DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Mudou o Natal ou mudamos nós? O leitor, que é perspicaz, terá notado que com frequência cada vez maior o(s) governo(s) do Partido dos Trabalhadores vêm adotando medidas de intervenção no mercado financeiro e de câmbio que, não faz três anos, causavam alergias, irritações e faniquitos abertos na praça do mercado.
Agora, ainda é comum ver o pessoal da finança fazer muxoxos, dar risinhos de desprezo ou lançar um ar de preocupação superior mas contida diante de iniciativas federais relativas ao câmbio, por exemplo. Mas quase ninguém fala de fim de mundo ou de "deterioração terminal" da política econômica.
Em menos de 15 dias de governo, os economistas de Dilma Rousseff baixaram uma limitação aos negócios de bancos no mercado futuro de câmbio e se autorizaram a intervir nesse mesmo mercado via Fundo Soberano, as "reservas nacionais" inventadas pelo Ministério da Fazenda. Tais novidades vão estar em vigor ou ter influência prática mesmo só lá por abril, se é que vão alterar o caminho do câmbio.
De qualquer modo, o leite, por assim dizer, já está derramado.
Antigamente, o caldo logo começaria a entornar, na reação do mercado ou na reação política da finança. Qual a diferença?
Primeiro, muita gente está ganhando muito dinheiro. Logo, alterações no mercado de câmbio, que de resto e imediatamente afetam pouca gente, não comovem oposições.
Segundo, até em bancos há gente graúda preocupada com a trajetória do real, sua "excessiva" valorização. Tais executivos obviamente não chegam a aplaudir as medidas do governo; outros não sabem muito bem o que pode ser feito para mexer no câmbio além de um ajuste fiscal. Mas o pessoal da direção de alguns bancos não despreza as preocupações dos economistas de Lula, apesar do que dizem os economistas desses mesmos bancos.
Terceiro, o mundo inteiro está "mexendo no câmbio". Até o exemplar Chile, primeiro aluno da classe da escolinha liberal, tem se ocupado do assunto. Mas a preocupação com o valor e a flutuação lunática das moedas é agora quase universal. Na Ásia, "intervenção cambial", "administrativa" ou de qualquer espécie já era carne de vaca -ou, melhor dizendo, carne de porco.
Ao mesmo tempo, o pessoal da Fazenda não se cansa de alardear que adotará medidas mais "ortodoxas", como conter os gastos do governo federal, que se tornaram meio desordenados de 2008 para cá. Com isso, na verdade, pretende apenas evitar uma alta de juros maior.
Não há ou ainda nem se vislumbra um projeto fiscal de médio prazo, bem pensado, com objetivos de limitação permanente de gastos correntes, com um plano para o INSS, um projeto de redução da dívida e, no fim do caminho, um plano de redução ou racionalização de impostos.
Curioso agora será, pois, checar se esse novo à vontade com medidas mais heterodoxas (com intervenções no mercado) vai se estender a ainda outras áreas da política econômica. É o que tem acontecido, de modo meio acidental, desde 2008, quando a crise exigiu medidas excepcionais e, ainda, desmoralizou parte da pregação dos ditos "ortodoxos" -ou, melhor dizendo, a ideologia mercadista que passava por economia estabelecida.
Vai haver um "novo consenso" de política econômica? Mais importante, vai funcionar?
Mudou o Natal ou mudamos nós? O leitor, que é perspicaz, terá notado que com frequência cada vez maior o(s) governo(s) do Partido dos Trabalhadores vêm adotando medidas de intervenção no mercado financeiro e de câmbio que, não faz três anos, causavam alergias, irritações e faniquitos abertos na praça do mercado.
Agora, ainda é comum ver o pessoal da finança fazer muxoxos, dar risinhos de desprezo ou lançar um ar de preocupação superior mas contida diante de iniciativas federais relativas ao câmbio, por exemplo. Mas quase ninguém fala de fim de mundo ou de "deterioração terminal" da política econômica.
Em menos de 15 dias de governo, os economistas de Dilma Rousseff baixaram uma limitação aos negócios de bancos no mercado futuro de câmbio e se autorizaram a intervir nesse mesmo mercado via Fundo Soberano, as "reservas nacionais" inventadas pelo Ministério da Fazenda. Tais novidades vão estar em vigor ou ter influência prática mesmo só lá por abril, se é que vão alterar o caminho do câmbio.
De qualquer modo, o leite, por assim dizer, já está derramado.
Antigamente, o caldo logo começaria a entornar, na reação do mercado ou na reação política da finança. Qual a diferença?
Primeiro, muita gente está ganhando muito dinheiro. Logo, alterações no mercado de câmbio, que de resto e imediatamente afetam pouca gente, não comovem oposições.
Segundo, até em bancos há gente graúda preocupada com a trajetória do real, sua "excessiva" valorização. Tais executivos obviamente não chegam a aplaudir as medidas do governo; outros não sabem muito bem o que pode ser feito para mexer no câmbio além de um ajuste fiscal. Mas o pessoal da direção de alguns bancos não despreza as preocupações dos economistas de Lula, apesar do que dizem os economistas desses mesmos bancos.
Terceiro, o mundo inteiro está "mexendo no câmbio". Até o exemplar Chile, primeiro aluno da classe da escolinha liberal, tem se ocupado do assunto. Mas a preocupação com o valor e a flutuação lunática das moedas é agora quase universal. Na Ásia, "intervenção cambial", "administrativa" ou de qualquer espécie já era carne de vaca -ou, melhor dizendo, carne de porco.
Ao mesmo tempo, o pessoal da Fazenda não se cansa de alardear que adotará medidas mais "ortodoxas", como conter os gastos do governo federal, que se tornaram meio desordenados de 2008 para cá. Com isso, na verdade, pretende apenas evitar uma alta de juros maior.
Não há ou ainda nem se vislumbra um projeto fiscal de médio prazo, bem pensado, com objetivos de limitação permanente de gastos correntes, com um plano para o INSS, um projeto de redução da dívida e, no fim do caminho, um plano de redução ou racionalização de impostos.
Curioso agora será, pois, checar se esse novo à vontade com medidas mais heterodoxas (com intervenções no mercado) vai se estender a ainda outras áreas da política econômica. É o que tem acontecido, de modo meio acidental, desde 2008, quando a crise exigiu medidas excepcionais e, ainda, desmoralizou parte da pregação dos ditos "ortodoxos" -ou, melhor dizendo, a ideologia mercadista que passava por economia estabelecida.
Vai haver um "novo consenso" de política econômica? Mais importante, vai funcionar?
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