DEU NO VALOR ECONÔMICO
Chave do nó está em um tempestivo "anarriê"
O Democratas, análises de evidências e fatos provam, saiu maior do que entrou nas eleições de 2010. Na antevéspera da disputa, sim, encontrava-se realmente alquebrado. Tinha um candidato a vice-presidente na chapa de oposição escolhido à última hora e à revelia da direção partidária. Tinha expulsado, por corrupção, seu único governador, cristão novo no partido, no comando, à época, de um quadradinho - o do Distrito Federal - sem peso político.
Sem liderança, transformado em inimigo número 1 do mito, elegeu dois governadores, cravando uma estaca no coração do presidente Lula que havia implorado, pública e insistentemente, pela derrota do DEM exatamente nos Estados onde venceu, Santa Catarina e Rio Grande do Norte.
Continuou, pelas urnas de 2010, sendo a quarta bancada na Câmara Federal depois de 10 anos lutando na oposição, uma proeza para o partido que nasceu, viveu e se aculturou no governo. Está na oposição há mais tempo que o PSDB. Reduziu de 56 para 43 seu efetivo, mas ainda é maior que o PP, PSB, PDT, PR, PTB, PPS, PCdoB, PV, PSC, que estão aí no jogo político sem ninguém decretar sua irremediável e iminente morte. No Senado também caiu muito numericamente, de 13 para 7 senadores, perdeu líderes importantes, e não conseguiu ficar na terceira posição que tinha antes, mas ficou na quarta, perdendo para os mesmos PMDB, PT e PSDB que estão à sua frente na Câmara. Porém, maior que todos os demais. Um parceiro não desprezível, por exemplo, para as composições e disputas de poder entre os grandes.
Apesar de tudo isso, vive uma crise fortíssima, um impasse tal que, a impressão primeira, é que só um mágico conseguiria levá-lo à superação. O partido está dividido, ferido, com as posições radicalizadas, sem soluções óbvias à vista.
Seu maior líder, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não aceita mais o comando do presidente da legenda, Rodrigo Maia. Convidado por Orestes Quércia para transferir-se ao PMDB, pensa na proposta, deve até aceitá-la. Não se vislumbra, porém, como seria essa vida política do Kassab, de repente, no lulismo, no dilmismo, ou no governismo, pois o PMDB é governo, e governo federal, em São Paulo, onde Kassab tem sua base e ampliou liderança, é Michel Temer, no PMDB, e Marta Suplicy e Aloysio Mercadante, no PT. Todos distantes de Quércia.
O prefeito procura um prumo, e não parece ver opções a não ser ingressando na dissidência quercista, desmotivada a lutar internamente depois do agravamento da doença de seu líder. Ou mesmo prestando continência a Temer, no governo, a Mercadante e Marta, por tabela. Uma migração que carece de sentido, pelo menos para os leigos.
A senadora Kátia Abreu é a outra maior líder do partido, tem visibilidade, comando, foi vitoriosa nas urnas, é quem mais agrega grupos, tem conexões com as cúpulas partidárias antigas e novas. Como presidente da Confederação Nacional da Agricultura, porém, não poderia presidir um partido de oposição, nem liderá-lo de uma forma mais efetiva. Seria uma impropriedade que mais levaria problemas ao DEM, e à entidade, do que soluções.
O senador Demóstenes Torres (GO), com uma atuação reconhecida e uma campanha vitoriosa este ano, está nos planos do governador eleito de Goiás, Marcone Perillo, para ser peça importante nas eleições municipais de 2012, além de ser a alternativa de representação do partido no Senado em cargos de liderança e direção nas comissões temáticas.
O senador Agripino Maia (RN) foi espetacularmente reeleito, superando a campanha pessoal movida contra ele pelo presidente Lula, mas se partir para sua enésima disputa da liderança no Senado deve aumentar o cordão dos descontentes e se enfraquece internamente. O Democratas do Rio, embora fornecendo o vice na chapa presidencial da oposição e tendo hoje a Presidência do partido, a primeira da renovação promovida pela velha guarda, entrou e saiu da eleição sem ânimo.
