- O Estado de S. Paulo
É aquela história que todo mundo sabe, não é preciso contar, sobre o mês de agosto. Assume ares de fato por causa de acontecimentos nefastos ocorridos na política do Brasil, mas o confronto com a realidade não sustenta a lenda. Turbulências não escolhem data, basta conferir no arquivo da memória.
O destino não tem comando e, por isso, faz das suas. No tocante ao nosso pedaço, a mais recente é a coincidência entre o julgamento de dois processos no Congresso: o do impeachment de Dilma Rousseff, no Senado, e o da cassação do mandato de Eduardo Cunha, na Câmara. Ambos ocorrerão nesse mês que se avizinha, dando margem ao livre curso das crendices.
Desta vez, fundadas em fortes e inevitáveis simbolismos se acrescentarmos à conjunção de fatores a realização da Olimpíada no Rio de Janeiro, cuja escolha marcou o auge da euforia da era do PT no poder. O então presidente Luiz Inácio da Silva esteve na cerimônia, em Copenhague (Dinamarca), onde, junto com o então governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, festejou o fato. E o fez como proprietário do feito, bem ao seu feitio.
Passados sete anos desde aquele eufórico outubro de 2009, o ambiente é de agonia para os três personagens, embora não apenas para eles. Lula assiste ao ocaso de seu partido, Cabral vive no ostracismo (na melhor das hipóteses deve torcer para que a Justiça o deixe sossegado no esquecimento) e Paes dedica-se a falar mal do Rio; evidentemente naquilo que é da esfera do Estado, a fim de se distanciar por razões eleitoreiras do projeto político do qual foi parceiro e que agora sucumbe à crise entre outros motivos por imprevidência e improbidade.
Caso Deus se mantenha fiel à sua propalada nacionalidade e proteja seu país de origem da sanha terrorista, dará tudo certo nos Jogos Olímpicos. Na Copa do Mundo o Brasil deu um show fora do campo. Não obstante os superfaturamentos de contratos como sustentáculos da corrupção, o espetáculo foi de beleza inequívoca. Queira nosso brasileiro mais famoso e poderoso que a maravilha se repita na cidade que carrega o epíteto. Seria bonito de ver e de viver. Considerando o poder do patrono e a torcida geral, assim será.
Já para Dilma Rousseff, Eduardo Cunha e o PT o cenário adverso é uma certeza. Obra coletiva, em boa medida resultado da produção de seus autores. Dilma e Cunha vão se submeter a tribunais de juízos anteriormente formados.
A Câmara vai tirar o mandato de seu ex-presidente não só porque condena os atos dele, mas primordialmente pelo desconforto da companhia e por razão da oportunidade de tentar “zerar” o déficit de imagem junto à população.
Com o PT o caso é de absoluta exaustão. Dilma em seu período de afastamento faz propostas entre o inexequível e puramente cínico. Sugere a realização de eleições gerais e acena com a possibilidade de manter a equipe econômica de Michel Temer. Lula diz sandices nas quais queira o bom senso que ele não acredite realmente. Exemplo: segundo o ex-presidente, estava tudo correndo bem no governo Dilma, até que a eleição de Cunha para a presidência da Câmara pôs tudo a perder.
Outro exemplo para finalizar: “Só serei candidato se o Brasil não der certo”. Ou Lula não quer realmente se candidatar ou torce para que o País dê errado.
Crueldade universal. Os atentados terroristas em geral sinalizam a celebração do hediondo, ninguém discorda. A matança de Nice tem um simbolismo, porém, de característica específica. Ocorreu no dia em que a França celebrava a passagem da revolução de lema igualdade, fraternidade e liberdade. Com isso, exibiu o quanto o mundo está cada vez mais desigual. Desprovido de afeto e prisioneiro do rancor.
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