Por Ricardo Mendonça, Sergio Lamucci e Raymundo Costa - Valor Econômico
SÃO PAULO - A base do governo Temer sai vitoriosa no primeiro turno da disputa municipal, especialmente o PSDB, mas ficou mais difícil articular a reeleição do presidente ou de um candidato palaciano em 2018. Graças à expressiva vitória de João Doria em São Paulo, o nome que desponta da eleição é o do governador Geraldo Alckmin, que saiu fortalecido tanto no PSDB como na relação com o governo federal.
Às 23h de ontem, com resultados indefinidos em 15 de 5.568 municípios - além de 56 que terão segundo turno -, os tucanos já haviam garantido 790 prefeituras em todo o país, quase cem a mais que em 2012.
A derrota de Marta Suplicy em São Paulo fica na conta de Michel Temer - ele a levou para o PMDB, mas a senadora acabou em 4º lugar. Para o PMDB, o resultado geral é dúbio. Embora tenha colhido um bom desempenho nos municípios, com a eleição de mais de mil prefeitos, praticamente o mesmo número da eleição passada, o partido foi mal nas duas principais cidades que disputou - São Paulo e Rio de Janeiro.
Os resultados parciais indicavam ontem à noite que o PT, além da derrota em São Paulo, perdeu o poder em quase 400 municípios - em 2012, conquistou 638 e agora, 256, caindo da 3ª para a 10ª colocação em número de prefeituras.
A experiência das eleições de 2016 poderá ser usada para que o Congresso avalie a conveniência de autorizar o retorno do financiamento de empresas. Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, os candidatos a prefeito e a vereador declararam gastos que somavam R$ 2,1 bilhões neste ano, a três dias do pleito. Isso equivale a aproximadamente um terço dos R$ 6,2 bilhões gastos em 2012, quando o número de postulantes foi ligeiramente menor. Nestas eleições, foram 496.892 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, 15.109 a mais que o registrado quatro ano atrás.
Saldo é bom para Temer, mas melhor para Alckmin
No primeiro teste eleitoral de Michel Temer depois do impeachment, a base aliada do governo saiu vitoriosa no primeiro turno da disputa municipal, especialmente o PSDB, mas ficou mais difícil articular a reeleição do presidente ou de um candidato palaciano na sucessão de 2018. Graças à expressiva vitoria de João Doria em São Paulo, o nome que desponta da eleição do domingo é o governador Geraldo Alckmin, que saiu fortalecido tanto internamente como na relação com o governo federal.
Ao contrário de Alckmin, que impôs o nome do candidato ao PSDB, Temer não entrou diretamente na campanha. Apoiou a filiação e a candidatura de Marta Suplicy pelo PMDB, mas não se envolveu e atribuiu a derrota da senadora a seus próprios erros. Uma pesquisa que circulou no Palácio do Planalto dizia, semana passada, que a maioria dos eleitores de João Doria era simpática ao governo. Temer tem bom relacionamento com Doria. E no fim da campanha enviou sinais mais positivos em relação a Doria que a Marta.
O fortalecimento de Alckmin tem reflexos sobre o equilíbrio das forças no governo. Muito embora Temer diga que não será candidato à reeleição, a ideia é cultivada no entorno do presidente da República. Mas não é unânime. O secretário das PPI, Moreira Franco, defende que o "desafio de Michel Temer é recuperar a economia, e isso é incompatível com a ambição eleitoral". Seja ele próprio o candidato ou apoiando um nome do governo - além do presidente, são mencionados os nomes do chanceler José Serra e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Com o cacife redobrado, Alckmin será mais uma voz no PSDB a tentar manter o PMDB no canto do ringue da sucessão presidencial. O presidente do PSDB, Aécio Neves, perdeu espaço para Alckmin, mas também cobrou uma declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que acenava com a possibilidade da reeleição de Temer. Dos governadores estaduais, Alckmin tem sido a voz mais crítica à PEC dos gastos públicos.
O avanço de Alckmin é, na realidade, a ocupação de um espaço vazio. Aécio foi o tucano que esteve mais próximo de tirar o PT do governo, desde 2002, mas vem perdendo espaço no eleitorado, como demonstram quedas sucessivas nas pesquisas de opinião. E recall é o seu maior patrimônio. A eleição de João Leite, em Belo Horizonte, deve ajudá-lo a recuperar o terreno perdido para Dilma em 2014. Além de espaço, a disputa do PSDB agora é também programática.
A vitória de João Doria e outros bons resultados que o PSDB recolheu no dia de ontem apontam para um viés de direita, bem diferente do partido de intelectuais com matiz social-democrata fundado em 1985. É uma situação que deixa contrariados tucanos históricos como José Serra, o ex-governador Alberto Goldman, os senadores José Aníbal e Aluísio Nunes Ferreira, além do próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
FHC, Aécio, Aníbal e Ferreira gravaram para o programa de João Doria na televisão - Serra nem considerou a ideia. Isolado no PSDB, o leque de alternativas de Serra para 2018 passa necessariamente por um partido grande e com tempo de TV, condições necessárias para uma candidatura competitiva, como demonstrou o fenômeno Doria. O PMDB seria esta sigla, o que fica mais difícil à medida que Alckmin - e o próprio Aécio - se fortalecem.
É consenso no grupo palaciano que a vitória dos partidos aliados do governo não deve ter nenhuma consequência política imediata. Até oferece a Temer um capital inicial para aprovar as reformas econômicas, mas o presidente terá de negociar os projetos com o Congresso e tentar convencer a sociedade que sem as medidas não há como tirar o país da mais grave crise econômica dos últimos 100 anos.
A eleição, até agora, foi mais um entrave para um governo que começou provisório e só há pouco mais de um mês ganhou caráter definitivo. O Palácio do Planalto se transformou num muro de lamentações de candidatos ligados ao governo que se queixavam de propostas como as 12 horas de trabalho semanais ou a proibição de retirada do FGTS, todas negadas pelo governo Temer. A própria reforma da Previdência, prometida para setembro, ficou para depois.
A ideia agora é fazer uma campanha para levar o programa de governo e as propostas de reforma "para o debate da sociedade", diz um dos auxiliares do presidente. Algo como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, quando patrocinou um forte programa de ajuste das contas públicas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou pelo mesmo processo, negociou direto com o Congresso. O presidente Temer e sua equipe de governo são considerados hábeis negociadores, mas no momento julgam que é imprescindível conseguir algum apoio também das ruas. Até mesmo para diminuir o poder de barganha dos congressistas.
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