- Folha de S. Paulo
Sem projetos expostos às claras, país agarra-se a símbolos
É preciso bem mais do que as habilidades das intérpretes de libras que acompanham Jair Bolsonaro para tentar entender o que vai na cabeça do novo presidente.
Na campanha, ele passou ao largo dos debates e respondeu a pouquíssimos questionamentos sobre plano de governo. Vitorioso, deu entrevistas curtas, desautorizou assessores e engatou interminável vaivém.
Sem que os projetos sejam expostos às claras, o país agarra-se a sinais. Cada gesto logo vira indicador de alguma possível política vindoura. É em torno desses símbolos que tem girado o debate público no Brasil.
Sinais são faltam. Alguns representam marketing em estado bruto, como a arminha com as mãos na tribuna da Câmara, depois transformada em coraçãozinho, ou o café da manhã com pão e leite condensado.
Outros, mais importantes, dependem da interpretação dada ao sinal. O maior dos símbolos, Sergio Moro, representa um governo que cooptou a Lava Jato ou que vai combater a corrupção? Por falar no ministério, ele vai sendo formado com político na Casa Civil, economista na Economia, juiz na Justiça, militar na Defesa, cientista na Ciência e agrônoma na Agricultura. Significa o quê?
O histórico de Bolsonaro sinaliza pouco apreço por direitos civis. Mas, como afirmou Moro, não há nada do novo governo nesse sentido. Qual então a agenda dos dois para isso? Sem ela, prevalece o símbolo.
O Ministério do Trabalho acabou. É emblemático. Mas o que mudará?
Há sinais contraditórios. O homem que transformou a facada que levou em um potente símbolo de perigo de vida ignorou um protocolo básico de segurança e pegou o mesmo avião que seu vice. Ele visitou Taiwan, mas abriu sua diplomacia recebendo o embaixador da China.
No Congresso, o eleito demarcou um novo símbolo, tirado dos pontos cardeais. "Na topografia existem três nortes. Na democracia, há só um norte: o da Constituição." O governo daria um bom sinal se começasse a trabalhar num plano mais terreno.
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