segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ricardo Noblat - Não, eles não podem. Ou podem?

- O Globo

"Dilma sabia. "
Dizeres da faixa que abriu, anteontem, em São Paulo, a passeata de três mil pessoas contra o governo Dilma.

Deu a louca no PSDB quando pediu à Justiça uma auditoria nos resultados da recente eleição presidencial. A razão do pedido? Rumores nas redes sociais sobre eventuais fraudes aqui e acolá. Nada mais do que rumores. Convenhamos: é pouco, quase nada, para que se lance suspeição sobre o processo eleitoral. Ou há fatos concretos que justifiquem uma auditoria ou tudo não passa de choro de mau perdedor. (Pág. 2)

ISSO NÃO SIGNIFICA que a eleição deste ano esteja destinada a passar à História como uma rara demonstração de exuberante maturidade da democracia brasileira. Longe disso. Foi uma eleição particularmente suja e desigual, onde quem detinha o poder tudo fez para não abrir mão dele. E acabou se dando bem. Dilma, Lula, o PT e a Justiça Eleitoral são responsáveis por uma inesquecível lambança. Confira.

INTIMIDAÇÃO OU um "liberou geral"? "Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição." Dilma, em um ato falho (04/03/2013). Isso pode? Não, não pode... Mas pode. Ameaça? "Eles não sabem o que nós seremos capazes de fazer, democraticamente, pra fazer com que você seja a nossa presidenta por mais quatro anos neste país". Lula, para Dilma (13/ 06/2014). Isso pode? Não, não pode... Mas pode.

USO DA MÁQUINA pública? "Os Correios trabalharam com as 66 mesorregiões. Fizemos reuniões em todas e nas macrorregiões. Lá em Viçosa, nós tínhamos 70 cidades e por aí, onde eu estive perto, eu fui acompanhando. A Dilma tinha em Minas Gerais , em alguns momentos, menos de 30%. Se hoje nós estamos em 40% em Minas, tem o dedo forte dos petistas dos Correios ." Durval Ângelo, deputado estadual do PT de Minas. Isso pode? Não, não pode... Mas pode.

E O TRIBUNAL Superior Eleitoral (TSE)? Por que não testou as urnas? "Apesar de reconhecer que os testes de segurança das urnas eletrônicas fazem parte do conjunto de atividades que garantem a melhoria contínua deste projeto, o TSE não fez nenhum antes das eleições de outubro. Desde 2012, aliás, o tribunal não expõe seus sistemas e aparelhos à prova de técnicos independentes." (O Globo, 04/06/ 2014) Isso pode? Não, não pode... Mas pode.

POR QUE MUDOU a postura do TSE? No primeiro turno, em que a campanha de Dilma estraçalhou Marina sem que ela revidasse na mesma moeda, o TSE deixou correr solta a pancadaria. No segundo, Dilma repetiu a dose contra Aécio. Assim que ele começou a revidar, o TSE interveio. E decidiu: dali por diante, só valeriam mensagens "propositivas". Isso pode? Não, não pode... Mas pode.

E DAÍ? O TSE proibiu telemarketing em campanhas eleitorais. Certo? Depende. Milhões de SMS foram enviados contra Aécio, com mensagens que beiraram a injúria, a calúnia e a difamação, além de chantagem e intimidação explícitas envolvendo os programas Bolsa-família, Minha Casa, Minha Vida, e outros. A ação revoltou internautas, que postaram sem parar imagens das mensagens recebidas em seus celulares. Isso pode? Não, não pode... Mas pode.

FOI MAL? Um ministro do TSE proibiu uma consultoria financeira – privada! – de fazer propaganda de seus rela tórios de análise em espaços – privados! – na internet. Isso pode? Não, não pode. O pleno do TSE, com a participação dos demais ministros, revogou a proibição. Poucos dias depois, o mesmo TSE proibiu a revista VEJA de anunciar sua edição semanal, como costuma fazer, em rádios, televisões e outdoors.

POSSO ESCREVER sem receio o que escrevi até aqui? Acho que posso... Mas talvez não possa. Sei lá. A ver.

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