O candidato ao Senado, Cesar Maia, maior liderança do partido no Estado e uma das maiores do país, ficou em quarto lugar na disputa que elegeu dois. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, seu filho, viu sua votação a deputado federal reduzida dos 235.111 votos de 2006, 2,9% do total do Rio, a 86.162 votos, em 17º lugar, menos votos que Arolde de Oliveira, que exerce influência sobre outro grupo político do DEM. Terá Maia ficado mais dócil ao aconselhamento dos mais velhos depois disso?
A presidência ficou com o filho de César, mas a liderança do partido na Câmara já passou por outros herdeiros. O fato é que a sucessão no partido e a transição às novas gerações ainda não provou resultados: os filhos de Cesar, de Jorge, de Efraim, de Agripino, de Paulo Souto, e o neto de ACM, todos sem apetite de articulação política, sem vontade de aprender e demonstrando um precoce enfado, não foram até agora a solução esperada.
Se o senador do PSDB, Aécio Neves, for mesmo liderar a oposição no Congresso, sua tendência seria manter os laços com o grupo jovem, notadamente com Rodrigo Maia, seu aliado na disputa com o PSDB de São Paulo pela candidatura à Presidência da República. Porém, não se sabe, pelo menos o DEM ainda não sabe, até onde vai essa disposição do ex-governador mineiro que, de qualquer forma, não conduziria a totalidade do DEM, exatamente por ter preferência por um grupo.
Contraditoriamente, o partido, que saiu mais forte, está internamente destroçado, como se vê. O DEM é uma crise ampla. Talvez fosse o caso de voltar atrás, de fazer um tempestivo anarriê, ir ao ponto de partida da mudança de nome e dessa transição para as novas gerações, para experimentar pressioná-las a assumir para valer as rédeas da agremiação ou reconhecer, finalmente, que a ideia sucumbiu e refazer os planos. O ex-governador, ex-senador, ex-embaixador e ex-presidente do partido Jorge Bornhausen pode ser a chave para o desenlace do dramático nó de tantas pontas.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Chave do nó está em um tempestivo "anarriê"
O Democratas, análises de evidências e fatos provam, saiu maior do que entrou nas eleições de 2010. Na antevéspera da disputa, sim, encontrava-se realmente alquebrado. Tinha um candidato a vice-presidente na chapa de oposição escolhido à última hora e à revelia da direção partidária. Tinha expulsado, por corrupção, seu único governador, cristão novo no partido, no comando, à época, de um quadradinho - o do Distrito Federal - sem peso político.
Sem liderança, transformado em inimigo número 1 do mito, elegeu dois governadores, cravando uma estaca no coração do presidente Lula que havia implorado, pública e insistentemente, pela derrota do DEM exatamente nos Estados onde venceu, Santa Catarina e Rio Grande do Norte.
Continuou, pelas urnas de 2010, sendo a quarta bancada na Câmara Federal depois de 10 anos lutando na oposição, uma proeza para o partido que nasceu, viveu e se aculturou no governo. Está na oposição há mais tempo que o PSDB. Reduziu de 56 para 43 seu efetivo, mas ainda é maior que o PP, PSB, PDT, PR, PTB, PPS, PCdoB, PV, PSC, que estão aí no jogo político sem ninguém decretar sua irremediável e iminente morte. No Senado também caiu muito numericamente, de 13 para 7 senadores, perdeu líderes importantes, e não conseguiu ficar na terceira posição que tinha antes, mas ficou na quarta, perdendo para os mesmos PMDB, PT e PSDB que estão à sua frente na Câmara. Porém, maior que todos os demais. Um parceiro não desprezível, por exemplo, para as composições e disputas de poder entre os grandes.
Apesar de tudo isso, vive uma crise fortíssima, um impasse tal que, a impressão primeira, é que só um mágico conseguiria levá-lo à superação. O partido está dividido, ferido, com as posições radicalizadas, sem soluções óbvias à vista.
