São alarmantes os sinais recentes de deterioração da crise política na Venezuela. Governo e oposição se entrincheiraram em estratégias que não só fogem do marco constitucional do país mas também estimulam um confronto aberto que todos deveriam querer evitar.
Não há dúvidas de que a culpa maior recai sobre Nicolás Maduro. Rejeitado por cerca de 70% da população, o presidente valeu-se do controle que exerce sobre o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para protelar a convocação, pela oposição, de um referendo revogatório de seu mandato —este um mecanismo previsto na Constituição.
Por meio de medidas como a anulação da coleta de assinaturas necessárias para o referendo, o CNE busca impedir a sua realização antes de 10 de janeiro.
Passada essa data, que marca os dois terços dos seis anos de mandato presidencial, uma previsível derrota de Maduro não provocaria nova eleição. Em vez disso, o comando do país passaria ao vice-presidente, também chavista.
Vendo seus planos serem ameaçados, a oposição, que controla a Assembleia Nacional, aprovou na terça-feira (25) a abertura de um julgamento político para afastar Maduro da Presidência, acusando-o de abandono do cargo.
A ninguém escapa a fragilidade da denúncia, seja porque o aprendiz de caudilho continua exercendo a função, seja porque não há base constitucional para o processo.
Para a oposição isso pouco importa; seu objetivo é incentivar manifestações de rua, a principal aposta para acelerar a consulta popular. Não por acaso, a ação na Assembleia se deu na véspera de um protesto volumoso, realizado nesta quarta (26) em Caracas.
Nesse clima tenso, são remotas as chances de uma negociação no curto prazo, a despeito dos esforços do ex-premiê espanhol José Luis Zapatero e do papa Francisco.
Nem mesmo o Brasil parece apto a fazer algo. Se a óbvia simpatia que os governos petistas nutriam por Caracas não impediu o Itamaraty de sentar-se à mesa com ambos os lados, a linha antichavista estridente adotada na gestão de Michel Temer (PMDB) constitui obstáculo maior ao papel de mediador.
Sem acordo, a população venezuelana fica à mercê de um presidente fragilizado, sem condições de enfrentar problemas como o desabastecimento e a maior inflação do mundo —e incapaz de perceber que os 17 anos de regime chavista representam se transforaram num catástrofe para seu país.
No desespero de se manter no poder, Maduro apenas acentua a agonia de seus dias contados enquanto bloqueia o melhor caminho disponível para a Venezuela começar a sair de seu labirinto.
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