Entrevista. Silvio Torres, deputado federal por São Paulo e secretário-geral do PSDB
• Deputado e dirigente do PSDB vê processo como ‘imprevisível’ e se diz preocupado com excesso de ‘ativismo’ do Supremo
Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Parlamentar mais próximo do governador Geraldo Alckmin e secretário-geral do PSDB, o deputado Silvio Torres (SP) avalia que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff se tornou “distante e incerto”, o que dificulta uma decisão sobre apoiar ou não um eventual governo Michel Temer. Para o tucano, a judicialização da política é “preocupante”. “Estão transferindo para o Supremo decisões que não estão sendo tomadas nas outras instituições”, disse. “O Judiciário pode começar a intervir onde não deve.”
Lideranças como os senadores José Serra e Aécio Neves defendem posições diferentes em relação à participação do PSDB em um eventual governo Michel Temer. É possível unificar o discurso tucano nesse assunto?
A executiva nacional nunca debateu isso e não tem uma decisão tomada. A posição do Aécio é de presidenciável. O Serra, por sua vez, nunca levou isso para o debate interno. São expectativas pessoais. O impeachment, que era uma ideia aprovada internamente, parecia iminente, mas agora está distante e é incerto. O governo está sabendo reagir e tem aliados no Senado. Serra já tinha proximidade com Temer e transita muito bem no PMDB. E o PMDB, que está metido em várias denúncias, tem raros quadros que possam eventualmente assumir posições em um governo Temer. O Serra se vê como uma pessoa capaz de ter projeção grande nesse cenário e tem conversado com o vice-presidente sobre isso. Às vezes ele repassa essas conversas para nós e diz que, se o Temer assumir, ele gostaria de trazer o partido e promover um grande acordo nacional.
Essa posição é majoritária?
A posição a favor do impeachment é majoritária, e o cenário seria o Temer assumir. Sendo assim, implicitamente aceitamos que haja uma conversa. O que não é majoritário no PSDB é a opção de pertencer ao governo Temer. Essa posição divide muito o partido.
Qual é a sua posição?
A posição correta seria a cassação do mandato dos dois pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O PSDB devia se posicionar para isso antes do impeachment. O impeachment passou a ser imprevisível. Na medida em que Michel passou a ser envolvido em denúncias, houve retração do apoio de setores importantes do partido e da sociedade. O impeachment é impensável sem grande mobilização popular e pode ser demorado.
Qual sua avaliação sobre o final de 2015 para a presidente Dilma Rousseff? Ela obteve uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal sobre o impeachment e as manifestações pró-governo se fortaleceram.
Nesse jogo não há placar final. Ela fechou o ano com uma derrota na economia, que é o mais importante. Estão projetando um cenário ruim para 2016. A escolha do Nelson Barbosa (na Fazenda) está longe de ser a solução. Eu diria que ela embolou um pouco.
O jurista Miguel Reale Jr. apontou forte “ativismo” do STF no impeachment. O sr. Concorda?
Totalmente. Resguardadas as devidas proporções, a judicialização que está havendo da política brasileira lembra um pouco a militarização da política. Houve um tempo em que os fiadores das questões importantes eram os quartéis. A palavra de um general tinha força na política. Hoje, estão transferindo para a Alta Corte as decisões que não estão sendo tomadas nas outras instituições. Isso é preocupante. O Judiciário pode começar a intervir onde não deve. Está ultrapassando o desejável de um poder.
Como o sr. avalia a atuação da bancada tucana na Câmara? Há uma percepção de muita mudança de posições ao longo do ano.
Alguns fatores influenciaram essa percepção. Saímos da eleição muito embalados. Dilma perdeu credibilidade e o PSDB sentiu-se credenciado a fazer uma oposição mais forte. Foi um pouco pelo impulso e pelo sentimento de que o governo iria acabar. A bancada tem gente jovem, que chegou com outra intensidade.
Quem é o melhor candidato do PSDB para 2018?
O Aécio tem o recall mais forte, pontua bem nas pesquisas. O que ocorrer de 2016 em diante vai revirar tudo. Serra tem um nome consolidado e Alckmin governa São Paulo, que é um país. O candidato será um dos três.
Na capital, o governador está concretamente apoiando a pré-candidatura de João Doria?
Setores que já achavam isso viram a fala do governador (de que seria a “hora” de Doria) como a prova definitiva. Mas o governador em nenhum momento manifestou preferência. A dúvida dele era se as prévias iriam levar as candidaturas do PSDB a um patamar melhor. A ideia das prévias é levar mensagens ao eleitorado. Mas infelizmente as polêmicas prevaleceram. João Doria não tem militância formal, mas não é um estranho no PSDB.
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