Cortes de gastos são dolorosos. Seu primeiro efeito é o de privar as pessoas de benefícios aos quais já se haviam acostumado. E, se há algo que nossa espécie abomina, é a perspectiva de perda. Fazemos muito mais para evitar um sobrepreço de R$ 20 do que para obter um desconto no mesmo valor, ainda que, objetivamente, as duas operações sejam idênticas.
Daí não decorre que todos os cortes sejam iguais. Embora os prejudicados sempre reclamem, há determinadas áreas nas quais o contingenciamento de recursos provoca prejuízo muito maior que em outras. Deixar de gastar em vacinas é um bom exemplo. Há poucas ações tão eficientes em termos de custo-benefício quanto campanhas de imunização.
Na outra ponta há setores nos quais os cortes são, senão bem-vindos, pelo menos pouco destrutivos. O melhor exemplo na área pública é o dinheiro distribuído aos partidos políticos. Não digo isso porque, como boa parte da população brasileira, eu esteja um pouco irritado com nossos dirigentes, mas porque disputas eleitorais configuram uma daquelas poucas situações em que recursos adicionais nada acrescentam.
Se, na educação, por exemplo, cada real extra investido pode ao menos em teoria reverter numa melhora de qualidade, isso não ocorre em eleições. Quer os gastos combinados das campanhas atinjam R$ 1 milhão ou R$ 10 milhões, o resultado é rigorosamente o mesmo: a seleção do mais votado. E é difícil argumentar que o eleitor que assiste a um filminho de TV caprichado está melhor do que se tivesse visto uma produção mais espartana. Se os cortes no fundo partidário se dão de modo uniforme, nem sequer podemos afirmar que alguém tenha sido prejudicado.
Dilma Rousseff perdeu a rara oportunidade de fazer algo inteligente, ao não vetar o faustoso aumento das verbas do fundo partidário que o Congresso aprovou. E ainda levou olé dos caciques peemedebistas.
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