• Derrotados por rivais apoiados pela presidente, congressistas pressionam por mais diálogo e espaço na reforma ministerial
• Entre os magoados com o governo estão o atual presidente da Câmara, Henrique Alves, e o senador Lobão Filho
Gabriela Guerreiro, Márcio Falcão
BRASÍLIA - Eles são aliados da presidente Dilma Rousseff, pertencem a partidos da base de apoio do governo federal no Congresso, mas não digeriram o comportamento do PT e do Palácio do Planalto nas eleições deste ano.
Um grupo de congressistas, a maioria do PMDB, forma um "exército" de magoados com o governo, com potencial para dificultar a vida da petista no início de seu segundo mandato no Planalto.
Os deputados e senadores não admitem oficialmente a irritação, mas nos bastidores disparam contra Dilma e o ex-presidente Lula.
A principal crítica é o que chamam de "traição petista" diante das alianças com os seus principais adversários nas eleições estaduais, das quais saíram derrotados.
Descontentes, reforçam a ameaça de rebelião para pressionar o governo a dialogar mais e ampliar o espaço de suas legendas na mudança ministerial.
Outra demanda é a ampliação de verbas do Orçamento para seus redutos políticos.
É o caso de Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado, que não engoliu o apoio de Dilma ao candidato que acabou vencedor ao governo do Ceará, Camilo Santana (PT). A irritação começou quando o Palácio do Planalto patrocinou a candidatura do petista por ser aliado do governador Cid Gomes (Pros), desafeto de Eunício.
Por meses, o Planalto pressionou o peemedebista a sair do páreo, mas Eunício foi em frente e se aliou ao PSDB no Estado, que elegeu Tasso Jereissati (PSDB-CE) ao Senado.
Eunício, porém, sustenta que se manteve fiel ao apoio a Dilma, sem declarar voto em Aécio Neves (PSDB), adversário da presidente. "O governo vai ter que dialogar mais. Não tem como sair sem atrito de um processo político complexo", afirmou.
Muitos palanques
O excesso de aliados também irritou o petista Lindbergh Farias, que dividiu o apoio da presidente Dilma com os adversários Marcelo Crivella (PRB), Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Anthony Garotinho (PR) na disputa pelo Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro.
Antes do início da campanha, o PT tentou forçar um recuo de Lindbergh, mas o petista manteve o seu nome e acabou em quarto lugar no primeiro turno.
O grupo de insatisfeitos também inclui o senador Lobão Filho (PMDB), derrotado ao governo do Maranhão. Como os petistas são aliados do PC do B de Flávio Dino --que derrotou o peemedebista e foi eleito governador--, Lobão Filho atribui parte de sua derrota à falta de empenho da presidente.
"Essas mágoas existem. Todos têm as suas. A presidente não gravou para mim, não veio aqui. Faz parte do jogo, eu pessoalmente não fiquei magoado com ela. Mas é preciso que o governo dê valor ao seu Congresso para que ela possa governar", afirmou.
Alguns aliados deram o tom do comportamento dos "magoados" já na primeira semana de atividade do Congresso depois das eleições, como o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Sob seu comando, os deputados derrubaram o decreto presidencial que vinculava decisões governamentais de interesse social à opinião de conselhos e outras formas de participação popular.
Derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, Alves disse que já "deletou" o apoio que o ex-presidente Lula deu a seu adversário, mas não esconde de interlocutores a insatisfação.
O PMDB também lançou Eduardo Cunha (RJ), desafeto do PT, como candidato para comandar a Câmara dos Deputados. A ala mais rebelde da sigla não descarta, no Senado, lançar como candidato à Presidência da Casa um nome menos alinhado com o Planalto --embora nos bastidores o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) trabalhe por sua reeleição.
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