Desgastada, a ideia de um “ano que não acabou” se encaixa à perfeição a 2015. A partir de hoje, ele invade 2016 pela vertente da política e pelo flanco da economia. Há a questão em aberto do processo de impeachment da presidente Dilma, iniciado em 2015, e do futuro penal dos presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros. E existe o desdobramento da mudança feita por Dilma na economia. Deixou claro quem manda na política econômica, ao trocar o ministro da Fazenda Joaquim Levy, estranho no ninho do lulopetismo, por Nelson Barbosa, do Planejamento, afinado com a presidente e com o PT.
Com a folha corrida de um dos formuladores do malfadado “novo marco macroeconômico” — causa da crise —, beque de contenção de Joaquim Levy em toda proposta mais séria para o ajuste fiscal, com apoio de Dilma, Nelson não poderia mesmo desencadear euforia nos mercados. Bolsa caiu, dólar subiu.
Normal. Trata-se, porém, de saber como Nelson Barbosa irá cumprir o compromisso que assumiu, com o cetro de ministro da Fazenda, de fazer o ajuste fiscal, mas também crescer. Ora, Barbosa foi escolhido em nome do “desenvolvimento” e não do “ajuste”. É o recado que o PT mandou ao governo em nota, na segunda-feira. Já ao assumir o Planejamento, em janeiro de 2015, ele alertara que sem ajuste não se pode crescer, e, portanto, bancar programas sociais. Economista, sabe que não são coisas excludentes, pelo contrário. Agora, defendeu a óbvia necessidade da reforma da Previdência. Mas resta combinar com os “movimentos sociais”, a turma do PT, economistas e sociólogos orgânicos.
O novo ministro pode ser ajudado pelo previsto agravamento da crise. Como tem pedigree de “companheiro”, podem ser condescendentes com ele. É provável que a inflação dê algum desafogo, por efeito estatístico, pois a base de comparação (2015) estará nas nuvens. E também porque ficou em 2015 parte do efeito do choque tarifário. Mas o problema geral nas contas persistirá, numa economia bastante indexada.
O último Relatório Focus, do Banco Central, fechado no dia 24 de dezembro com base nas projeções para 2016 dos principais departamentos de análise do mercado financeiro, indicou a manutenção do pessimismo na inflação e no PIB. Desde o final de novembro, a média das estimativas semanais para a alta dos preços caiu de 7,08% para 6,98%, ainda acima do teto da meta, de 6,5%. Boa notícia, o retorno à faixa de um dígito, mas é crucial atingir-se os 4,5% do centro da meta. Do PIB, as estimativas, nesses dois meses, passaram de uma recessão de 2,04% para uma retração de 2,81%. Aproximam-se dos 3%. Confirmados os -3,7% de 2015, a economia brasileira sofrerá em dois anos um encolhimento na fronteira dos 7%. É muita coisa, haja vista as centenas de milhares de desempregados.
Barbosa tem pela frente a resistência de PT e aliados a fazer reformas estruturais urgentes: Previdência, indexação do Orçamento, por sua vez também engessado por bilhões de verbas vinculadas a gastos específicos (Saúde, Educação etc).
O novo ministro assumiu o compromisso de alcançar a meta de superávit primário de 0,5% do PIB. Se não for por meio de abatimentos de despesas, manobra dos manuais da “contabilidade criativa”, dificilmente conseguirá. Para aumentar o desafio, o Congresso vetou o facilitário.
Para fazer uma gestão aceitável, Barbosa terá de executar mudanças nunca aceitas pela chefe. O ministro, a fim de realizar a reforma que defende — a Previdência é mesmo grande causa de desequilíbrio estrutural das contas públicas —, também terá de negociar com um Congresso pouco representativo, devido a uma miríade de legendas nanicas, algumas aninhadas no fisiologismo petista, mais uma herança que se abate sobre Dilma 2. Mas só resta enfrentar a realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário