segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Sucessão no Rio deve envolver sete partidos

• No PMDB, prefeito Eduardo Paes trava disputa com Jorge Picciani para emplacar o candidato da legenda

Juliana Castro e Leticia Fernandes – O Globo

Rumo a 2016
Uma semana depois do fim das eleições, já está aberta a corrida para a prefeitura do Rio. Ao menos sete partidos estão dispostos a lançar nomes para concorrer ao cargo em 2016: PMDB, PT, PSOL, PSB, PR, PRB e PSDB.

No PMDB, há uma briga entre o prefeito Eduardo Paes e o presidente regional do partido, Jorge Picciani, para indicar o candidato que sucederá Paes. O prefeito aposta todas as fichas na candidatura do deputado federal Pedro Paulo, e Picciani quer lançar o filho, Leonardo. Paes e Picciani apoiaram a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão, mas estiveram em lados opostos da campanha presidencial: o prefeito apoiou Dilma Rousseff (PT), na linha de frente do "Dilmão", e o presidente do PMDB fluminense coordenou o "Aezão", que fez campanha para Aécio Neves (PSDB).

- É legítimo que as pessoas queiram colocar seu nome, mas, aos poucos, o partido vai entender majoritariamente que (é importante que) seja um nome colocado pelo prefeito. Mas, como não quero meu cafezinho frio nem minha cerveja quente, quanto mais eu puder adiar esse processo, melhor. Meu nome está colocado, é o candidato Pedro Paulo - afirmou ao GLOBO Eduardo Paes.

O prefeito nega brigas internas com Picciani.

- O Pedro Paulo é uma espécie de primeiro ministro do meu governo. Tenho certeza de que é isso que a Dilma e Pezão desejam. Vamos todos nos entender direitinho - disse.

A incógnita entre os peemedebistas é o comportamento do ex-governador Sérgio Cabral na queda de braço entre o prefeito e Picciani.

- Essa discussão não está no momento de acontecer. O PMDB é um partido democrático, quem quiser ser candidato que vá ao partido no momento apropriado e inscreva o desejo - afirmou Leonardo Picciani, destacando suas quatro eleições para deputado federal e sua experiência como secretário estadual de Habitação:

- Pela minha experiência no PMDB, posso ser candidato. Teve gente que passou por cinco ou seis partidos. Às vezes, a circunstância leva a isso, mas sempre fui do PMDB - disse Leonardo. Paes já passou por cinco partidos, incluindo o PMDB.

Nos bastidores, especula-se ainda que, se Paes sair perdendo na disputa interna do PMDB, pode se abrigar em outro partido, o que o prefeito nega. O PDT é o mais citado entre aliados. O presidente nacional do partido, Carlos Lupi, contou que, em 2002, intermediou uma conversa entre Paes, que estava no PSDB, e Leonel Brizola. Mas não prosperou a tentativa de trazer o então tucano para o PDT.

- Se ele tiver dificuldades no PMDB, eu serei o porteiro para abrir as portas para ele no PDT - afirmou Lupi.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Paulo Melo, que, assim como Paes, apoiou Dilma no estado, disse que Picciani é um "brigador", mas que prevalecerá o projeto político do PMDB de permanecer no poder. Segundo ele, Paes sairá da prefeitura com os mais altos índices de aprovação, o que o dará credencial para que brigue de igual para igual com o presidente do partido:

- Picciani tem credencial para defender os interesses dele, mas o Eduardo vai sair com um dos maiores índices de popularidade de um prefeito de capital, e isso tem que ser levado em conta. Ele (Paes) tem legitimidade de iniciar conversas dentro do PMDB. No final, prevalece o interesse que a política do PMDB continue se solidificando no Rio. A corda estica, mas ninguém pega a faca para cortar - resumiu Paulo Melo.

PT entre Adilson Pires e Alessandro Molon
Não é só no PMDB que haverá disputa interna. O vice-prefeito do Rio, Adilson Pires (PT), já afirmou que quer ser candidato à sucessão de Paes. Seu nome, no entanto, não é unanimidade no PT. Dentro do partido, circula ainda a possibilidade de uma candidatura do deputado federal Alessandro Molon, que disputou a prefeitura em 2008.

