- O Estado de S.Paulo
Cresce número de analistas que acredita que o BC só vai subir os juros em 2020
Na sua última reunião de 2018, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve sinalizar, no comunicado a ser divulgado hoje, que a taxa Selic ficará estável em 6,50% por um período mais prolongado do que se previa. Na mais recente pesquisa Focus, do BC, os analistas projetam juros a 7,50% ao fim de 2019, com a primeira alta da taxa em setembro. Há quatro semanas, essa estimativa era de um aperto monetário maior, com a Selic a 8,00% no fim de 2019.
Desde então, a inflação voltou a surpreender para baixo. O IPCA de novembro registrou deflação de 0,21%, caindo muito além do piso das projeções dos analistas, que era de uma queda de 0,14%. Em 12 meses até novembro, a inflação acumulada foi de 4,05%; a meta do BC é de 4,50% em 2018 e de 4,25% em 2019.
Essa surpresa contribuiu para derrubar as expectativas inflacionárias. Na pesquisa Focus, a projeção do IPCA em 2018 caiu de 4,23% há quatro semanas para 3,71%. Já a estimativa de inflação em 2019 caiu de 4,21% para 4,07%.
Além disso, a recuperação da atividade segue em marcha lenta, com a taxa de desemprego ainda elevada (11,7%) e grande ociosidade na economia, o que abre espaço para que um aumento na demanda não gere maior pressão sobre os preços.
Não à toa, cresce a corrente dos analistas, ainda minoritária, que acredita que o BC somente começará a elevar os juros em 2020, especialmente se o governo Bolsonaro conseguir aprovar alguma reforma na Previdência e se o cenário externo não piorar.
“Assumindo a aprovação de uma reforma da Previdência razoável em meados do ano e um mundo que desacelera, mas não colapsa, a Selic deve começar a subir apenas no final de 2019”, diz um experiente economista paulista. “Se tivermos uma surpresa positiva com a reforma (qualidade e/ou rapidez), é possível que essa alta da Selic seja postergada para o início de 2020.”
Vêm do cenário externo as maiores incertezas a turvar o horizonte da política monetária em 2019, quando o BC será comandado por Roberto Campos Neto.
Quantas vezes o Federal Reserve (Fed) irá elevar os juros americanos no ano que vem? A guerra comercial entre Estados Unidos e China irá sair do controle a ponto de afetar a economia mundial? A desaceleração da economia chinesa poderá ser mais forte do que o previsto? Qual o risco de recessão nos EUA? A saída do Reino Unido da União Europeia (o chamado Brexit) poderá ser desordenada e gerar uma turbulência nos mercados globais?
Dependendo do desfecho de todas essas dúvidas em 2019, o dólar poderá voltar a se valorizar fortemente em relação às principais moedas internacionais, incluindo o real brasileiro, podendo afetar as expectativas inflacionárias.
Assim, o foco deste Copom passará a ser a comunicação do balanço de riscos, segundo renomado economista.
“Com a elevada volatilidade durante o período eleitoral e a potencial desancoragem de expectativas, o BC destacava que os riscos para a inflação estavam assimétricos para cima”, explica ele. “Desde o último Copom, três dias após o segundo turno da eleição, expectativas de médio prazo ficaram ancoradas, o câmbio tem menor risco de depreciação e a inflação corrente surpreendeu muito para baixo, enquanto a atividade segue desapontando na velocidade de retomada.”
Isso deve ter reavivado no Copom receios de que a inflação fique mais tempo do que esperado abaixo da meta, o que, via inércia positiva, alivia adicionalmente pressões inflacionárias em 2019, na visão desse economista. “Nesse contexto, faz sentido tornar simétrico o balanço de riscos para inflação, com riscos tanto à alta quanto à baixa”, diz ele, para quem a taxa Selic começará a subir gradualmente no terceiro trimestre de 2019.
“A agenda de reformas aqui e como o mundo vai evoluir nos primeiros meses de 2019 é que vão definir a cara da política monetária ao longo de 2019”, acrescenta o experiente economista paulista ouvido mais acima.
Dificilmente, Ilan Goldfajn deverá se comprometer com uma sinalização muito explícita sobre os próximos passos do Copom, na sua penúltima reunião à frente do BC. Mas, ao menos, o seu sucessor terá tempo para mexer nos juros, se quiser.
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