- O Globo
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, avisa que o nível de alavancagem da estatal vai subir mais no primeiro trimestre de 2015, e que é ilusão pensar que o endividamento possa cair a curto prazo. "Vamos conviver ainda com um nível de dívida acima do razoável, mas vamos conseguir uma redução gradual." Bendine diz que a Petrobras é uma "joia" e pede um voto de confiança.
O grande problema da Petrobras, neste momento, é que ela precisa continuar investindo. Por outro lado, como a dívida já está alta, ela tem pouca capacidade de se financiar. Em entrevista que me concedeu ontem, Aldemir Bendine admitiu que esse é o dilema central:
- Nosso tipo de atividade exige investimento. Sem isso, nós não conseguimos gerar caixa. Vamos investir US$ 25 bilhões, menos do que o previsto, e com o foco em Exploração e Produção, onde nosso negócio é mais rentável. Nós não temos pressão muito forte de desembolsos nos próximos cinco anos. E iniciaremos um plano de venda de ativos. Mas a realidade é que não há milagre, vamos continuar com uma alavancagem alta por um bom tempo.
Como a maior parte da dívida da Petrobras é em dólar, mesmo que ela não tomasse mais crédito, e ela está tomando, a dívida subiria no primeiro trimestre, por razões cambiais.
- No primeiro trimestre, sim, o impacto do dólar elevará a dívida. A alavancagem deve subir para 5. Para o ano, deve estabilizar, num cenário de dólar a R$ 3,30 - admitiu o presidente.
Uma relação entre a dívida e a capacidade de geração de caixa em 5 anos é mais do que os atuais 4,7 e o dobro do que é considerado normal, que é 2,5. Mesmo assim, ele diz que a empresa continua sendo financiável e conta que recebeu várias propostas de linhas de crédito. Fechou com as que não tinham custo superior ao dos Bonds :
- Recebemos autorização do conselho de administração para tomar crédito no valor de US$ 19 bilhões. Isso e o fluxo de caixa mais do que garantem as operações deste ano de investimento, sem depender do resultado da venda dos ativos. Terminaremos o ano com um caixa de US$ 20 bilhões. Estava previsto US$ 10 bilhões, mas elevamos.
Este ano, a empresa tomou empréstimos com o Banco do Brasil, Caixa e Bradesco, com um banco estatal chinês e fechou uma operação de venda e aluguel de plataformas com o banco Standard Chartered.
Bendine disse que a empresa pode monetizar vários ativos. Citou o caso da malha de gasodutos. Poderia ser vendido o espaço para uma empresa de telefonia colocar fibra ótica ao longo do gasoduto:
- Há vários ativos aqui na empresa que são intangíveis, mas que a gente pode transformar em tangíveis.
Ele não quis adiantar o que pretende vender, mas disse que a petroquímica está fora do negócio central da companhia de exploração e produção de petróleo:
- Admito que neste momento não tem atratividade, mas não queremos ficar com ativos que sangrem, que consumam caixa da companhia. Vamos fornecer a nafta, mas a valor de mercado, não estamos interessados em subsidiar a matéria-prima.
Disse que 80% dos investimentos serão em exploração e produção, a maior parte no pré-sal, que afirma ser extremamente atrativo. Explica a estratégia:
- Não vamos abrir um campo atrás do outro, os campos que já perfuramos serão explorados. Quanto maior a escala, mais o custo diminui. Há interesse internacional no pré-sal, tanto que a Shell comprou a BG atrás destes ativos. Mesmo com a queda do Brent, a exploração do pré-sal continua atrativa e nós temos uma belíssima reserva.
Bendine disse que os R$ 5 bilhões dos recebíveis de energia não foram baixa, mas provisão. E se referem a crédito contra a Eletrobras para fornecimento de óleo para termelétricas no Norte. Como no final do ano a dívida não fora paga nem renegociada, a empresa colocou em provisão, mas agora a dívida está renegociada e com garantias. O que foi colocado em provisão pode voltar para os ativos.
O presidente da Petrobras terminou a conversa em tom otimista:
- Vamos agora olhar o futuro. A Petrobras é uma joia. O que ela precisa é de um voto de confiança. Para isso estamos trabalhando forte em governança para que nunca mais volte a acontecer o que aconteceu.
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