- O Estado de S. Paulo
O presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, em conversa com esta Coluna, admitiu nesta quinta-feira que a derrubada dos preços internacionais do petróleo teve forte impacto na viabilidade de negócios da empresa. Foi um critério importante nos “testes de impairment” que compuseram a reavaliação (para baixo) de muitos ativos que deixaram de ter sustentabilidade: “Pegou especialmente o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)”.
A revisão do programa de construção de refinarias vai deixar a Petrobrás mais dependente da importação de gasolina e, nessas condições, mais exposta às oscilações do câmbio. Esse fator traz de volta a questão do represamento dos preços internos. Bendine não admite volta a esse passado, ou seja, não conta com fortes descolamentos internos de preços. Ele garante que os preços seguirão a paridade externa, embora não como nos Estados Unidos, onde as oscilações de preços no mercado varejista são diárias.
A Petrobrás vai se concentrar no seu principal negócio, que é a exploração e produção de petróleo, mas não vai se esquecer do refino. Bendine entende que, uma vez recuperada, a empresa voltará a atrair sócios: “Já temos interessados em participar de refinarias. Mas esse projeto não é para o curto prazo”.
Como é que a Petrobrás vai se desfazer de ativos para se concentrar no seu principal foco? Bendine preferiu não dar pormenores sobre o que pretende vender, “que é para não produzir especulações”. Preferiu dizer que acredita muito na costura de “parcerias de sinergia”, como a utilização de oleodutos para instalação de fibra ótica.
O relatório da Petrobrás divulgado quarta-feira já menciona graves problemas enfrentados por empreiteiras e fornecedoras enroscadas com as investigações da Operação Lava Jato. “Temos forte ansiedade com isso. Não há remédio senão aguardar as conclusões do Ministério Público/Polícia Federal, os acordos de leniência, para, então, renegociar contratos ou buscar novos fornecedores.”
A Petrobrás não se empenha nem toma iniciativas para eventuais mudanças no marco regulatório do petróleo. “Tomamos as regras do jogo como dado de realidade e verificamos como a empresa pode se conformar com elas.” Quanto à imposição das regras de conteúdo nacional que as empresas brasileiras já não podem cumprir, Bendine reconhece que os novos preços internacionais mudaram muita coisa. No caso das sondas de perfuração, por exemplo, está “discutindo com a Agência Nacional do Petróleo alternativas”, levando em conta que as empresas brasileiras (Sete Brasil) não têm condições de produzi-las aqui.
O endividamento consolidado, que alcançou o volume inédito de R$ 351 bilhões, precisa ser reduzido. Bendine observa que as soluções não serão imediatas e que dependerão de formação de caixa e das receitas com o programa de desinvestimento.
Ele repete o que já disse exaustivamente na TV e a seus interlocutores: que a corrupção e os problemas pelos quais passou a Petrobrás “são uma mancha, são uma nódoa” que precisa agora de limpeza. “Temos agora de reconstruir e olhar para frente.”
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