Em ato da Força Sindical, o tucano Aécio Neves acusou o governo de tolerância com a inflação. O ministro Gilberto Carvalho reagiu e disse que Dilma é uma "leoa" em defesa do trabalhador.
Duelo no Dia do Trabalho
Silvia Amorim, Sérgio Roxo
SÃO PAULO - A festa de comemoração do 1º de Maio em São Paulo virou ontem palco para um duelo entre governo e oposição acerca do futuro da inflação no país. De um lado, o principal líder da oposição e potencial adversário da presidente Dilma Rousseff na próxima eleição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusou o atual governo de ser leniente com o tema e responsabilizou diretamente Dilma pelo que chamou de "futuro sombrio" na economia. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, saiu em defesa da gestão petista e disse que Dilma zela "como uma leoa" pelo controle da inflação.
- O governo não trata com tolerância zero a inflação. A maior conquista dos brasileiros está sendo colocada em risco pela leniência e a responsabilidade é toda do governo da presidente Dilma (...) O Brasil vive um momento grave na economia e as perspectivas para o nosso futuro são sombrias - disse Aécio, em entrevista, logo que chegou à festa organizada por quatro centrais sindicais (Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central) na capital paulista.
Referência ao Plano Real
No discurso para uma multidão - segundo a Polícia Militar, cerca de 300 mil pessoas estiveram no evento; para a organização, o público foi de 1 milhão - , o senador disse que, além de comemorar com os trabalhadores a data festiva, estava ali para fazer um alerta.
- Todas as conquistas obtidas até agora só foram possíveis porque algum tempo atrás um grupo de homens públicos, apoiados pela sociedade brasileira, debelou a inflação e acabou com o imposto inflacionário. Não podemos permitir que o fantasma da inflação volte a rondar a mesa dos trabalhadores - afirmou ele, referindo-se à estabilidade econômica que se seguiu à edição do Plano Real.
Com o comando nacional do PSDB praticamente assegurado, Aécio foi apresentado como convidado de honra pelo presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), que está em pé de guerra com Dilma. A passagem do líder da oposição pela festa do 1º de Maio foi um teste de popularidade para o mineiro, que deverá ser eleito presidente do PSDB neste mês. Posicionado na primeira fila no palco, ele trocou conversas ao pé do ouvido com o anfitrião. Quando pegou o microfone, foi breve; fez um discurso de menos de quatro minutos, que não empolgou mas também não foi hostilizado pela multidão que esperava ansiosa pela retomada dos shows musicais e o sorteio de carros novos.
Gilberto Carvalho discursou quando Aécio já havia deixado o palco. Ponto a ponto, ele rebateu as críticas feitas pelo tucano. Primeiro, negou que haja um descontrole da inflação.
- Não é verdade que a inflação vai subir. Ela teve, sim, um pico nos últimos meses e vocês sabem o motivo. Agora, ela começou a cair - disse ele, para, em seguida, defender Dilma: - A presidente Dilma zela como uma leoa em defesa dos trabalhadores para que a inflação não coma os nossos salários.
Ele afirmou ainda que o governo sempre esteve ao lado dos trabalhadores e que o Brasil é outro após a chegada do PT à Presidência.
- Faça sol ou faça chuva, somos um governo que está ao lado e dialogando com os trabalhadores, seja para ouvir críticas ou sugestões. Pergunte aos sindicalistas se eles eram recebidos no Palácio no Planalto, se os ministros se colocavam cara a cara como estamos aqui para conversar. O Lula teve a coragem de colocar o país a serviço dos trabalhadores.
Antes, Aécio havia cobrado um diálogo permanente entre governo e sindicalistas e insinuou que isso só ocorre em época de eleição.
- É preciso que tenhamos um governo que não tenha apenas uma pauta permanente com o empresariado, mas também com a classe trabalhadora, e não apenas às vésperas da eleição.
O embate entre governo e oposição deu-se além das questões econômicas. Aécio fez questão de iniciar seu pronunciamento destacando que os avanços ocorridos no Brasil nos últimos 20 anos "não são obra de um governante, mas da luta dos trabalhadores". E disse que a oposição está vigilante para impedir retrocessos na democracia, citando polêmicos projetos de lei, como o que submete ao Congresso decisões do Supremo Tribunal Federal, o que limita a atuação do Ministério Público e o que inibe a formação de partidos.
CUT ameaça organizar greves
Na festa organizada pela CUT, ligada ao PT, o presidente da entidade, Vagner Freitas, acusou a Força de tentar "enganar" os trabalhadores ao propagar que a inflação está fora de controle.
- Dizer, como ocorreu lamentavelmente no 1º de Maio de uma outra central , que a pauta da classe trabalhadora agora é fazer campanha para impedir a inflação é entrar no jogo de banqueiro internacional. Querem que aumente a taxa de juros e demitam trabalhadores para controlar a inflação - afirmou o sindicalista.
Por outro lado, Freitas cobrou o governo federal e ameaçou fazer greves se a pauta de reivindicações da central não for atendida. Entre as propostas, está a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.
- Que nos ouça bem o governo. Não adianta vir para negociação para dizer não para tudo. Tem de vir para negociação, mas tem de atender aos interesses dos trabalhadores. Se não atender, nós vamos para rua, vamos fazer greve, enfrentamento e manifestação. Até dobrar para que atenda - discursou Freitas, também diante dos ministros Gilberto Carvalho e Manoel Dias ( Trabalho).
Para um público estimado pelo Polícia Militar entre 20 e 25 mil pessoas, Freitas acusou o governo de privilegiar os empresários.
- Para os empresários, já tivemos várias benesses. Para os trabalhadores, está faltando um olhar mais atento.
Em ato político da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Bernardo (SP), foi feita coleta de assinaturas para a apresentação de um projeto de iniciativa popular de controle da mídia.
Fonte: O Globo
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