Em primeiro discurso após vitória, Doria prega pacificação no PSDB
Thais Bilenky, Paula Reverbel – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Em uma festa da vitória marcada pelo tom antipetista e por menções à possível candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência, o prefeito eleito João Doria fez um discurso em busca de conciliação tanto com seus críticos internos no PSDB quanto com os eleitos que não votaram nele.
O novo chefe do Executivo municipal mencionou o ex-governador tucano Alberto Goldman, que recentemente recomendou que os eleitores paulistanos não votassem no nome de seu partido. Também chamou de "homem de bem" o ministro José Serra (Relações Exteriores), que não o apoiou publicamente.
"Não se faz política com o fígado, mas com inteligência, com amor", afirmou o prefeito tucano.
Doria disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro que não se entusiasmou com sua candidatura, telefonou para cumprimentá-lo pela eleição. "Tenho um enorme respeito, este sim um grande presidente", disse.
Em um sinal, porém, de que a disputa interna deixou marcas no partido, o presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, chamou Andrea Matarazzo, que disputava as prévias com Doria e deixou a legenda com acusações de compra de voto, de "traidor".
Na plateia, militantes tucanos gritaram "chupa, conde", em referência ao apelido de Matarazzo.
Em sua fala, Doria disse que sua gestão "vai priorizar os mais pobres e mais humildes" e que também governará para aqueles que não o escolheram nas urnas.
Ele cumprimentou os adversários. Disse que recebeu telefonemas da senadora Marta Suplicy (PMDB), do deputado Celso Russomanno (PRB) e do prefeito Fernando Haddad (PT).
O tucano mencionou outros dois oponentes derrotados, os deputados federais Luiza Erundina (PSOL) e Major Olímpio (SD).
"Não foi fácil disputar campanha com candidatos tão bons e com históricos tão importantes", disse.
"Serei bom gestor, honesto, correto, trabalhador. Vamos fazer uma gestão com muita juventude para modernizar a nossa cidade, colocar São Paulo no plano digital. Vamos reconduzir São Paulo ao papel que ela merece. São Paulo não é dos paulistas, é de todos os brasileiros."
Ele voltou a insistir em um dos principais pontos de sua campanha, o de que não seria um político de carreira.
"Mesmo não sendo político, respeito os políticos", disse. "Peço que deem as mãos porque esse é o sentimento da união."
Fiador do novo prefeito e único cacique tucano de relevo presente, Alckmin chamou João Doria de "fenômeno eleitoral".
"João, o recado das urnas foi muito claro", discursou. "São Paulo tem pressa."
O governador elogiou a campanha "leve, sem ataques e bem humorada" de Doria e voltou a realçar a "importância das prévias", em gesto lido como a defesa do processo interno no PSDB para a eleição de 2018.
"As prévias não dividem, legitimam as escolhas", disse Alckmin.
Antes dos discursos de Doria e Alckmin, o prefeito eleito ergueu a bandeira do Brasil enquanto militantes gritaram "a nossa bandeira jamais será vermelha".
Vice-prefeito eleito, Bruno Covas usou um bordão do ex-presidente Lula para comemorar a vitória.
"Nunca antes na história deste país tivemos um candidato que conquistou tanto a cidade", afirmou, sob gritos de "fora, PT", dos militantes.
Na chegada à festa, o prefeito eleito foi cercado ao sair da van por muitos admiradores, que o saudaram com euforia. Já no palco montado no diretório, Doria dançou, puxou palmas e pediu que os presentes dessem as mãos em agradecimento.
Pedro Tobias, "lançou" a candidatura presidencial de Alckmin durante a festa. "Hoje é uma prévia de 2018, Geraldo Alckmin para presidente", conclamou Tobias.
"Não há mal em se pensar e desejar" que Alckmin se lance candidato a presidente, disse Doria. "Se ele for candidato a presidente da República, terá o apoio do povo brasileiro. É absolutamente legítimo", discursou.
O governador, contudo, minimizou a associação. "São Paulo é importante por si só", disse a jornalistas.
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