sábado, 23 de maio de 2015

Governo anuncia cortes, mas deve aumentar gastos

Apesar do corte, gastos previstos para 2015 superam os de 2014

• Desembolsos programados são de R$ 1,1 tri e sobem de 18,7% do PIB para o equivalente a 18,9%

• No atual cenário, meta prometida pelo governo, de poupar R$ 66,3 bi, exigirá elevação da receita

Gustavo Patu – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A despeito do anúncio de um corte orçamentário na casa das dezenas de bilhões, o governo Dilma Rousseff ainda prevê gastar mais dinheiro em 2015 do que no ano eleitoral de 2014.

De acordo com as projeções divulgadas pela área econômica nesta sexta (22), as contas do Tesouro só fecharão com aumento agudo --e ainda pouco palpável-- da arrecadação de tributos e outras fontes de receita.

Mesmo com o bloqueio recorde de R$ 69,9 bilhões em despesas do Executivo, permanecem programados para o ano desembolsos de R$ 1,1 trilhão, algo como R$ 100 bilhões acima do montante pago em 2014, também recorde.

Consideradas as proporções da economia do país, os gastos sobem de 18,7% do PIB para o equivalente a 18,9%.

É verdade que a alta do percentual está relacionada à queda de 1,2% do PIB esperada neste ano de recessão. Mas os dados mostram a dificuldade da equipe do ministro Joaquim Levy (Fazenda) de promover uma queda efetiva da despesa pública.

Os cortes anunciados apenas detêm uma expansão maior de investimentos e programas sociais prevista no Orçamento elaborado no ano passado, ainda sob a orientação desenvolvimentista do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

No entanto, compromissos obrigatórios como o pagamento de benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais continuam em alta, e propostas para conter a escalada enfrentam severa resistência no Congresso.

Nesse cenário, só a elevação da receita pode viabilizar o ajuste prometido por Levy --poupar R$ 66,3 bilhões neste ano, depois de um deficit de R$ 32,5 bilhões em 2014.

Salto na arrecadação
Nas contas apresentadas pelo governo, o cumprimento da meta pressupõe uma receita de R$ 1,158 trilhão, ou 19,9% do PIB. Trata-se de um salto em relação aos 18,4% do ano passado.

A arrecadação tributária do primeiro quadrimestre não parece encorajar tamanho otimismo: houve queda de 2,7%, considerada a inflação, em relação ao mesmo período de 2014, devido ao cenário recessivo na indústria e no comércio.

Não por acaso, a equipe econômica tem promovido aumentos de impostos. Além do pacote de R$ 20,6 bilhões editado em janeiro, acaba de ser elevada a tributação dos lucros dos bancos --e novas medidas estão em estudo.

Apertos tributários, no entanto, tendem a perder eficácia em momentos de queda do PIB, além de despertarem oposição na opinião pública e no meio político.

Para amparar suas estimativas de receita, o governo recorreu também a recursos de origem ainda pouco esclarecidas. São R$ 4,2 bilhões adicionais em "operações com ativos" e R$ 2,8 bilhões em concessões ao setor privado.

No primeiro caso, o exemplo mencionado foi o leilão da folha de pagamento dos servidores federais.

No segundo, leilões no setor de petróleo e da exploração da loteria instantânea.

Caso as previsões de arrecadação não se confirmem, as alternativas são cortar mais gastos, aumentar mais impostos ou reduzir a meta fiscal --o Executivo nega, por ora, a última hipótese.

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