sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Cristian Klein: Um 'novo guerreiro' para 2018

- Valor Econômico

Homem de TV, Huck ironicamente teria pouco tempo de TV

Saem Feiticeira, Tiazinha e Dany Bananinha, as corpulentas e sensuais assistentes de palco. Entram DEM, PPS, Joaquim Barbosa e a franzina e angélica Marina Silva - possíveis aliados na aventura do outsider político que cogita se perfilar na corrida presidencial mais renhida em décadas. É um caldeirão o que o apresentador de TV Luciano Huck, 46 anos, exibe em sua trajetória.

Tem incursões a bairros pobres da periferia e do interior, onde, sob os auspícios de empresas patrocinadoras, transforma, num passe de mágica, a "lata velha" num bólido turbinado; o casebre numa morada privilegiada da vizinhança.

Tem a inserção no que um dia se convencionou chamar de "jet set" internacional ao receber na casa de 16 quartos - como anfitrião do casamento de luxo de terceiros - convidados que vão de Bono Vox a Madonna. Luciano Huck transita em diferentes mundos. Mas o da política é uma novidade. Talvez até assustadora.

Nessa quarta-feira, sua faceta empresária viu-se impedida de ir a Curitiba, onde manifestantes armavam pelo Facebook uma "ovada" tal qual o prefeito de São Paulo, João Doria, foi alvo, em agosto, ao visitar Salvador. Luciano Huck gosta de empreender. Já foi sócio da Pousada Maravilha, em Fernando de Noronha, da casa noturna Sirena, em Maresias, abriu seu primeiro bar, o Cabral, em 1992, na capital paulista.

Desde setembro, é sócio da rede de restaurantes Madero, avaliada em R$ 3 bilhões e na qual teria a participação de 5%. Na capital paranaense, Huck era esperado para a inauguração da nova marca do grupo, Jeronimo, voltada para a venda de hambúrgueres mais baratos que a linha premium do grupo que tem 107 lojas - 22 abertas somente neste ano. Seu sócio é Luiz Renato Durski Junior, 55 anos, mais conhecido como Junior Durski, que ruma a passos rápidos para se tornar o "rei do hambúrguer" do Brasil.

Com 447 votos, Durski foi eleito em 1982 vereador pelo PDS, aos 20 anos, em Prudentópolis (PR), sua cidade natal. Mas abandonou o mandato por se dizer decepcionado com a política - a mesma política na qual o parceiro de negócio ensaia entrada pelo cargo máximo. Foi para a Amazônia, virou madeireiro, assim como o pai e o avô, e ficou 15 anos em Rondônia. Fez dinheiro e voltou ao Paraná, onde lançou o primeiro restaurante, em 1999, de comida polonesa, origem da família, antes de abrir o Madero, que tem filiais em 12 Estados, no Distrito Federal e uma em Miami.

Numa nota oficial divulgada à imprensa, na terça-feira, o empresário avisava que a visita do apresentador ao restaurante de Curitiba estava cancelada. "Junior Durski, do restaurante Jeronimo, e seu sócio, Luciano Huck, sabem de sua responsabilidade perante a sociedade, os seus clientes, e o público que frequenta o Shopping Estação, por isso não querem causar tumulto ou qualquer desconforto com as atividades de seu empreendimento".

Por tumulto ou desconforto pode-se entender qualquer coisa. Até mesmo o resultado de uma manifestação raivosa que frite a azeitada articulação para viabilizar o nome de Luciano Huck à Presidência da República - ainda que ele diga, por sensatez, que não é pré-candidato. Se quiser entrar para a política, terá que se acostumar com a ideia de ter oposição. A imagem não será a mesma. Mas o exemplo precursor de Doria mostra os riscos de se ter um comportamento destemido. Huck vai devagar para não se queimar ou se empanturrar como o prefeito da farinata. A chapa para 2018 é quente.

Na dele, cogita Marina como a vice sonho de consumo. Ou Joaquim Barbosa, cuja proximidade inclui o filho do ex-ministro do STF, contratado como produtor de seu programa em 2013. O caldo da candidatura Huck já transborda em informações que dão conta da movimentação acelerada, reuniões de bastidores e até a contratação do estrategista da campanha que elegeu o presidente francês Emmanuel Macron em maio.

Com 37 anos, Guillaume Liégey atuou na campanha de Barack Obama, em 2008, e é especialista no uso de grandes bancos de dados para se chegar, de porta em porta, aos eleitores potenciais de um candidato. Em junho, o estrategista realizou uma videoconferência na qual transmitiu sua experiência para os líderes do movimento Agora!, que tem forte apoio de Huck.

O grupo se diz suprapartidário, centrista e de caráter geracional, composto em sua maioria por jovens de 30 a 45 anos. Entre os sete coordenadores está o empresário Carlos Jereissati Filho, 45 anos, sobrinho do senador Tasso Jereissati (CE), que ontem foi destituído do comando do PSDB pelo senador mineiro e presidente licenciado do partido, Aécio Neves, no mais grave episódio da crise tucana até agora.

Com o PSDB em frangalhos, há mais espaço para o entusiasmo com novas candidaturas. Luciano Huck ultrapassou o prefeito de São Paulo no mercado de lançamentos eleitorais capazes de implodir Lula e Bolsonaro. Tem apenas 5% das preferências, de acordo com o Ibope, o que não é pouco para quem não tem carreira política - nem muito, considerada a popularidade de quem, há 17 anos, é o sucessor do 'Velho Guerreiro" Chacrinha no programa de maior audiência das tardes de sábado. Há margem para crescimento.

Em vez de bomba H, de hidrogênio, prepara-se o "Programa H" que cientistas políticos diriam se tratar de uma improbabilidade. Erram os analistas que subestimam ou mesmo ignoram a importância de fatores-chave para uma campanha presidencial no Brasil, como ter ampla exposição na mídia e estrutura partidária. Até o momento, o apresentador de TV, curiosamente, não tem tempo de TV. A rigor, não tem partido. Afirma que seu interesse é por movimentos cívicos. Mas dialoga com DEM, Rede e PPS, que já lhe estendeu o "tapete vermelho" - e ex-comunista - para a filiação. Siglas que não oferecem bom tempo de propaganda. Um candidato pode prescindir do horário eleitoral para crescer, mas não se for atacado, sobretudo em ação generalizada dos adversários.

O desafio de Huck será, primeiro, construir uma aliança com mínimo de peso e competitividade para converter fama em votos. E convencer os eleitores de que é o benfeitor capaz de transformar o país da crise em um "lar doce lar".

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