Seu maior líder, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não aceita mais o comando do presidente da legenda, Rodrigo Maia. Convidado por Orestes Quércia para transferir-se ao PMDB, pensa na proposta, deve até aceitá-la. Não se vislumbra, porém, como seria essa vida política do Kassab, de repente, no lulismo, no dilmismo, ou no governismo, pois o PMDB é governo, e governo federal, em São Paulo, onde Kassab tem sua base e ampliou liderança, é Michel Temer, no PMDB, e Marta Suplicy e Aloysio Mercadante, no PT. Todos distantes de Quércia.
O prefeito procura um prumo, e não parece ver opções a não ser ingressando na dissidência quercista, desmotivada a lutar internamente depois do agravamento da doença de seu líder. Ou mesmo prestando continência a Temer, no governo, a Mercadante e Marta, por tabela. Uma migração que carece de sentido, pelo menos para os leigos.
A senadora Kátia Abreu é a outra maior líder do partido, tem visibilidade, comando, foi vitoriosa nas urnas, é quem mais agrega grupos, tem conexões com as cúpulas partidárias antigas e novas. Como presidente da Confederação Nacional da Agricultura, porém, não poderia presidir um partido de oposição, nem liderá-lo de uma forma mais efetiva. Seria uma impropriedade que mais levaria problemas ao DEM, e à entidade, do que soluções.
O senador Demóstenes Torres (GO), com uma atuação reconhecida e uma campanha vitoriosa este ano, está nos planos do governador eleito de Goiás, Marcone Perillo, para ser peça importante nas eleições municipais de 2012, além de ser a alternativa de representação do partido no Senado em cargos de liderança e direção nas comissões temáticas.
O senador Agripino Maia (RN) foi espetacularmente reeleito, superando a campanha pessoal movida contra ele pelo presidente Lula, mas se partir para sua enésima disputa da liderança no Senado deve aumentar o cordão dos descontentes e se enfraquece internamente. O Democratas do Rio, embora fornecendo o vice na chapa presidencial da oposição e tendo hoje a Presidência do partido, a primeira da renovação promovida pela velha guarda, entrou e saiu da eleição sem ânimo.
O candidato ao Senado, Cesar Maia, maior liderança do partido no Estado e uma das maiores do país, ficou em quarto lugar na disputa que elegeu dois. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, seu filho, viu sua votação a deputado federal reduzida dos 235.111 votos de 2006, 2,9% do total do Rio, a 86.162 votos, em 17º lugar, menos votos que Arolde de Oliveira, que exerce influência sobre outro grupo político do DEM. Terá Maia ficado mais dócil ao aconselhamento dos mais velhos depois disso?
A presidência ficou com o filho de César, mas a liderança do partido na Câmara já passou por outros herdeiros. O fato é que a sucessão no partido e a transição às novas gerações ainda não provou resultados: os filhos de Cesar, de Jorge, de Efraim, de Agripino, de Paulo Souto, e o neto de ACM, todos sem apetite de articulação política, sem vontade de aprender e demonstrando um precoce enfado, não foram até agora a solução esperada.
Se o senador do PSDB, Aécio Neves, for mesmo liderar a oposição no Congresso, sua tendência seria manter os laços com o grupo jovem, notadamente com Rodrigo Maia, seu aliado na disputa com o PSDB de São Paulo pela candidatura à Presidência da República. Porém, não se sabe, pelo menos o DEM ainda não sabe, até onde vai essa disposição do ex-governador mineiro que, de qualquer forma, não conduziria a totalidade do DEM, exatamente por ter preferência por um grupo.
Contraditoriamente, o partido, que saiu mais forte, está internamente destroçado, como se vê. O DEM é uma crise ampla. Talvez fosse o caso de voltar atrás, de fazer um tempestivo anarriê, ir ao ponto de partida da mudança de nome e dessa transição para as novas gerações, para experimentar pressioná-las a assumir para valer as rédeas da agremiação ou reconhecer, finalmente, que a ideia sucumbiu e refazer os planos. O ex-governador, ex-senador, ex-embaixador e ex-presidente do partido Jorge Bornhausen pode ser a chave para o desenlace do dramático nó de tantas pontas.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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