• Dirigentes paulistas afirmam que falta diálogo com a base petista; documento será levado para congresso partidário em junho
Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
A comissão executiva do PT de São Paulo, maior e mais importante diretório estadual do partido do País, apresentou ontem um manifesto no qual afirma que a legenda e o governo Dilma Rousseff estão se distanciando um do outro. O texto, de autoria do presidente estadual do partido, Emidio de Souza, sugere que as medidas de ajuste fiscal promovidas pelo governo provocam o afastamento entre o PT e suas bases políticas e sociais e defende ações autônomas no Congresso, independentes do Planalto, como forma de reaproximação com esses setores.
"Nossos sonhos não podem ser delimitados pelas estreitas margens que a equação financeira suporta, nem pelas contingências de governabilidade (...) Nossa defesa do governo que elegemos não pode nos afastar das ruas e dos movimentos sociais (...) A agenda do governo nos últimos meses, em que pese suas razões, se distancia do que o PT sempre representou e do que sua base social aspira", diz o documento.
O manifesto foi apresentado ontem durante a etapa paulista do V Congresso Nacional do PT. É a primeira vez que a insatisfação do PT em relação aos rumos do segundo governo Dilma, manifestada em conversas reservadas, é exposta de forma explícita em um documento oficial do partido. A ideia é que as demandas por autonomia entre partido e governo lançadas em São Paulo ganhem corpo e cheguem com força no congresso, instância máxima do partido, marcado para os dias 11, 12 e 13 de junho, em Salvador.
"É imprescindível compreender que nossa energia criadora e nossa capacidade de atrair a juventude se sustenta na utopia e no futuro e não deve se limitar, como o governo tem que fazer, aos limites que o orçamento impõe", diz o texto.
A avaliação quase unânime das principais lideranças petistas é de que decisões tomadas por Dilma desde a reeleição em outubro do ano passado, como a escolha do ex-executivo do Bradesco Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, da ruralista Kátia Abreu para a Agricultura e, principalmente, a forma como o governo tenta fazer o ajuste fiscal, sem diálogo com a base petista, causaram uma indisposição entre o partido e os movimentos sociais e sindicatos que, historicamente, apoiaram a legenda. O texto lembra que o governo acaba em quatro anos, mas o PT continua.
"O governo é nosso e vamos sustentá-lo, mas nosso projeto de País é muito maior do que o nosso próprio governo pode fazer em 4 anos. Nossa acomodação não faz o governo avançar."
Coalizão. Embora destaque a necessidade de dar sustentação a Dilma, o texto não reconhece o governo unicamente do PT. Segundo o manifesto, trata-se de uma coalizão da qual também fazem parte forças de centro e cujo rumo está em disputa.
"Doze anos após nossa chegada ao governo central, é suficiente para sabermos que estamos à frente de um governo de coalizão que comporta partidos e setores de centro e, portanto, um governo em disputa permanentemente", segue o documento. O manifesto orienta as bancadas do PT a "criar no Parlamento" condições para avanços sociais, independentemente das orientações do Planalto.
"Entendemos as razões do governo, mas o governo tem que entender as razões do PT. Se na sustentação do nosso projeto temos que conviver com forças antagônicas, o PT não pode nem deve se afastar dos setores que lhe deram vida e são suas colunas de sustentação: as amplas camadas populares e os setores médios da sociedade. A agenda do governo não pode paralisar o PT", resume o material.
Além disso, o manifesto pede expressamente que o governo amplie o diálogo com as bases do partido. "O V Congresso do PT deve fazer um vigoroso chamado para que o nosso governo amplie os canais de diálogo com a sociedade como forma de superar as dificuldades do momento e reafirmar nosso espirito democrático e popular."
Prefeitos. O documento foi apresentado ontem à tarde durante um encontro que reuniu mais de 30 prefeitos e vice-prefeitos do PT no Estado de São Paulo. Em outro documento, os prefeitos pedem aos governos federal e estadual o aprimoramento do pacto federativo que, segundo eles, hoje impõe mais obrigações aos municípios enquanto as verbas ficam concentradas na União.
O texto, redigido pelo prefeito de Carapicuíba, Sérgio Ribeiro, lista 21 reivindicações e deve servir de base para a Marcha dos Prefeitos marcada para o final de junho, em Brasília.
Vários prefeitos disseram que os efeitos do ajuste fiscal já podem ser sentidos em seus municípios. A exceção foi o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Segundo relatos, Haddad disse que o ajuste levará à melhora da situação econômica a partir do ano que vem.
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