Do PR, ex-carlista não conta com apoio do seu partido, que ainda avalia se voltará para a base aliada
Júnia Gama, Catarina Alencastro
BRASÍLIA - O ex-governador da Bahia, ex-carlista e atual vice-presidente de Governo do Banco do Brasil, César Borges (PR), foi anunciado na noite de ontem como novo ministro dos Transportes. A presidente Dilma Rousseff confirmou o PR de volta ao comando do ministério após audiência com o presidente nacional do partido, senador Alfredo Nascimento (AM), que deixou o mesmo cargo em meados de 2011 sob denúncias de corrupção, durante a chamada "faxina ética". César Borges, que também foi chamado ao Planalto, não estava na lista dos nomes indicados pelo PR, o que não garante apoio integral do partido ao governo no Congresso. Foi escolha da própria Dilma e não conta com aval dos deputados do PR.
O silêncio do PR após o anúncio da escolha de Borges deu a dimensão do tamanho da insatisfação do partido, embora Nascimento, acompanhado do senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), tenha ido ao Planalto para a reunião junto com Borges. Nascimento não quis comentar a escolha. Segundo sua assessoria, só vai se manifestar após a posse, amanhã. A assessoria afirmou ainda que o partido "acatou Borges por considerá-lo um excelente nome", um técnico com trajetória política que lhe permite assumir um ministério. Os deputados do partido preferiram manter silêncio sobre a escolha.
O novo ministro vai substituir Paulo Sérgio Passos, técnico da confiança de Dilma. Ele é filiado ao PR, mas não representava o partido. A presidente pretende manter nos cargos mais importantes dos Transportes pessoas de sua confiança. Passos é cotado para a direção geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres.
A mudança no ministério foi motivada pela tentativa do Planalto de trazer o PR de volta à base aliada no Congresso, com vistas à disputa presidencial em 2014. Mas o partido ainda não definiu se vai retornar. Poucos minutos antes de anunciar Borges para a pasta, Dilma telefonou ao líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), para perguntar se havia impedimento - ouviu dele que não tem nada contra Borges, mas que o nome não é apoiado pelos deputados.
Nas últimas semanas, Garotinho e senadores do PR participaram de reuniões com Dilma para discutir a volta da legenda à base aliada e vários nomes do partido foram apresentados a ela, sendo o principal deles o do deputado Luciano de Castro (RR). Mas Dilma queria um nome que não fosse tão representativo do partido, e nas últimas conversas já soltava elogios ao desempenho de Borges na diretoria do Banco do Brasil. Na verdade, Dilma bancou a escolha por considerar que Borges seria o único nome no PR capaz de permanecer "fora das páginas policiais", segundo fontes. O acerto teria sido feito entre Dilma e Nascimento, à revelia do líder na Câmara.
Garotinho e outros colegas de bancada revelaram a interlocutores que a escolha não foi bem recebida e que o partido ainda discutirá se volta para a base aliada. Segundo pessoas próximas, Garotinho teria se sentido ignorado pela presidente, que somente o consultou na última hora. Desde que deixaram a Esplanada, os deputados do PR se consideram "independentes" em relação ao governo.
Políticos baianos comemoraram a escolha. A despeito do passado de desavenças, quando militavam em campos opostos na política, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), manifestou-se "satisfeito" com a nomeação de César Borges, que foi um dos políticos "criados" pelo ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Jaques Wagner foi consultado por Dilma e aprovou a indicação.
- Fiquei muito satisfeito com a nomeação de um aliado do governo federal e estadual, que vai fortalecer a posição do PR no governo Dilma e na Bahia e, ao mesmo tempo, aumenta a presença de um político baiano no primeiro escalão - disse Wagner.
Ex-ministro da Integração Nacional e agora vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, Geddel Vieira Lima também aprovou a indicação, pelo Twitter: "Parabéns a César Borges pela nomeação. Para a Bahia é um espaço importante".
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência diz que Paulo Passos "prestou grande contribuição ao governo e ao país" e que Dilma agradece sua "dedicação, empenho e espírito público". Sobre Borges, a presidente diz, pela nota, estar confiante de que ele dará continuidade, "com a mesma eficiência que demonstrou no Banco do Brasil", aos projetos do Ministério dos Transportes.
Continua pendente a decisão oficial da presidente Dilma sobre o titular do 39º ministério de seu governo, o de Pequena e Micro Empresas, que teve a lei de sua criação sancionada na quinta-feira e publicada ontem no Diário Oficial da União. O nome escolhido por Dilma para ministro dessa pasta é o vice-governador de São Paulo, Afif Domingos, do PSD. O anúncio só não foi feito ainda porque Afif pediu um prazo à presidente para se desembaraçar de sua função no governo tucano.
Fonte: O Globo
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