• Para o governador, PMDB deve ajudar Dilma antes de Cunha; ele aconselha a presidente a buscar apoios no PSDB
Ricardo Galhardo, Alberto Bombig e Gabriela Caesar - O Estado de S. Paulo
Entrevista.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, um dos líderes do PMDB no País, afirma que o partido deve estar mais empenhado neste momento em ajudar a presidente Dilma Rousseff do que em salvar o mandato do deputado Eduardo Cunha, seu colega de partido e principal nome da bancada fluminense.“O que a gente está ajudando é na governabilidade da presidente Dilma. Não em salvar o mandato do Eduardo.”
Amigo de Dilma, Pezão chama de “covarde” a pauta-bomba, apoiada por setores e seu PMDB e da oposição, mas não poupa a presidente de críticas por conta da crise política e quer ela chame o PSDB para conversar. “Dilma errou na montagem do governo.”
O PMDB do Rio está fazendo uma operação para salvar o mandato de Eduardo Cunha?
Não. Nem eu nem o (Jorge) Picciani (presidente estadual do PMDB do Rio de Janeiro) participamos de qualquer reunião para isso. O Picciani até falou para mim que está bom porque estão nos colocando como bombeiros. Pior é quando colocam como incendiários. O que a gente está ajudando é na governabilidade da presidente Dilma. Não em salvar o mandato do Eduardo. Ele é totalmente responsável pelas ações e atos dele.
Fui acusado na Lava Jato. Sempre me indignei muito e me manifestei no sentido de confiar na Justiça. Por isso luto para dar o direito de defesa às pessoas. Jogar o nome das pessoas e depois não provar é triste. Mas se realmente se comprovar que ele cometeu todos estes delitos fica muito difícil a situação do Eduardo (Cunha). Ele não declarou ao Imposto de Renda e aparece com conta no exterior. É um erro. Tem que ver se é verdade.
A oposição e uma parte do PMDB estão sendo covardes?
A gente não está pensando no País. Temos ajustes, matérias importantes a ser votadas como reforma tributária, o repatriamento que o Joaquim (Levy) apresentou. Tem questões que estão acima das preferências partidárias, da luta decorrente de o País ter saído dividido das eleições.
A pauta-bomba, por exemplo...
É um absurdo. Num momento de raiva, de ódio, alguém lança uma pauta para derrubar o País. Dar 78% de aumento para o Judiciário, o efeito cascata que isso tem nos outros níveis de administração. Isso não é pensar no País. É uma covardia.
O que o senhor achou da nota divulgada pela oposição pedindo a saída de Cunha?
Não vou analisar Congresso. Tenho tanto problema dentro do meu Estado.
Nas conversas com a presidente o senhor sentiu em algum momento abatimento emocional?
Domingo mesmo a gente conversou muito. Sinto nela uma energia, uma força para lutar. É uma mulher séria, honesta. Pode ser um defeito ou uma virtude mas ela não teve a vida política como eu tive de vereador, prefeito, vice. Então, é uma dificuldade dela de se relacionar com o mundo político. E vejo uma determinação muito grande dela de lutar pelo mandato dela. Vejo a seriedade que ela tem de gostar do País. Vejo o sofrimento. Ela sofre.
O que o senhor achou do discurso de Dilma na abertura do Congresso da CUT, terça-feira, em São Paulo, em que ela explorou essa questão da moral pessoal?
É uma mulher realizada financeiramente. Não precisa e não vai desfrutar do poder. Ela desabafou no momento certo. Porque é muito ruim ver misturarem a presidente com os, como ela mesma diz, mal feitos. A presidente Dilma não é uma pessoa desonesta.
A eleição de 2014 está fazendo um ano. O senhor acha que ela errou de alguma forma?
Em um processo eleitoral, você fica tão mergulhado na campanha, é uma adrenalina tão grande, e por isso acho a reeleição ruim, às vezes você deixa de tomar medidas que poderia ter tomado ou coisas que você cuidaria de uma outra maneira. Acho a reeleição muito ruim. Sempre fui favorável à coincidência de eleições com cinco anos de mandato. A economia já vinha com sinais muito ruins. A pessoa de maior confiança dela era o Aloizio Mercadante. Se você vir uma entrevista dele para a Míriam Leitão na GloboNews, vai sentir um pouco onde estava o erro e como errou no planejamento deste governo.
Refresque a nossa memória da gente, por favor, governador.
Ali ele falava que o povo apostou na política econômica que vinha vindo e em uma série de outras questões. Mostrou uma posição de não ter entendido o que tinha acontecido nas eleições. Não era um discurso de um governo que iria começar em um país que saiu das urnas com apenas três, quatro milhões de votos de diferença. Acho que Dilma errou na montagem do governo. Vi o Fernando Henrique (Cardoso) falar em uma palestra o próximo governo teria que ser de união nacional. Eu achei que ela teria essa vontade quando chamou o Fernando Henrique para conversar. Ali ela poderia ser este caminho porque ninguém aguentava mais aquela polarização PT, PSDB. Como ela não é um membro histórico do PT, poderia fazer essa transição. Mas isso depende muito dos auxiliares, das pessoas que a cercam. O País clama por isso.
Ainda dá tempo?
Eu acho que sim. Eu falo com ela. Eu chamaria em um momento desses de dificuldade econômica chamaria Fernando Henrique, (José) Serra, (Antonio) Anastasia, Tasso (Jereissatti), gente que está fresca de ter passado por governos, ACM Neto. E tentaria um governo de união nacional. O clima político se exacerbou muito e este é o caminho para o País. Por isso acho que o PMDB pode fazer este papel.
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