Presidente licenciado da sigla, senador mineiro alega buscar ‘isonomia’ para eleições internas, em dezembro
Pedro Venceslau, Renan Truffi Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo.
BRASÍLIA - Num movimento surpreendente, o senador Aécio Neves (MG) destituiu o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do PSDB e expôs uma guerra interna sem precedentes a um mês da convenção que vai definir a nova direção do partido. Presidente licenciado da legenda, Aécio usou o estatuto e indicou para o cargo o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. Tasso e Aécio tiveram uma discussão dura na tarde de ontem. O senador mineiro pediu ao colega que renunciasse ao cargo para que houvesse “isonomia” na disputa pela presidência da legenda – o outro candidato é o governador Marconi Perillo (GO). Tasso rebateu: “Você prorrogou seu mandato de presidente do partido sem consultar a Executiva”. Por trás da crise há o embate entre a ala “governista” do PSDB e os que pregam o rompimento com Michel Temer.
O senador Aécio Neves (MG) destituiu ontem o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do PSDB e expôs a crise interna sem precedentes do partido, a um mês da convenção nacional que vai definir sua nova direção. Com base em prerrogativas do estatuto da legenda, Aécio, presidente licenciado do partido, indicou para o cargo o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, o mais velho dos vice-presidentes da Executiva tucana.
No tiroteio verbal, aliados de Aécio acusaram Tasso de usar a máquina partidária para se beneficiar, enquanto o outro lado apontou pressão do Palácio do Planalto para ajudar Marconi Perillo, governador de Goiás, na eleição partidária e ainda classificou a troca como “golpe”. O pano de fundo da crise é o embate entre a ala “governista” do PSDB e o grupo que prega o rompimento com a administração Michel Temer.
Em nota, o senador mineiro disse que o motivo da destituição foi a “desejável isonomia” entre os candidatos que devem disputar o comando do partido em dezembro: Perillo, que é apoiado por Aécio e pelos quatro ministros tucanos, e Tasso, que representa a “oposição” e lançou sua candidatura anteontem.
“Tasso virou o líder de uma facção do partido. Comprou um lado. Ele não pode usar a máquina. Se você entrar no site do PSDB só tem a campanha dele, que até destituiu diretórios que não o apoiam”, disse o deputado Marcus Pestana (PSDBMG). Ele e o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), que é aliado de Tasso, chegaram a bater boca no plenário da Câmara.
“Goldman já tinha combinado esse golpe rasteiro com o presidente Michel Temer, ministros e com Aécio Neves”, afirmou Coelho.
Goldman, por sua vez, alegou que Aécio tomou a decisão de destituir o presidente interino porque tem “prerrogativa partidária” para isso. “Aécio tem essa prerrogativa estatutária e eu apenas obedeço ao estatuto. Vou procurar fazer uma disputa com mais isonomia.”
‘Irreconciliável’. Tasso não aceitou uma saída voluntária proposta por Aécio e ironizou sua destituição. “Estou desempregado”, disse, destacando que o motivo pelo qual Aécio o tirou do cargo são diferenças “profundas” e “irreconciliáveis” entre eles de comportamento ético, político, visão de governo e fisiologismo.
O senador cearense afirmou que o Palácio do Planalto influenciou no ato de Aécio, que alegou sofrer “pressão”, sem detalhar de quem.
Ontem à tarde, no gabinete do parlamentar cearense, ele e o mineiro tiveram uma discussão dura. Aécio pediu ao colega, em uma conversa reservada, que renunciasse ao cargo para que houvesse “isonomia” na disputa. Tasso, então, respondeu em tom ríspido: “Você prorrogou seu mandato de presidente do partido sem consultar a Executiva”.
O cearense disse então que não renunciaria e, diante do posicionamento, Aécio o avisou que, com base no estatuto, determinaria sua destituição.
Segundo interlocutores do senador cearense, Tasso conversou por telefone com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria demonstrado “perplexidade”.
O ex-presidente interino recebeu telefonemas de tucanos de vários Estados, entre eles Geraldo Alckmin. “Eu não fui consultado. E, se fosse, teria sido contra, porque não contribui para a união do partido”, disse o governador paulista em nota.
Também em nota, Perillo, que começa hoje pelo Rio Grande do Sul a rodar o Brasil em campanha para presidir o PSDB, disse que seria “antiético” se não houvesse a destituição de Tasso. “A máquina partidária poderia pender para o lado de quem estivesse no comando”, afirmou Perillo.
Diante do impasse, ganha força a tese de se buscar um terceiro nome de consenso para presidir o PSDB.
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