César Felício - Valor Econômico
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer procura manter o controle sobre o PMDB, em meio à ressaca eleitoral provocada pela derrota de diversas lideranças do partido e da consolidação da candidatura à presidência da Câmara do líder da bancada de deputados, Eduardo Cunha. Temer, que é presidente nacional do PMDB, convocou uma reunião do conselho político da sigla no próximo dia 5 oficialmente para discutir a reforma política. O encontro, entretanto, deve formalizar o projeto de candidatura presidencial própria em 2018.
"A hora é agora, se depender de mim. Precisamos tirar uma diretriz porque uma candidatura não se constrói em menos de três anos e nem abrindo um leque de candidatos. E o conselho é instância habilitada para tratar disso", afirmou o senador Valdir Raupp (RO), primeiro vice-presidente da sigla e ligado a Temer.
Ao acenar com a perspectiva de concorrer na eleição presidencial de 2018, para a qual o partido não conta com nenhum nome viável por enquanto, Temer sinaliza que o PMDB tentará negociar seu espaço na reforma ministerial em uma posição de força, o que agrada a ala insatisfeita com o governo. A pretensão de Cunha não deve ser confrontada. "Esta coisa do Cunha não ter o aval da cúpula do PMDB para postular a presidência da Câmara está no campo da especulação", disse Raupp.
A relação entre Temer e Cunha ficou estremecida durante a campanha eleitoral quando o líder do PMDB na Câmara disse, no dia 16 durante entrevista ao portal UOL, que dificilmente Temer conseguiria continuar conduzindo o partido caso a presidente perdesse a reeleição. A declaração irritou o vice, que disse que, por esta lógica, Cunha teria dificuldades em permanecer como líder e ser presidente da Câmara, caso Dilma se reelegesse. Durante a eleição, em que Temer figurou com destaque na chapa, Cunha declarou-se formalmente neutro.
O PMDB acumulou derrotas estaduais na eleição, em que Temer conseguiu manter a coligação com o PT com 43% dos votos contrários na convenção da sigla. Perderam a eleição local os senadores Romero Jucá (RR), Jader Barbalho (PA), Eunicio Oliveira (CE), Roberto Requião (PR); o ministro de Minas e Energia Edison Lobão MA), o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), entre outros. O processo deixou sequelas e aumentou a pressão dos dirigentes sobre o vice-presidente.
"O PMDB precisa se reciclar. Tem que estar unido para ascender, não para ser rebaixado. O partido precisa se sintonizar com a aspiração popular e o que vimos foi um processo eleitoral acirrado, com alto nível de abstenção. Quem classifica a candidatura do Eduardo Cunha como um movimento de oposição ao governo erra. Ele expressa a bancada. O vice-presidente sabe que o PMDB transcende o mandato de Dilma", disse o senador Romero Jucá, terceiro-vice-presidente, cujo filho foi derrotado como vice-governador.
O primeiro estremecimento entre o PMDB e o governo aconteceu no própria dia da reeleição de Dilma. No discurso da vitória, a presidente relançou a tese de plebiscito para a reforma política, cujo rechaço é consensual dentro do PMDB. A sigla reagiu, trabalhando para a aprovação do projeto que revoga o decreto presidencial sobre conselhos populares na administração pública.
Em seguida, Henrique Eduardo colocou na agenda da Câmara um projeto de reforma política que ignora as sugestões do Planalto. Em paralelo, Cunha foi reconduzido à liderança da bancada na Câmara sem contestações. "Nós já respondemos e não se pode ficar em uma relação de tapas e beijos. A bola está com a Dilma", disse Jucá.
A questão da reforma ministerial é outro ponto que eleva a pressão do partido contra Temer. Os dirigentes da sigla veem com desagrado a possibilidade do vice-presidente definir diretamente com Dilma quais serão os novos integrantes do PMDB que irão compor o ministério.
"Nós temos diversas situações regionais em que espaços de convivência precisam ser construídos. Na Bahia perdemos para o PT. No Rio Grande do Norte, perdemos para uma aliança integrada pelo PT, em que foi rompido um pacto de neutralidade. É preciso acomodar o poder a essa nova realidade", disse o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que perdeu a eleição para o Senado na Bahia, aliado ao DEM e ao PSDB. Geddel é primeiro-secretário do partido.
Um dos nomes do PMDB cotados para o ministério é o do deputado Eliseu Padilha (RS), em fim de mandato. Padilha liderou uma dissidência no PMDB gaúcho a favor da reeleição de Dilma. No Estado, a maioria do partido apoiou a candidatura de Marina Silva (PSB) à Presidência e no segundo turno fechou com Aécio Neves (PSDB). Padilha é visto como um nome da cota pessoal de Temer, que já conta no ministério com o titular da Aviação Civil, o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco. A bancada de deputados na Câmara no momento não tem representantes no ministério. A do Senado controla as pastas de Minas e Energia e Turismo.
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