quinta-feira, 2 de maio de 2013

Inflação deve insuflar greves

Com altos índices de inflação, negociações salariais devem se tornar mais complicadas neste ano

Situação é pior porque população não vê perspectivas de inflação abaixar

SÃO PAULO - A inflação alta deve tornar mais difíceis neste ano as negociações de reajuste salarial entre patrões e empregados, o que pode resultar em aumento do número de greves no país, de acordo com especialistas ouvidos pela Agência Estado. "Com inflação em alta e crescimento da produtividade em ritmo menor, a tendência é de que as discussões sobre salários entre empresas e sindicatos sejam mais acaloradas", disse o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. "Com isso, a gente pode ver mais greves em 2013."

O quadro pode se agravar porque não há nem sequer perspectiva de que a pressão inflacionária decorrente do mercado de trabalho aquecido vá desacelerar, segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).

Para ele, reduzir as pressões inflacionárias advindas do aumento do rendimento dos trabalhadores passaria por: 1) convencer as pessoas de que BC vai buscar trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) ou 2) provocar uma desaceleração econômica que leve a um aumento do desemprego. "Nenhuma dessas alternativas está sendo buscada", afirmou. "A conclusão, portanto, é de que a inflação não vai desacelerar."

Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,59% em 12 meses. O centro da meta do BC é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Essa alta acumulada, no entanto, deve ceder até o fim do ano, para 5,71%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta semana pelo BC.

"É provável que as empresas voltem a negociar abaixo da inflação", disse o gerente sênior da área de Gestão de Capital Humano da Deloitte, Fábio Mandarano. Segundo ele, as empresas vão buscar compensar um reajuste menor com aumento, por exemplo, na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). "Porém, com certeza vamos ter um acirramento das tensões."

O economista Fabio Romão, da LCA, concorda. Segundo ele, o rendimento médio real dos trabalhadores deve cair neste ano por causa da pressão inflacionária e do menor ganho real do salário mínimo. Ele lembrou que o mínimo cresceu 2,7% neste ano ante expansão de 7,5% em 2012.

O sociólogo e professor de Relações do Trabalho na USP, José Pastore, disse que as negociações salariais neste ano vão ser "duras". Ele explicou que as últimas discussões terminaram em aumento expressivo dos salários porque o Brasil vive um tempo de falta de mão de obra. "Quando falta mão de obra, os sindicatos têm mais poder de barganha."

Já o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, tem uma perspectiva mais otimista, de que as negociações coletivas melhorem ano a ano. Ele citou, por exemplo, que 95% das categorias tiveram aumento acima da inflação em 2012.

Fonte: O Tempo (MG)

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