• O governo favoreceu o capital e em 2016 vai penalizar o trabalho?
- O Estado de S. Paulo
O ano de 2015 já vai tarde e o de 2016 chega hoje impregnado de tensão e interrogações. Todo o debate e as ações políticas girarão em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, enquanto o país vai conferir o significado – e principalmente os efeitos – da posse de Nelson Barbosa na Fazenda.
Essas duas frentes andam juntas. Quanto mais tempo durar a indefinição sobre o destino de Dilma Rousseff, pior para a economia. Quanto mais Barbosa indicar uma volta às políticas do primeiro mandato, pior para Dilma no julgamento do impeachment.
É assim, aos trancos e barrancos, que chegamos a 2016 de frente para uma recessão pelo segundo ano consecutivo, uma inflação acima de dois dígitos, os índices de desemprego castigando as famílias e com o PT e o PMDB em guerra. É no meio dessa confusão que Barbosa quer enfiar goela abaixo, ao mesmo tempo, uma nova meta fiscal e a volta da CPMF.
No empurra-empurra sobre culpados, ecoa o reconhecimento do chefe da Casa Civil de que a crise internacional era só pretexto, as coisas chegaram aonde chegaram por conveniência política e por pura incompetência interna. Gastos eleitoreiros, desonerações, campeões nacionais... Houve uma orgia com recursos públicos, ou seja, com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho.
Conclusão: não sobra dinheiro nem para saúde, educação e os programas que deram sustentação ao marketing de que Dilma era a única candidata preocupada com o social. O sistema S vai segurar as pontas do Pronatec, já cambaleante. E o FGTS (um fundo dos trabalhadores) vai bancar o Minha Casa Minha Vida. Quem diria?
Significa que o primeiro governo de Dilma jogou uma verdadeira fortuna em desonerações fiscais e nos tais “campeões nacionais” do BNDES e, quando a conta chega, rola-se a dívida, aprofunda-se o déficit público e você paga a conta. Trocando em miúdos: o governo “do social” favoreceu o capital e quer depois penalizar a renda e o trabalho.
Estarrecido com a economia e a política em frangalhos, o brasileiro só tem uma boia para pendurar suas esperanças e resquícios de otimismo: a Lava Jato, personificada no juiz Sérgio Moro. A produção vai ladeira abaixo e a competitividade recua anos e anos? Ah, mas os grandes empreiteiros estão na cadeia! Mais de 1,5 milhão de pessoas perderam seus empregos com carteira assinada em 2015? Ah, mas dezenas de políticos estão com a cabeça a prêmio!
Essa boia ou válvula de escape que Justiça, Ministério Público e Polícia Federal garantem, porém, pode ser esvaziada pelo Supremo Tribunal Federal. Já imaginou se tudo o que a Lava Jato fez o STF desfizer? A sensação será de que... não sobra nada para a gente se agarrar nesse mar de desesperança.
Congresso e partidos vão discutir se o petrolão é obra dos governos do PT, se era “só coisa do PP e do PMDB” ou se a citação enviesada do nome de Aécio Neves por um delator secundário prova que “são todos iguais”. Mas isso é parte da guerra política. O que o País quer é que todos sejam investigados, os culpados sejam condenados e os inocentes, inocentados. Como sempre deveria ser.
O importante não são pessoas, nem mesmo partidos, mas sim processos. A economia precisa ser depurada de canetadas e voluntarismos que explodem no lombo dos mais fracos. A política deve banir leis, práticas e políticos deletérios. As nossas estatais têm de se libertar do jugo dos governos de plantão e se submeter a gestões apartidárias e profissionais.
Na contramão de Juscelino Kubitschek, quantos anos o Brasil perdeu em cinco?
Neste 2016, é a hora da volta aos trilhos, de retomar o crescimento e de ter rumo.
Mas há muita controvérsia sobre a capacidade dos governantes e dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de hoje para essa tarefa tão fundamental.
Apesar de tudo, feliz Ano Novo!
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