• Empresário diz à CPI que área chefiada por Duque incluía propina em todos os contratos
Vinicius Sassine – O Globo
BRASÍLIA - A corrupção na Diretoria de Serviços da Petrobras era "generalizada", com a intenção de aplicação de percentual de propina em todos os contratos, segundo o empresário Augusto Mendonça Neto, presidente da Setal Engenharia, empresa que se associou à Toyo para conquistar contratos na estatal. Mendonça prestou depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras na Câmara dos Deputados, na condição de investigado.
O executivo confessou o pagamento de propinas e é um dos delatores do esquema de desvios investigado na Operação Lava-Jato. No depoimento aos deputados, contou que a propina na Diretoria de Serviços por parte da Setal oscilou entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões e na Diretoria de Abastecimento, em torno de R$ 30 milhões. Além da delação premiada, a Setal firmou acordo de leniência junto ao Ministério Público Federal no Paraná e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), perguntou ao empresário se o ex-gerente da Diretoria de Serviços Pedro Barusco exagerou ao afirmar que a corrupção era "institucionalizada" na estatal. Mendonça respondeu:
- Ele tem razão em um sentido: de fato, dentro da Diretoria de Serviços, era generalizado, porque eles queriam aplicar (o percentual de propina) sobre todos os contratos existentes. De fato era uma questão generalizada. Mas, na companhia como um todo, isso não acontecia.
Barusco também é delator do esquema e já foi ouvido pela CPI. A Justiça Federal já repatriou R$ 182 milhões desviados pelo ex-gerente.
A Diretoria de Serviços era da cota do PT. Segundo as investigações, os desvios ocorreram na gestão de Renato Duque, indicado ao cargo pelo partido. Duque está preso em Curitiba.
- Iniciou-se um processo de corrupção, de cobrança, vindo de duas diretorias, de Abastecimento (ocupada por Paulo Roberto Costa na época) e de Serviços. Essas duas diretorias só conseguiram fazer isso porque atuavam em conjunto - afirmou.
Delator confirma "clube das empreiteiras"
O empresário confirmou a existência do "clube de empreiteiras", organizado como cartel para fatiar os contratos da Petrobras, e disse que esse grupo se organizou a partir de 1997:
- O clube existiu de fato. Foi uma iniciativa das próprias empresas, durante a crise do setor na década de 90. As empresas decidiram cooperar entre si e criar uma forma de proteção entre elas - disse o empresário, para quem a ampliação do clube ocorreu a partir de 2005 e 2006, com a participação de Duque e Costa.
Segundo Mendonça, cabia a Duque pedir contribuições ao PT. Ele então procurou João Vaccari Neto, tesoureiro petista, no escritório do partido em São Paulo. O executivo afirmou ter estado com Vaccari por cerca de dez vezes.
O delator afirmou ter feito doações a "diversos" a outros partidos políticos, sem nominá-los. As doações seriam legais, segundo ele.
- Vaccari nunca me ofereceu nenhuma vantagem legal ou ilegal, ele não tinha poder de oferecer alguma vantagem - disse.
O empresário disse ter estado "algumas vezes" com o ex-ministro José Dirceu, ocasiões em que não teria tratado de questões relacionadas à Petrobras. Também citou ter estado com o ex-presidente Lula ("Conversei com todos os candidatos") e com a presidente Dilma Rousseff, mas sem discutir assuntos da estatal.
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