Raquel Ulhôa e Letícia Casado – Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em inserção partidária nacional que começou a ser veiculada ontem à noite no rádio e na televisão, o PT tenta despertar na população - beneficiada por medidas adotadas em seus mais de 11 anos de governo - o medo de perder tudo o que conquistou, se a presidente Dilma Rousseff não for reeleita. O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), considerou a propaganda "desespero" e "tiro no pé". O presidenciável tucano Aécio Neves disse tratar-se de "ato de um governo que vive seus estertores".
Durante um minuto, com fundo musical e narração em tom dramático, são exibidas imagens de famílias em situações de contraste. Uma mãe com bebê no colo compra remédio e, fora da farmácia, a mesma mulher com seu bebê mal vestidos, sem acesso a medicamentos. Um estudante vê sua figura no papel de flanelinha. Uma família passeia de carro pelo campo e se depara com os mesmos personagens sendo expulsos da área rural. Pais e filhos tomam sorvete e são observados pelos mesmos atores, parecendo famintos. Um homem bem vestido esbarra no mesmo ator, maltrapilho. Ele olha com medo, assim como os demais.
Durante as cenas, ouve-se a voz do ator Antonio Grassi, dizendo: "Quando a gente dá um passo para a frente na vida, temos que preservar o que conquistou. Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com tanto esforço. Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvido a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".
Em campanha por Dilma, o PT adota a mesma estratégia usada pelo PSDB na campanha de 2002, em propaganda partidária na qual a atriz Regina Duarte aparecia dizendo ter medo de a estabilidade econômica acabar e da volta da inflação desenfreada, se o então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva vencesse o tucano José Serra. O PT ganhou.
"A gente vai obrigar eles a falar quais são as medidas impopulares. É esse o caminho, essa vai ser a toada daqui para frente: chamar para a realidade", disse um interlocutor da presidente, fazendo menção às propostas na área econômica dos pré-candidatos do PSDB e PSB.
Campos teve reação mais forte que Aécio. Em Brasília, após presidir reunião da executiva nacional do partido, afirmou ser "desespero" e "tiro no pé". À tarde, o site do PT pôs link para o que definiu como "vídeo emocionante". "É uma atitude completamente equivocada do ponto de vista político e histórico. Esse mesmo tipo de discurso foi muito utilizado contra o PT e o presidente Lula. Lamento que se parta para esse tipo de argumentação. Vejo certo desespero no que está sendo colocado". Para Campos, "vai ser um grande tiro no pé. Os que imaginam que vão colocar medo vão encorajar o povo a tirar a presidente inclusive do segundo turno".
Aécio disse ser "triste ver um partido que não se envergonha de assustar e ameaçar a população para tentar se manter no poder". Para o senador tucano, o comercial "é o retrato do que o PT se transformou e o espelho do fracasso de um governo que, após 12 anos de mandato, só tem a oferecer medo e insegurança, porque perdeu a capacidade de gerar confiança e esperança". Afirmou ser "ato de um governo que vive seus estertores".
Durante a reunião do PSB Campos afirmou estar preparado para enfrentar "um jogo mais duro" na campanha a partir de agora. Ele prevê que o PT vai intensificar a campanha para tentar desconstruir as candidaturas da oposição. "O jogo está apenas começando e vai ser mais duro a partir de agora, mas estou preparado", disse, segundo o senador Antônio Carlos Valadares (SE).
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), pré-candidato a governador do Distrito Federal, afirmou ter ficado "chocado" com o vídeo. "É um retrocesso. É uma demonstração de medo. O PT demonstra, com aquele vídeo, que está morrendo de medo de perder a eleição. E vai perder."
Os dirigentes do PSB negaram ter tratado das divergências com o Rede Sustentabilidade - da candidata a vice, Marina Silva - para formação de alianças nos Estados. As principais divergências são em Minas Gerais e São Pauto. Segundo Campos, presidente do partido, quando não houver consenso, os candidatos "serão escolhidas pelo voto". Ficou definido o dia 28 de junho como data do congresso nacional do partido. A convenção será no dia seguinte, 29. Há dúvida quanto ao local. O Rio de Janeiro é a primeira escolha, mas estão sendo avaliados São Paulo e Brasília.
Na parte da manhã, Campos participou de dois eventos na zona sul da capital paulista. No primeiro - um encontro com empresários do setor de gás natural, promovido pela Abegás, associação das distribuidoras -, atacou a política energética do governo Dilma e disse que falta um planejamento de longo prazo para o setor.
O presidenciável não explicou, porém, como este planejamento deve ser feito e nem apresentou propostas para mudar a atual política energética do país. Ele disse que o setor parece um "filme de terror" e que foi ao encontro "fazer o que o governo não faz": escutar as demandas sobre o tema.
Entre os pontos levantados por palestrantes e convidados estavam a desoneração da cadeia tributária na produção e em equipamentos; a necessidade de redução da dependência da Petrobras na exploração do gás natural; a desverticalização do transporte de gás natural; e um planejamento para o sistema energético com políticas claras.
No segundo evento - um encontro de lojistas de shopping centers -, Campos falou sobre política. Disse que o PSB não descarta a possibilidade de lançar candidato próprio ao governo de Minas e que a indefinição da coligação é natural: "Este é um debate que tem data para terminar, que é a convenção do partido". (Colaborou Bruno Peres)
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