A decisão do senador Aécio Neves de afastar Tasso Jereissati da presidência do PSDB foi o mais agressivo lance da guerra interna que rachou o partido desde que vieram à tona as gravações da JBS. A revelação dos áudios de Joesley Batista dividiu tucanos em dois campos definidos: de um lado, os que defendiam a manutenção do alinhamento ao governo e o suporte a Aécio, do outro, os que votavam pela investigação do presidente da República e que tentavam isolar-se ao máximo do senador.
Nos últimos cinco meses, Tasso Jereissati tentou recolocar a legenda em contato com os anseios das ruas — após observar o enorme desgaste da imagem da sigla. Ironicamente, ele foi escolhido pelo próprio Aécio para assumir interinamente a presidência após o caso JBS tornar inviável a continuidade do mineiro à frente da legenda. O ponto de inflexão da gestão Tasso foi o mea-culpa que fez em agosto, nos dez minutos do programa partidário de televisão, uma inovação entre as legendas brasileiras atingidas pela Lava-jato.
Desde então, no entanto, sua retirada do cargo começou a ser traçada. Alvo do Supremo e do Conselho de Ética do Senado, Aécio evitou por meses fazer o movimento brusco e desgastante. Tasso, sabedor do capital político externo que angariava, cansou de provocar, dizendo que seu cargo estava à disposição caso o ex-presidenciável quisesse retomar o comando da sigla.
Hoje, já aliviado do risco de o Supremo afastá-lo do mandato e sem a pressão do Conselho de Ética por trás, Aécio desferiu o ataque que há muito era desenhado entre os governistas tucanos. No lugar de Tasso, colocou o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, ligadíssimo ao senador José Serra, ex-ministro de Temer e um dos principais defensores da manutenção da aliança com o PMDB.
Os chamados "cabeças pretas", que lideram a ala independente da legenda, dizem que o afastamento de Tasso foi uma articulação direta entre Aécio, o presidente Michel Temer e os ministros tucanos. A ala aecista, por sua vez, justifica a decisão, destacando que não fazia sentido Tasso seguir no comando da legenda após ser lançado, ontem, simultaneamente às presidências do partido e da República.
À distância, o governador Geraldo Alckmin apenas observa o incêndio de Brasília consumir adversários recentes e antigos. Se é verdade que Goldman sempre foi mais próximo de Serra do que do governador paulista, é igualmente verdade que o novo presidente tucano tem como inimigo figadal hoje o prefeito João Doria — até o momento, único adversário de peso contra Alckmin na disputa pela candidatura presidencial tucana.
A retirada de Tasso da presidência do partido também pode interromper o momentum do cearense dentro da legenda, que levou o senador Cássio Cunha Lima (PB) a lançá-lo à Presidência da República nesta quarta-feira.
Faltam exatos 30 dias para a eleição do novo presidente do PSDB. Trata-se de um período decisivo para o futuro da legenda. Hoje, apenas Alckmin parece, em alguma medida, ser um ponto de convergência da maioria dos tucanos. Resta saber se ele finalmente decidirá entrar em campo na construção da unidade da legenda ou se permanecerá à distância para ver quem irá assomar dos escombros da guerra interna. Isso, é claro, se ao final sobrar algo daquele partido que polarizou com o PT a disputa pelo comando do país no último quarto de século.
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