- O Estado de S. Paulo
Do ministro do Supremo Tribunal Federal que aguarda o voo na sala de embarque do aeroporto de Brasília ao vizinho que entra no elevador do prédio no Rio, passando pelo síndico do edifício em São Paulo, todos manifestam com perplexidade a mesma preocupação: onde vamos parar e como tudo isso vai acabar?
Todos se perguntam e ninguém sabe responder. Nem mesmo aqueles cuja função, o exercício da política, é construir consensos e abrir caminhos para soluções. Estes recorrem a atalhos, falam em acordos e deixam a mesma dúvida no ar: como obter acertos em meio a um monumental emaranhado de erros?
O senador José Serra cria uma nova imagem para substituir aquela da “tempestade perfeita”. Diz que chegamos a uma situação de nó perfeito, que não há quem consiga ou se disponha a desatar.
O ministro Marco Aurélio Mello, que não é o do aeroporto, lançou uma proposta, no dizer dele mesmo, “utópica”. Sugeriu uma renúncia coletiva – da presidente Dilma Rousseff, do vice Michel Temer e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Informa ter ciência da impossibilidade fática da ideia, dada a resistência dos atuais detentores do poder de abrir mão de suas conveniências individuais em nome do interesse coletivo.
A sugestão de “zerar” o jogo e começar de novo acaba se sobressaindo num ambiente em que não se consegue encontrar uma saída. Não há acertos possíveis quando todo mundo erra e/ou transgride. O governo, ao insistir em tapar o sol com peneiras. A oposição, ao ter tentado sustentar um presidente da Câmara totalmente desmoralizado, na intenção de usá-lo como instrumento contra a presidente da República que, por sua vez, exibe atração fatal pelo equívoco.
Eduardo Cunha perdeu a condição de julgar pedidos de impeachment e, com isso, seu grande trunfo. O ex-presidente Luiz Inácio da Silva não está em situação de defender ninguém, pois terá de se ocupar defendendo a si. A oposição não tem protagonismo popular nem articulação política para conduzir o País à luz no fim do túnel e a sociedade está refém da derrocada da economia.
Ainda não é possível vislumbrar o limite do suportável, mas ele uma hora vai se apresentar. Na forma daqueles curtos-circuitos que conduzem a rupturas quando às pessoas faltam talento, vontade, coragem, firmeza, desprendimento e credibilidade para conduzir levar a crise a um porto seguro.
Lula lá. O ex-presidente Lula conseguiu até agora se distanciar das acusações e comprovações sobre ilegalidades cometidas em seu governo por obra de seu partido, alegando desconhecimento completo sobre o que ocorria debaixo de seu nariz. Entre ser visto como indulgente em relação às más condutas ou ser apontado como mandante dos desvios, Lula ficou com a primeira opção.
A mesma escolha não terá em relação à sua família e aos indícios (fortes) de que houve enriquecimento ilícito e transações nebulosas que, comprovadas, servirão para explicar a impressionante evolução patrimonial ocorrida no solar dos Silva.
Já são quatro os suspeitos de favorecimentos indevidos: dois filhos, uma nora e um sobrinho do ex-presidente. Isso sem contar o patriarca, cujas atividades extracurriculares nada teriam demais se não lhe rendessem extraordinários ganhos pessoais. Sinais exteriores do fausto do clã aparecem aqui e ali.
Quando se ligarem os pontos, o País poderá conhecer de que modo a família transitou da situação de remediada para a condição de milionária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário