domingo, 17 de março de 2019

Eduardo Bolsonaro, chanceler informal

Aliado de Araújo ou com possibilidade de ofuscá-lo, deputado amplia sua influência na política externa do país

Janaína Figueiredo / O Globo

BRASÍLIA - Para alguns, ele será um aliado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que tem sido alvo de questionamentos cada vez mais intensos pelo que seus críticos consideram uma falta de rumo na política externa brasileira. Para outros, sobretudo integrantes da área militar e também alguns diplomatas, será uma espécie de chanceler nas sombras. O fato de ser filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) lhe dá enorme poder, e agora, como presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara (CREDN), o deputado Eduardo Bolsonaro poderá ter enorme influência em assuntos pelos quais vem se interessando desde a campanha de 2018 e que o levaram a visitar Estados Unidos e Colômbia antes mesmo da posse do pai.

A realidade é que Araújo foi, em grande medida, uma escolha na qual o deputado teve participação. Em Brasília, muitos se perguntam por que a opção por um chanceler que chegou a embaixador há menos de um ano, nunca exerceu essa função no exterior e até sua nomeação como ministro era uma figura de pouco peso no Itamaraty. A resposta, para alguns, é clara: trata-se de uma pessoa coma qual o deputado Bolsonaro poderá compartilhar apolítica externa e, em alguns casos, até mesmo impor sua visão.

—De alguma maneira, o deputado já vem exercendo uma função importante em política externa e poderia, de fato, tornar-se o verdadeiro ministro da área, sem sê-lo —apontou uma fonte diplomática, que lembrou a Cúpula Conservadora das Américas, organizada pelo deputado em dezembro, em Foz do Iguaçu .— É evidente que existe o interesse de ser uma liderança conservadora na América Latina.

“IDEIAS COMPATÍVEIS”
Em sua viagem aos EUA no ano passado, o deputado reuniu-se com Steve Bannon — ex-estrategista do presidente Donald Trump e líder da organização de extrema direita O Movimento —com quem pretende voltar se encontrar durante a primeira viagem oficial do chefe de Estado a Washington. De acordo com o deputado, o presidente também participará da reunião, onde estaria, ainda, o guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho.

Não há dúvidas sobre a importância que o presidente dá às opiniões do deputado quando o assunto é política externa. Para outras fontes da área diplomática, a escolha de Eduardo para a presidência da CREDN é positiva. Ele tem influência no Executivo e ideias “totalmente compatíveis” com as de Araújo, apontaram. Tem, também, segundo elas, capacidade de liderança e mobilização. A expectativa em alguns setores da Chancelaria é de que o deputado, em parceria com Araújo, represente uma contraposição de forças aos militares, que têm restrições ao ministro. Não são todos. Alguns, como o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), têm ajudado Araújo, até mesmo em situações delicadas envolvendo o deputado.

Não está claro, portanto, se esta parceria será benéfica ou prejudicial ao chanceler. Já houve, no passado, quedas de braço delicadas, nas quais, segundo fontes, Araújo recorreu a Heleno para resolver uma disputa interna. Uma delas foi a nomeação de Alex Carreiro para presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). O ex-funcionário, exonerado dez dias depois, teria sido uma escolha do agora presidente da CREDN, objetada pelo chanceler por falta de condições técnicas. Segundo fontes do governo, a participação de Heleno no debate foi crucial para que Araújo conseguisse a saída de Carreiro e sua substituição pelo embaixador Mario Vilalva.

SINTONIA SOBRE VENEZUELA
Policial federal de carreira, Eduardo Bolsonaro, que está em seu segundo mandato, assegurou que os desafios à frente da comissão serão confrontados “com o espírito público, com respeito às divergências e na promoção do debate democrático”. Ele elegeu a crise humanitária da Venezuela como um dos temas prioritários de sua gestão, neste caso, em sintonia fina com o chanceler.

—Trata-se de uma crise que há muito deixou de ser um tema de política interna daquele país, e o Brasil jamais irá desrespeitar o princípio da não ingerência. No entanto, a crise atravessou fronteiras. Entre três e quatro milhões de venezuelanos já abandonaram o país por falta de comida e remédios. Podemos contribuir com a minimização dos problemas — declarou, após reunir-se com a representante no Brasil de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional venezuelana e proclamado por ela “presidente encarregado” do país, professora Maria Teresa Belandria, também muito próxima a Araújo.

O deputado acumulará, ainda, a presidência da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) e no mesmo discurso defendeu o fortalecimento do tripé Relações Exteriores, Defesa e Inteligência, como políticas de Estado convergentes e integradas. —As três guardam relação direta com o desenvolvimento nacional, elemento fundamental para a sustentabilidade da nossa soberania —frisou.

Num gesto que buscou claramente mostrar uma atitude conciliadora em relação ao chefe do Itamaraty, o presidente da CREDN apresentou quatro requerimentos para a realização de audiências públicas com o chanceler e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e de dois seminários sobre a política externa brasileira e a defesa nacional.

—O Brasil não pode abdicar de sua projeção, de sua influência e de sua presença nas grandes decisões, sejam elas políticas, humanitárias e/ou econômico-comerciais — apontou o deputado, que pregou uma “plataforma muito mais pragmática, blindada de contaminação ideológica e voltada à prevenção e resolução de crises”.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Eduardo está com tudo,e continua com aquela prosa de ''contaminação-ideológica''.