Até o Pré-sal entra no ajuste
• Para sanear finanças e reduzir endividamento, Petrobras pode buscar sócios e "compartilhar riscos"
Bruno Rosa, Ramona Odoñez e Rennan Setti – O Globo
Escândalos em série
Depois de finalmente publicar seu balanço auditado de 2014, a Petrobras agora entra na fase dos ajustes para sanear as finanças. A ideia é reduzir seu elevado nível de endividamento e gerar receita rapidamente. E, nesse contexto, pode entrar até parte das áreas da camada do pré-sal em exploração, a menina dos olhos da companhia. Em teleconferência de apresentação das demonstrações financeiras a analistas do mercado, Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, admitiu a possibilidade de vender participações em ativos do pré-sal, buscando sócios para "compartilhar riscos".
- Não vamos fazer desinvestimentos em ativos do pré-sal. Mas estamos olhando com atenção alguns ativos, e não importa se é pré-sal ou pós-sal, e se podemos compartilhar riscos. Nós estamos buscando trabalhar com projetos iguais e padronizados. Se olharmos e descobrirmos que há possibilidade em um projeto que está no início e que vai demandar investimentos crescentes, estamos avaliando oportunidade de investimento - afirmou Solange. - Muitas empresas têm interesse em se associar à Petrobras e se aproximar da Petrobras para carregar investimentos. Estamos, sim, conversando com empresas para ter desoneração no capex (investimento) via parcerias.
Na teleconferência de ontem, os analistas se mostraram mais preocupados em cobrar resultados futuros - ao contrário do que se esperava, nada se falou sobre o esquema de corrupção na estatal, que levou a baixas contábeis dos ativos no valor de R$ 50,8 bilhões e a um prejuízo de R$ 21,6 bilhões em 2014. Solange destacou a importância de se concentrar em projetos que deem um retorno mais rápido:
- Há um foco no retorno de curto prazo. Como exemplos dessa estratégia, estamos postergando projetos de baixo retorno ou que demandem investimento inicial prolongado, focando nossa carteira em ativos de baixo risco.
Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobras, frisou que a prioridade é reduzir o nível de endividamento da companhia, que fechou 2014 em R$ 282,1 bilhões, maior que os R$ 221,6 bilhões de 2013:
- A diminuição da alavancagem (relação entre endividamento total líquido e geração de caixa) é uma prioridade. O investimento já está sofrendo uma redução expressiva de 37% para 2016 (para US$ 25 bilhões). Já o programa de desinvestimento é conduzido de forma confidencial. Mas essa será uma premissa importante para desalavancar a empresa. O novo Plano de Negócios vai ser um conjunto harmonioso dessas decisões.
Agências mantêm nota da estatal
O Plano de Negócios 2015-2019 será divulgado em 30 dias. Luciana Nazar, da GO Associados, acredita que a venda de ativos da estatal - de US$ 13 bilhões até 2016 - trará alívio para o endividamento.
- As agências já rebaixaram a nota da Petrobras recentemente e deverão esperar um pouco antes de fazer outra avaliação. O endividamento da empresa é alto, mas cerca de R$ 79 bilhões são com bancos públicos federais - disse.
Ontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s informou que manteve a nota (BBB-, grau de investimento, mas apenas uma acima do nível especulativo) e perspectiva negativa para a empresa, o que significa que pode rebaixá-la a médio prazo. Segundo a agência, a divulgação do balanço já fazia parte do cenário traçado, mas continuam as preocupações com a capacidade de elevação da produção e possíveis multas devido à corrupção. A Moody"s, que já tirou o selo de bom pagador da Petrobras, também não viu motivos para alterar a nota Ba2 - a dois degraus do grau de investimento.
Em relatório, o analista do Credit Suisse Andre Sobreira afirmou que os investimentos "não são baixos o suficiente" frente à geração de caixa da empresa. Já Bruno Piagentini, da Coinvalores, avaliou que a estatal enfrentará sérios desafios para reduzir sua alavancagem, uma vez que tem grandes investimentos pela frente, como o pré-sal, e sua geração de caixa não tem sido a que se esperava há alguns anos.
Para Karina Freitas, da Concórdia, o endividamento da Petrobras deve aumentar no 1º trimestre de 2015 por causa da desvalorização do real:
- Essa relação (endividamento total líquido/geração de caixa) está em 4,7 vezes, mas há o risco de superar cinco, uma razão muito preocupante. Tudo vai depender de sua geração de caixa. A companhia vinha gerando caixa com o petróleo barato, mas a valorização do dólar anulou isso.
Segundo o diretor financeiro, a estatal adotará uma política de preço dos combustíveis no país que evite a volatilidade:
- As premissas incorporam preços competitivos e de mercado.
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