Em condições normais de pressão e temperatura, está feito o jogo do governo e do PT: A presidente Dilma Rousseff é candidata à reeleição e o projeto nacional do PT se sobrepõe aos projetos estaduais.
Isso quer dizer que está afastada definitivamente a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar? Não necessariamente.
Está afastada 95%? Sim, está. Mas na política tem sempre 5% de variável. A saúde da presidente da República, a situação da economia ou um tipo de fragmentação da base aliada em torno do nome dela, e a unificação em torno de Lula.
Todas esses hipóteses são variáveis que são consideradas no PT, em grupos próximos a Lula e em avaliações empresariais, sempre muito prudentes.
Um conjunto de variáveis pode mudar nome do PT
A conjuntura vista pelo avesso: está afastada a possibilidade de Dilma não ser candidata à reeleição? Não, não está afastada. Está afastada 95%. Não está afastada 100%. O mundo acabou de assistir, perplexo, à renúncia de um papa. Ninguém imaginou a hipótese de o papa renunciar. No entanto, Bento XVI renunciou.
O que parece 100% (ou quase) definido é que as eleições estaduais serão subordinadas à sucessão presidencial.
Ao contrário do PSDB, que também queria ficar 20 anos no poder, o PT é cada vez mais pragmático na avaliação dos conflitos regionais em relação ao projeto nacional de poder do partido.
Um exemplo simbólico: se for preciso entregar a cabeça de Lindbergh Farias (PT), no Rio de Janeiro, a fim de preservar uma aliança fundamental (PMDB) para o projeto nacional, o PT vai entregar a cabeça do ex-presidente da UNE como quem corta cebola. Chorando, é bem verdade. Mas vai entregar.
Está tudo definido, no âmbito do PT e do governo, e este é o jogo que está sendo jogado. Mas o PT - e aliados - também repara nas oscilações da economia, no comportamento do PMDB, onde também tem gente querendo ir para o outro lado, no humor real do empresariado e até no comportamento dos militares em relação à Comissão da Verdade.
São vários os pequenos jogos sendo jogados ao mesmo tempo que podem, numa determinada conjugação astral, modificar a situação posta atualmente.
Repita-se: em condições normais de pressão e temperatura o jogo está dado e é esse mesmo. A entrevista de Lula ao jornal Valor, a primeira após deixar a Presidência, deu certa organicidade e institucionalidade ao que se ouvia falar, mas não era exatamente conhecida a abordagem do processo sucessório no PT.
Na entrevista, Lula falou o que está pensando sobre a sucessão presidencial e nos Estados. Nada que já não se soubesse, mas as notícias sobre o ex-presidente eram esparsas. Nunca na voz dele. Sempre gente falando sobre ele.
No fim, o posicionamento público de Lula foi bom para todos: para o próprio Lula, para Dilma, para o PT e para os partidos aliados - os aliados obedientes e os aliados que iniciam uma "caminhada separatista", como se diz no partido.
No entanto, nem a entrevista é definitiva sobre os assuntos que ela mesma estabelece.
Está dado também que Dilma Rousseff entrou no jogo. A sucessão está em franca movimentação a 21 meses do fim do mandato presidencial e a um ano e meio das eleições, o que não é bom para o PT. O certo, para o partido, era tratar desse assunto no próximo ano, 2014.
A realidade, agora, é que o PT está desde fevereiro, depois do Carnaval, até dezembro, por dez meses de antecipação do processo eleitoral. E ainda terá outros oito meses, em 2014. E Dilma já chutou a canela de aliados (Eduardo Campos) e adversários (o PSDB).
No caso de Eduardo Campos, um puxão de orelhas público num discurso de cores fortes sobre a lealdade.
A antecipação do jogo eleitoral também é uma variante considerada no PT e entre os aliados. Talvez fosse o caso de avançar com mais calma.
Em resumo, em condições normais Lula não é candidato, Dilma vai em busca da reeleição, a aliança será com o PMDB na Vice-Presidência; e no PMDB não muda o candidato, será o vice-Michel Temer, ainda que muitos no PT preferissem outro nome; e o Partido dos Trabalhadores já aceitou a ideia de que Eduardo Campos será candidato e trabalha com o cenário de que ele, Marina Silva (Rede) e Aécio Neves (PSDB) estarão na disputa da eleição presidencial de 2014.
Isso em condições normais, que é o cenário com o qual trabalham os partidos e analistas. No então, não há como deixar de observar que há inquietação entre os empresários, a base de sustentação política na qual se assenta o projeto de poder do PT é volúvel e fragmentada, na qual - antecipado o lançamento do nome de Dilma - já tem gente querendo vender por 20 ou 30 o "passe" que antes custava dez. Basta publicar nota em jornal, com a informação de que o PDT se reúne semanalmente com o PSB para aumentar o valor tanto de um como de outro. É um Deus nos acuda.
Conta o vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, que no início do governo Dilma Rousseff ele e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, foram procurados por Aloizio Mercadante. O atual ministro da Educação informou que o governo pensava em substituir o presidente da Indústrias Nucleares do Brasil. O PSB não fez objeções, apenas ressaltou que o partido gostaria de manter o espaço que detinha na área de Ciência e Tecnologia.
O tempo passou e ninguém mais tocou no assunto. De início, Mercadante assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia, ao qual é vinculado o INB. Nada, até semana retrasada, quando o presidente e outros dois diretores, técnicos indicados pelo PSB, foram demitidos sem aviso. O presidente foi informado em um aeroporto, quando aguardava embarque para Brasília, onde teria uma reunião com técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU).
"Reclamamos da substituição de quadros sem avisar as pessoas", disse Roberto Amaral, que está em Havana, à coluna. "São pessoas com famílias e responsabilidade funcional". O vice-presidente do PSB diz que não vê no episódio alguma retaliação ao PSB, devido à virtual candidatura de Eduardo Campos a presidente. "Digamos que foi falta de jeito", disse.
Fonte: Valor Econômico
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