sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O clima está nervoso :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A CNT-Sensus, com uma diferença de apenas quatro pontos entre Dilma Rousseff e José Serra, está causando o maior frisson. Na campanha petista, o clima é de ansiedade. Na tucana, quase de "já ganhou". É aí que mora o perigo para os dois lados.

A campanha de Dilma amanheceu no dia 4 atordoada e vem dando passos erráticos, enquanto a candidata expõe dois personagens conflitantes: o seu eu "assertivo" e o seu eu carola, rezando de manhã com católicos, de tarde com evangélicos, de noite com espíritas. Nunca rezou tanto na vida.

Já a campanha de Serra ressurgiu das cinzas e acha que qualquer pontinho a mais é sinal de vitória na certa. Os programas eleitorais estão mais alegres e confiantes, mas falta combinar o tom com o "adversário": o próprio Serra, que não pode ver um jornalista pela frente, seja de rádio, jornal ou TV, que já parte para o bate-boca. É o seu arraigado lado Ciro Gomes.

Quando não têm como se defender, a religiosa Dilma e o ciclotímico Serra recorrem ao expediente de Lula, que, sempre que é pego de jeito (com mensalão, aloprados, Erenice), se faz de vítima e tasca a história do preconceito das elites.

Dilma diz que é vítima de calúnias do adversário e da imprensa, quando deveria tomar satisfação de Erenice Guerra e de ministros que decidem jogar no lixo o plano de Marina Silva para a Amazônia justamente quando ela mais precisa dos votos da ex-ministra e do PV.

E Serra acusa a imprensa de reproduzir a "pauta petista" quando repórteres lhe perguntam sobre o tal "Paulo Preto" (que, segundo Dilma, fugiu com R$ 4 milhões da campanha do PSDB). Se não tem resposta, é problema dele, não da imprensa, não dos jornalistas.

Dilma em queda, Serra em alta e o resultado indefinido a duas semanas das urnas, o clima é de que a qualquer hora estoura um novo escândalo, real ou não. Ainda mais com a internet livre, leve e solta.

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