Por Ricardo Mendonça e Sergio Lamucci - Valor Econômico
SÃO PAULO - Com quase 800 prefeitos eleitos e o triunfo incontestável de João Doria em São Paulo no primeiro turno com 53,3% dos votos, o PSDB é o grande vencedor das eleições municipais de 2016.
Às 23h de ontem, com 99,9% das apurações concluídas em todo o país, os tucanos haviam garantido 790 prefeituras em todo, uma evolução de 14% em relação às 695 conquistadas em 2012.
Nas capitais, o PSDB também venceu no primeiro turno em Teresina. E irá disputar segundo turno em Belo Horizonte, Porto Alegre, Belém, Manaus, Cuiabá, Maceió e Porto Velho.
Já o PMDB continua sendo a maior legenda do país em número absoluto de governos municipais, mas com pouca mudança em relação ao último pleito. O partido computou 1.029 vitórias ontem, oito a mais que o desempenho de 2012. Esse número puderá crescer um pouco mais, conforme os resultados do segundo turno, que será disputado em 56 municípios.
No sentido oposto ao do PSDB, o PT é o gande derrotado de 2016, com notável queda no número de prefeituras sob sua responsabilidade.
Os 256 prefeitos eleitos pelo PT (382 a menos que 2012) o desloca da 3ª posição no ranking de partidos com maior número de prefeitos para a 10ª posição, um pouco abaixo do PTB (262 eleitos), imediatamente acima do PPS (118 prefeitos).
Depois de PMDB e PSDB, os partidos que mais elegeram prefeitos ontem foram PSD, com 537 eleitos; PP, com 494; e PSB, 412 (confira no gráfico acima).
Embora não tenha disputado voto diretamente, o personagem que sai como grande vencedor em 2016 é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Para garantir a legenda para Doria poder disputar, ele enfrentou os principais caciques de seu partido, que preferiam o vereador Andrea Matarazzo como candidato. Na lista de figurões internamente derrotados por Alckmin estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, o ex-governador Alberto Goldman e, ainda, os senadores Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal.
O notável desempenho de Doria, dessa forma, ajuda a cacifar Alckmin no PSDB para disputar a Presidência em 2018, ganhando espaço na corrida que poderá travar contra Serra e contra o senador Aécio Neves, hoje presidente do partido.
Para o PMDB, o resultado final da eleição é dúbio. Embora tenha colhido um bom desempenho no conjunto dos 5.568 municípios, o que lhe garantiu a manutenção do posto de legenda líder em número de prefeitos, o resultado final do ponto de vista do governo do peemedebista Michel Temer não pode ser considerado favorável. Isso porque o partido foi mal nas duas principais arenas em que disputou.
Em São Paulo, colégio eleitoral de Temer e onde ele patrocinou a filiação de Marta Suplicy, a senadora egressa do PT terminou apenas em quarto lugar, atrás de Doria, do prefeito Fernando Haddad (PT) e do deputado Celso Russomanno (PRB). E no Rio, o peemedebista Pedro Paulo não foi muito melhor. Bancado desde o início pelo prefeito Eduardo Paes e ainda com a vitrine das Olimíadas a seu favor, também ficou excluído do segundo turno, que será disputado entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (Psol).
Grande perdedor, o PT colecionando uma série de maus resultados pelo país. O número total de prefeitos eleitos é compatível com o de 2000 (187), antes de Lula chegar á Presidência. Nas capitais, o partido minguou. Reelegeu Marcus Alexandre em Rio Branco (AC) e levou o ex-prefeito João Paulo ao segundo turno em Recife. Em 2012, havia conseguido quatro capitais.
Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) perdeu no primeiro turno para Doria depois de passar boa parte da campanha em quarto lugar, atrás de Celso Russomanno (PRB) e Marta. Haddad ganhou algum fôlego na reta final, mas terminou a eleição com apenas 16,7% dos votos válidos, um percentual bem inferior aos quase 29% alcançados no primeiro turno de 2012.
Em Recife, João Paulo chegou ao segundo turno com um pouco menos de 24% dos votos, bem atrás dos 49,3% de Geraldo Júlio (PSB), que concorre à reeleição.
Entre os partidos de esquerda, o Psol conseguiu um bom resultado, ao chegar ao segundo turno no Rio de Janeiro e Belém.
O principal destaque foi o desempenho de Marcelo Freixo, que conseguiu 18,3% dos votos válidos e vai disputar a prefeitura carioca com Marcelo Crivella (PRB), o líder do primeiro turno, com 27,8%
Em Belém, Edmilson Rodrigues, que já comandou a cidade, foi ao segundo turno contra o atual mandatário, o tucano Zenaldo Coutinho. Em 2012, o Psol elegeu um prefeito, Clécio Luis, em Macapá. Nestas eleições, Clécio concorreu à reeleição pela Rede. Vai disputar o segundo turno contra Gilvam Borges (PMDB).
Em sua primeira eleição, o partido fundado pela ex-senadora Marina Silva teve um resultado ruim. No Rio, Alessandro Molon teve apenas 1,4% dos votos. Em São Paulo, Ricardo Young obteve apenas 0,5%. O resultado expõe a estrutura precária da sigla, um sinal negativo para uma eventual candidatura de Marina em 2018.
Os resultados gerais das eleições para prefeito confirmaram a tendência de fragmentação do sistema político.
Dos 35 partidos legalmente registrados atualmente, 31 elegeram prefeito. Em 2012, eram 26 os que haviam conseguido eleger pelo menos um.
Um aspecto dessa eleição que deverá ser objeto de muita análise no meio político é a questão do financiamento das campanhas. Após anos de crescente participação empresarial no processo eleitoral, esta foi a primeira disputa com proibição total de financiamento de pessoa jurídica. Foi, nesse sentido, uma eleição experimental.
A experiência de 2016 será usada para que o Congresso avalie a conveniência de autorizar o retorno do financiamento de pessoa jurídica em 2018.
Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, faltando três dias para o pleito os candidatos a prefeito e a vereador haviam declarado gastos que somam R$ 2,1 bilhões. Isso equivale a aproximadamente um terço dos R$ 6,2 bilhões gastos em 2012, quando o número de postulantes era ligeiramente menor.
Neste ano, foram 496.892 candidatos, 15.109 a mais do que o registrado quatro anos atrás.
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