- Nessa história de 2016, teremos que buscar um acordo partidário - afirmou Adilson, demonstrando contrariedade com a declaração do presidente estadual do PT, Washington Quaquá, que defendeu o nome do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) para a prefeitura do Rio: - O que o Quaquá colocou não tem correspondência com a realidade, não é uma posição do PT. Quem conhece o PT do Rio sabe que essa não é uma possibilidade.

Apoio de PT a Marcelo Freixo, do Psol, é pouco provável
No PSB, Romário surge como nome mais forte após vitória no Senado

Dentro do PT, foi cogitada uma aliança com o PSOL, que vai lançar Freixo para o páreo. Mas membros do partido negam essa possibilidade, acusando os petistas de estarem "alinhados demais" com o governo do PMDB.

- Teve essa conversa (com o PT), mas acho quase impossível (o PT apoiar o Freixo). Exatamente porque o PT é vice do Eduardo Paes, tem lá os deputados falando que vão apoiar Pezão. Eles não têm nada a ver com a política do PSOL. Há um descolamento total do que nós chamamos de política com "P" maiúsculo - afirmou o deputado estadual eleito Eliomar Coelho

Entre os tucanos, o nome cogitado é o do deputado federal Otávio Leite, que disputou o cargo em 2012. Já no PSB, o nome de Romário é tido como o mais forte para concorrer em 2016. Depois de desentendimentos com o partido, socialistas pretendem reatar laços com o novo senador, eleito com 4,6 milhões de votos. O deputado Glauber Braga disse que Romário é valorizado no partido, e que o PSB se unirá em torno de seu nome:

- É um nome forte, tem por parte do PSB um entendimento do seu valor como liderança, como senador eleito com votação expressiva. O diálogo será feito, o PSB vai procurar ter uma relação positiva com ele.

Crivella e Clarissa lembrados
O senador Marcelo Crivella (PRB), derrotado na disputa pelo Palácio Guanabara, também cogita entrar na disputa. No segundo turno, ele foi apoiado por Anthony Garotinho (PR), que deve lançar a filha, a deputada federal eleita Clarissa Garotinho. A aposta de membros do PR é que, com as desavenças internas no PMDB, haja um espaço que poderá ser preenchido por Clarissa, segunda candidata à Câmara mais bem votada do Rio.

- Ela foi a mais votada do partido. O PMDB está muito hegemônico no Rio, e isso vai causar uma briga interna. Pode ser que, nesse meio, caiba ela - afirmou um interlocutor do partido.

Quem são os candidatos
Adilson Pires (PT)
Vice-prefeito do Rio, quer concorrer em 2016, apesar de não haver consenso. Alessandro Molon, reeleito deputado federal, concorreu à prefeitura em 2008. Como não há consenso em torno de Adilson, é lembrado nos bastidores.

Clarissa Garotinho (PR)
É o nome mais forte do partido para concorrer à prefeitura. Em 2012, foi vice na chapa de Rodrigo Maia (DEM) à prefeitura.

Marcelo Crivella (PRB)
O senador foi derrotado no segundo turno das eleições para governador do Rio. Foi candidato a prefeito em 2008.

Marcelo Freixo (PSOL)
É unanimidade dentro do partido. Foi o deputado estadual mais votado do Rio neste ano e concorreu à prefeitura em 2012.

Otavio Leite (PSDB)
O tucano, deputado federal reeleito, cogita disputar a prefeitura em 2016, mas também não é consenso no PSDB. Disputou o cargo em 2012.

Pedro Paulo (PMDB)
É o nome de Eduardo Paes. Foi deputado estadual e se reelegeu deputado federal. Leonardo Picciani é a opção de Jorge Picciani. Foi eleito deputado por quatro vezes consecutivas e secretário de Habitação do ex-governador Sérgio Cabral.

Romário (PSB)
Senador eleito pelo Rio é o nome mais forte de seu partido.

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