O poder de apelo das redes sociais é fenômeno novo, que não é brasileiro, é mundial. Para ficar no exemplo mais conhecido, a Primavera Árabe também foi organizada via internet. O que cabe fazer, sim, é perguntarmos por que as pessoas atendem a esses chamados das redes.
Tenho uma história de participação no passado, de luta sindical, e me lembro dos convites do tipo “você aí parado, também é explorado!” As pessoas viam as manifestações, mas não aderiam. E agora, de certa forma, estão aderindo. A mudança tecnológica cria mudanças por toda parte e não podemos deixar de atentar para esse mundo novo, saber o que ele representa.
Esse fenômeno se mescla com outro que cabe considerar – uma forte revisão da historiografia que, nas últimas décadas, faz uma reavaliação da história do Brasil. Algo que ocorre também na França, na Inglaterra. Contos da carochinha, como o “descobrimento” do País, ou uma independência feita por um herdeiro da Coroa portuguesa que levantou a espada e gritou “independência ou morte”, têm sido vigorosamente contestados. Talvez se possa dizer que o Brasil que vai às ruas quer acabar com as histórias da carochinha – as de antes e de agora.
Com ajuda dessa nova historiografia, o País vem construindo um processo que vai contra a maré do tipo “ter vergonha de ser brasileiro”. Ele ganha espaço, como os outros emergentes, no cenário internacional.
Não acho que daqui a 30 anos essas redes sejam vistas como o grande fenômeno do começo do século 21. Mas elas vieram para ficar, e isso não podemos deixar de considerar. É preciso entender não só seu significado mas como elas podem ajudar a melhorar as condições do povo. Elas informam que a política está entrando na vida das pessoas.
Maria Aparecida de Aquino, professora do Departamento de História da USP
Fonte: O Estado de S. Paulo
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