O ex-presidente Lula se arrependeu de ter antecipado o lançamento da candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Isso foi em fevereiro, na comemoração do aniversário de 10 anos do PT no governo, quando o trajeto para 2014 parecia uma avenida livre para o passeio da presidente.
À época, Lula sentia-se muito pressionado a ser novamente candidato. Dilma batia recordes de popularidade nas pesquisas de opinião, mas na contramão das sondagens o "Volta, Lula" corria solto entre os partidos da base aliada do governo, inclusive, e talvez especialmente, no PT.
Para acabar com esse "Volta, Lula" é que o ex-presidente teria se sentido na obrigação de reafirmar que Dilma era a candidata. E foi esse fato, segundo Lula hoje reconhece, que precipitou a corrida eleitoral. Lula diz aos mais próximos que acabou "involuntariamente" acelerando o processo sucessório (há quem diga que foi Dilma, incomodada com o queremismo dos aliados, é que teria pedido uma sinalização mais efetiva do ex).
Serra divide PSDB indo para o PPS à espera de 2014
O que não há dúvida é que Lula acelerou o processo sucessório. Ao lançar a candidatura de Dilma à reeleição com tanta antecedência, Lula forçou os adversários também a se movimentar e a alinhar suas peças no tabuleiro. Ele tirou da toca, por exemplo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que só pretendia mover seus peões no início de 2014.
O PSDB também adiantou o relógio da candidatura de Aécio Neves, hoje em campanha presidencial aberta e tão clara quanto a de Dilma Rousseff. O único ponto positivo da antecipação da candidatura de Eduardo Campos, sob a ótica do PT, talvez tenha sido jogar Aécio Neves um pouco mais para a direita. É um ponto de vista a ser conferido. Aécio parece com o nome inteiramente consolidado no PSDB, apesar dos sinais emitidos por José Serra, nos últimos dias, de que pensa em participar da campanha, pela terceira vez.
Serra, na realidade, nunca escondeu de ninguém que avalia ainda ter "muito o que fazer" pelo país. Tradução livre: nunca deixou de ser candidato. O problema é que o nome da vez no PSDB é o de Aécio. Mesmo os aliados de Serra na direção partidária, todos situados em postos-chaves, têm se alinhado e trabalhado em função da candidatura Aécio.
Serra entrou em hibernação, após as eleições municipais de 2012. Despertou com as manifestações do outono, mas uma pesquisa feita pelo "Paraná Pesquisa - especialista em opinião pública" é que o deixou definitivamente animado em relação à disputa eleitoral de 2014. Pesquisa realizada, aliás, numa semana de grande intensidade dos protestos.
Em geral, os números de Serra são melhores que os de Aécio Neves, o que deve ser debitado na conta do "recall" do tucano, duas vezes candidato a presidente, uma a governador e outras duas a prefeito, desde 2002. Mas foram os índices que obteve no Sul do país que despertaram sua atenção: Serra venceria a eleição no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, se a eleição fosse hoje.
Avaliações feitas para grandes grupos empresariais por institutos especializados indicam que três nomes saíram perdendo após os protestos de junho: Dilma Rousseff, por ser a número um, a presidente da República; Lula, por ser indissociável de Dilma e Aécio, por não ter crescido na crise, apesar de toda a exposição que teve nos programas de rádio e televisão do PSDB.
De acordo com as mesmas avaliações, os principais beneficiários seriam Marina Silva (Rede Sustentabilidade), talvez a melhor e mais suave tradução das ruas de junho, e Serra, para quem tem medo do caos. Para entender Serra é preciso colocar-se em seu lugar: o tucano sempre quis ser presidente da República. Aos 71 anos, a eleição de 2014 deve ser sua última oportunidade. Serra, no entanto, não tem partido - o PSDB está majoritariamente com Aécio - a seu lado e necessariamente precisa tomar uma decisão até o final de setembro (um ano antes das eleições de outubro).
O caminho natural é o PPS, que já lhe ofereceu legenda para 2014. Se não fizer esse trajeto, Serra tem data de vencimento: setembro. Filiando-se ao PPS, assegura um palanque para continuar na disputa. É certo que o PPS tem pouco tempo de televisão, mas isso somente será importante a partir de 15 agosto do próximo ano, quando começar o horário eleitoral gratuito, a campanha propriamente dita.
Por menor que seja o tempo de rádio e TV do PPS, ele será maior que o do PV de Marina Silva em 2010. A candidata verde, como se recorda, teve quase 20 milhões de votos. Abrigado no PPS, Serra pode atrair o apoio do PV, partido com o qual mantém boas relações, e de outras siglas atualmente aliadas do governo, mas que podem se desgarrar de Dilma, se a presidente não recuperar terreno ou continuar a perder pontos na aprovação popular.
Neste momento, o panorama visto da ponte do PT não deixa de carregar uma certa ironia: a entrada de Serra é vista como algo bom para a candidatura de Dilma, pois dividiria o PSDB, partido que, por sua estrutura, tradição e tempo de rádio e televisão seria o real adversário do governo nas eleições. Serra é, para Aécio, o que Eduardo Campos é hoje para Dilma: a divisão do campo adversário.
A candidatura do governador de Pernambuco é perigosa para Dilma Rousseff porque divide a base aliada do governo e tem potencial de crescimento. Mas no momento é provável que o próprio Eduardo Campos não saiba o que vai fazer exatamente em 2014. Ele pode apoiar Dilma no segundo turno, se esse cenário se configurar na eleição?
Antes de pensar em Campos, no entanto, a presidente deve começar a pensar no PT, onde tem sido até mais criticada que em outros partidos da base. Não é à toa que o nome do deputado Ricardo Berzoini começou a ser falado para presidente do partido, nas eleições de novembro, quando a reeleição de Rui Falcão já está acertada por Lula, Dilma e as tendências.
Lula também demonstra preocupação. Ele sugeriu a Dilma enxugar o ministério e mudar a equipe econômica. Acha que Guido Mantega e companhia já deram o que tinham que dar.
Fonte: Valor Econômico
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