Por Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Um cenário de polarização entre o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), começou a tomar forma ontem na disputa pelo comando da Casa, que tem eleição marcada para o dia 2 de fevereiro.
Ontem, enquanto Maia passou o dia no Palácio do Planalto como presidente interino da República por conta da viagem de Michel Temer a Portugal, o petebista lançou oficialmente sua candidatura. O evento, no Salão Negro da Câmara, reuniu correligionários de Jovair, políticos e cerca de 20 deputados. Falaram em seu favor oito parlamentares de sete partidos (PTB, SD, Pros, PMDB, PSC, PSL e PEN), invariavelmente com ataques ao atual presidente da Câmara.
Mas foi o comportamento de Rogério Rosso (PSD-DF), que lançara sua candidatura na véspera, que deu os primeiros indícios de que a disputa tende a ficar entre Maia e Jovair. Líder do partido na Câmara, Rosso tem encontrado dificuldade para encontrar apoios sólidos dentro da própria legenda. Ele fez questão de comparecer ao lançamento da candidatura do "amigo", e chegou à Câmara admitindo a possibilidade de uma "fusão" de sua candidatura com a de Jovair, antes mesmo da votação em primeiro turno. "Na política, as coisas são como nuvens", afirmou, ao ser questionado sobre se abriria mão de concorrer ao cargo em favor do deputado goiano.
Já no evento, Rosso foi ao microfone para afirmar que estava ali para pedir o voto de do petebista, a quem chamou de "amoroso, carinhoso, um amigo fantástico, experiente e inteligente". Disse ter comparecido ao evento "com a maior alegria". Mas que, se fosse para ir ao lançamento da candidatura "do outro [Maia], eu mandaria um representante".
O presidente da Câmara, aliás, foi alvo da maioria dos discursos proferidos pelos que falaram em favor de Jovair. Alguns, como Valtenir Pereira (PMDB-MT), apontaram para os questionamentos jurídicos sobre a candidatura de Maia.
"É importante nós escolhermos um presidente que não vai ser questionado no Supremo Tribunal Federal", disse. Era uma referência ao fato de que o regimento da Casa não permite reeleição do presidente na mesma legislatura. Maia diz que a regra não se aplica a ele, por estar cumprindo um mandato tampão. Ele foi eleito em julho de 2015 em substituição a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao posto antes de ser cassado.
Outros, como Ronaldo Fonseca (DF), líder do Pros, fizeram um alerta a Temer para que não influencie em favor de Maia, tido como o favorito do governo. "O Planalto não pode se meter aqui nesta eleição", disse. "Esta não é uma eleição de blocão, de centrão. É da Câmara dos Deputados."
Paulinho da Força (SD-SP) usou de ironia para criticar a suposta predileção do presidente por Maia. Virou-se para o ex-deputado Sandro Mabel, hoje assessor de Temer, e disse: "Para não dizer que o governo está todo do outro lado, estamos aqui com o Sandro Mabel. Pelo menos isso".
Em entrevista coletiva depois do evento, Jovair esquivou-se quando questionado sobre se ele via Maia como o candidato do governo. E aproveitou também para atacar a legitimidade da candidatura do colega. "Eu não o vejo [Maia] como candidato do governo porque não o vejo como candidato", afirmou.
Momentos antes, no lançamento de sua candidatura, ele já havia cutucado Maia nesse sentido. "Nós temos 513 deputados na Casa. 512 podem ser candidatos sem parecer jurídico", disse o petebista, que prometera anteriormente ir ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso Maia vença a eleição.
O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), também falou, mas para pedir a Jovair "respeito à proporcionalidade" na distribuição dos cargos na mesa diretora da Casa, caso seja vencedor. O PT tem a segunda maior bancada na Câmara e almeja a primeira secretaria ou a segunda vice-presidência. Algo que Jovair já disse que irá atender.
Maia, por sua vez, reuniu-se ontem no Palácio do Planalto com deputados da "bancada da bala", entre eles Alberto Fraga (DEM-DF). Eles devem levar hoje, ao presidente Temer, propostas para a crise do sistema penitenciário, como o da criação do Ministério da Segurança Pública.
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