer deixar a polêmica crescer.
Na tentativa de enfrentar o problema, a coordenação da campanha de Dilma foi remontada para dar assento a políticos que integram a Frente Parlamentar Evangélica ou são próximos à Igreja Católica. São eles que farão a interlocução com bispos, padres e pastores e atuarão como porta-vozes da candidata.
"Vamos deixar claro que, a exemplo do governo Lula, a gestão de Dilma não entrará em assuntos como aborto ou união civil entre homossexuais. Trata-se de temas muito afeitos ao Congresso e a Igreja tem de pressionar os parlamentares para travar essa luta lá dentro", disse o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA), evangélico. "O Estado é laico".
Para Pinheiro, o candidato do PSDB, José Serra, inventou um "medidor de Espírito Santo" nessa disputa. "Serra encarnou o inquisidor, como se tivesse dedicado toda a vida dele a Deus", ironizou o petista. "Não dá para ficar refém dessa retórica porque Serra tem se utilizado da boa fé das pessoas para assacar mentiras", emendou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
"De bom tamanho". Embora tenha dito, em 2007, que era a favor da descriminalização do aborto, Dilma adotou discurso menos controverso desde o início da campanha. Em agosto, ela divulgou a "Carta ao Povo de Deus", na qual assinala que "cabe ao Congresso a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto (...) e uniões estáveis". Não adiantou: pesquisas em poder do comitê indicam que Dilma não recuperou totalmente o apoio perdido entre cristãos.
"O PT é um partido democrático e cada um tem sua posição, mas eu, pessoalmente, sou contra o aborto", insiste Dilma. "É, porém, uma questão de saúde pública e o Estado não pode deixar mulheres de baixa renda recorrerem a métodos medievais para pôr fim à gravidez sem dar assistência a elas." A candidata assegurou, no entanto, não pretender mudar a legislação a respeito do assunto, que prevê o aborto em casos de estupro e risco de morte para a mãe. "Do jeito que está, está de bom tamanho", resumiu.
Na avaliação do vice-presidente do PSC, Pastor Everaldo, tanto Dilma quanto Serra devem agora apresentar seus programas de governo. "O aborto é um assunto relevante para a comunidade cristã, mas não é o único", disse o pastor, que faz parte do Conselho Político da campanha dilmista. "Nós defendemos as reformas tributária, política e menor carga de juros. É preciso botar o barco para a frente."
Depois de ouvir reclamações dos aliados sobre a demora na divulgação da plataforma de governo, o PT decidiu anunciar na semana que vem os "13 Compromissos de Dilma com o Brasil". Logo na abertura, o documento dará ênfase à defesa da democracia. A liberdade de imprensa e a de religião, que tanta polêmica causaram na campanha, também integram esse pacote.
Em encontro hoje, petista também assumirá "compromisso de fé" com a liberdade religiosa
Vera Rosa
BRASÍLIA - Alvejada pela polêmica do aborto no primeiro turno da disputa, Dilma Rousseff (PT) vai garantir hoje a líderes evangélicos de todo o País que, se for eleita, não enviará ao Congresso projeto de lei para legalizar a interrupção da gravidez. Mais: a candidata do PT à Presidência reafirmará, no encontro, o que classifica como "compromisso de fé" com a liberdade religiosa.
A reunião entre Dilma e os evangélicos foi preparada sob medida pela coordenação da campanha para estancar a sangria de votos entre cristãos e tentar pôr um ponto final na guerra santa em que se transformou a corrida ao Planalto. O encontro ocorrerá em um hotel de Brasília e deve contar com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na hora do almoço.
Dois dias após visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde rezou e conversou com católicos, Dilma fará agora um afago aos evangélicos. O PT avalia que subestimou a questão do aborto no primeiro turno e não quer deixar a polêmica crescer.
Na tentativa de enfrentar o problema, a coordenação da campanha de Dilma foi remontada para dar assento a políticos que integram a Frente Parlamentar Evangélica ou são próximos à Igreja Católica. São eles que farão a interlocução com bispos, padres e pastores e atuarão como porta-vozes da candidata.
"Vamos deixar claro que, a exemplo do governo Lula, a gestão de Dilma não entrará em assuntos como aborto ou união civil entre homossexuais. Trata-se de temas muito afeitos ao Congresso e a Igreja tem de pressionar os parlamentares para travar essa luta lá dentro", disse o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA), evangélico. "O Estado é laico".
Para Pinheiro, o candidato do PSDB, José Serra, inventou um "medidor de Espírito Santo" nessa disputa. "Serra encarnou o inquisidor, como se tivesse dedicado toda a vida dele a Deus", ironizou o petista. "Não dá para ficar refém dessa retórica porque Serra tem se utilizado da boa fé das pessoas para assacar mentiras", emendou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
"De bom tamanho". Embora tenha dito, em 2007, que era a favor da descriminalização do aborto, Dilma adotou discurso menos controverso desde o início da campanha. Em agosto, ela divulgou a "Carta ao Povo de Deus", na qual assinala que "cabe ao Congresso a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto (...) e uniões estáveis". Não adiantou: pesquisas em poder do comitê indicam que Dilma não recuperou totalmente o apoio perdido entre cristãos.
"O PT é um partido democrático e cada um tem sua posição, mas eu, pessoalmente, sou contra o aborto", insiste Dilma. "É, porém, uma questão de saúde pública e o Estado não pode deixar mulheres de baixa renda recorrerem a métodos medievais para pôr fim à gravidez sem dar assistência a elas." A candidata assegurou, no entanto, não pretender mudar a legislação a respeito do assunto, que prevê o aborto em casos de estupro e risco de morte para a mãe. "Do jeito que está, está de bom tamanho", resumiu.
Na avaliação do vice-presidente do PSC, Pastor Everaldo, tanto Dilma quanto Serra devem agora apresentar seus programas de governo. "O aborto é um assunto relevante para a comunidade cristã, mas não é o único", disse o pastor, que faz parte do Conselho Político da campanha dilmista. "Nós defendemos as reformas tributária, política e menor carga de juros. É preciso botar o barco para a frente."
Depois de ouvir reclamações dos aliados sobre a demora na divulgação da plataforma de governo, o PT decidiu anunciar na semana que vem os "13 Compromissos de Dilma com o Brasil". Logo na abertura, o documento dará ênfase à defesa da democracia. A liberdade de imprensa e a de religião, que tanta polêmica causaram na campanha, também integram esse pacote.
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