Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), lançou nesta terça-feira (10) sua candidatura à presidência da Casa. Ao lado de Rogério Rosso (PSD-DF), um de seus adversários, fez críticas ao atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), procurou valorizar o baixo clero e pregou independência do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal).
"Não podemos ter uma Casa tutelada pela Justiça, uma casa que a sociedade olha de cara feia para ela, como tem acontecido", afirmou Jovair. "Precisamos de alguém para assumir o comando e fazer as mudanças necessárias", disse o petebista.
Ao citar o imbróglio jurídico que envolve a candidatura de Maia, disse que "512 deputados podem ser candidatos" e que "apenas um" precisa recorrer a pareceres jurídicos. "Temos que dar exemplo. Não pode criar casuísmo", afirmou.
A Constituição Federal e o regimento interno da Câmara dos Deputados vedam que o presidente dispute a reeleição em uma mesma legislatura. Maia entende que, como foi eleito para um mandato tampão após a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a regra não se aplica a ele.
"Esta Câmara não pode continuar dando rasteira na sociedade", afirmou Jovair Arantes.
Ele discursou para uma plateia formada pelo presidente do Solidariedade, pelos líderes de PT, Pros e PSL, além de representantes do baixo clero de PTB, PMDB, PP, PSC e PEN. Mas a maioria da claque era composta por prefeitos de Goiás.
O lançamento, no Salão Nobre da Câmara, teve direito a adesivos, banners e três versões de panfleto com oito propostas como revisar o regimento interno e estabelecer horário para o término das votações, para que elas não se estendam até a madrugada.
Prometeu valorizar deputados que hoje não têm "protagonismo", abrindo espaço nas relatorias a todos os deputados e disse que não haverá, sob sua eventual gestão, "patrulhamento de voto".
APOIO ADVERSÁRIO
Das presenças na cerimônia, a que mais chamou a atenção foi a de Rogério Rosso. Como a Folha mostrou nesta terça-feira, Rosso e Jovair não descartam unificar suas candidaturas, embora haja divergência quanto ao timing para a união.
Ao discursar, Rosso disse que estava ali para pedir votos para Jovair, quem descreveu como "amoroso, carinhoso, um amigo fantástico e experiente".
Rosso disse conversar diariamente com Jovair e que, "lá na frente", eles somariam os votos.
"Além de ele me convidar, vou com a maior alegria. Se o outro [Maia] convidar, mando representante", disse Rosso para justificar sua presença na cerimônia.
Jovair também reafirmou o que havia dito à Folha, que se unirá a Rosso apenas no segundo turno.
Em discursos, aliados disseram que Jovair tem "nome limpo, não está em nenhuma relação citada na Lava Jato". "Já tivemos um problema. Não podemos ter um segundo", disse Nelson Marquezelli (PTB-SP), mencionando o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, e Maia, que é citado na delação da Odebrecht como o "Botafogo".
Jovair era próximo a Cunha, mas disse que, líder há 10 anos, sempre foi próximo de quem esteve no comando da Casa.
Já Paulinho da Força (SD-SP) ressaltou o apoio do Palácio do Planalto à candidatura de Maia.
"Para não dizer que o governo está todo do outro lado, estamos aqui com Sandro Mabel", disse Paulinho, referindo-se ao assessor especial do presidente Michel Temer.
MINIRREFORMA
Enquanto isso, Maia aproveitou a interinidade na Presidência da República para receber no Palácio do Planalto parlamentares de partidos como PMDB, DEM PSDB, PR e PTN.
Ele se encontrou, por exemplo, com integrantes da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada "bancada da bala". Os deputados classificaram como perfumaria a reação do governo federal à crise penitenciária.
Eles defenderam ainda a criação de um novo ministério, o de Segurança Pública, o que tem a simpatia tanto de Maia como de Rosso para a minirreforma ministerial programada pelo Palácio do Planalto para o mês que vem.
A proposta, contudo, não tem o respaldo de Temer, que é contra o aumento de pastas. Nas palavras de um assessor presidencial, a iniciativa só estimulará críticas por causa do crescimento da máquina pública e "não será a criação de uma nova estrutura que resolverá o problema da segurança pública".
A avaliação interna é que uma nova estrutura causaria uma desgaste desnecessário e poderia criar uma crise com o Ministério da Justiça, que perderia atribuições na área.
A ideia considerada pelo presidente é aumentar a atuação e o orçamento da Secretaria Nacional de Segurança Pública, subordinada ao Ministério da Justiça.
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