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Trump e o seu espelho
Não é normal que um presidente da República do Brasil se desmanche em elogios escancarados ao presidente da República de outro país, ou ao Chefe de Estado que acaba de visitar. Os elogios devem ser protocolares, discretos, quando nada para que não fique a impressão de que foi subserviente, ou de que se comportou simplesmente como um jeca.
Não é normal que um presidente da República do Brasil, ao cabo de uma viagem ao exterior, seja apontado pela imprensa estrangeira como um bajulador do anfitrião. Presidentes da República do Brasil já foram criticados pela imprensa internacional por outros motivos – uns por chefiarem governos ditatoriais, outros por se revelarem incompetentes, mas não por isso.
Não é normal que um presidente da República do Brasil interfira em assuntos internos do país que visita desejando a quem o recepciona que se reeleja, ou dizendo com todas as letras que acredita em sua reeleição. E se ela não acontecer? Como poderá contar no futuro com a boa vontade do novo governo que ele mesmo desejou que fosse derrotado?
Não é normal que um presidente da República do Brasil, em visita a outro país, faça declarações tão repulsivas contra seus compatriotas forçados um dia a deixarem o local onde nasceram à procura de melhores condições de vida. E que chegue ao ponto de afirmar que apoia a construção de um muro para separar o país que visita dos seus vizinhos.
Não é normal que um presidente da República do Brasil, em visita a outro país, deixe seu ministro das Relações Exteriores em posição subalterna para valorizar a presença de um dos seus filhos, parlamentar reeleito, cada vez mais influente nas decisões de política externa tomadas por seu pai, e fã de carteirinha do presidente do país visitado a ponto de merecer suas deferências.
Por fim, não é normal que um presidente da República do Brasil, em visita a outro país, peça para conhecer a sede de uma das maiores agências de espionagem do mundo, famosa ao longo de sua história por financiar golpes contra presidentes legitimamente eleitos, e manter bases secretas no exterior onde tortura presos políticos. Definitivamente, não é normal.
Se nenhuma dessas coisas é normal, seria possível engoli-las caso o resultado da visita configurasse um retumbante êxito – mas não. Por tudo conhecido até aqui, o visitante concedeu muito mais do que obteve. Dizem seus devotos que a boa química estabelecida entre ele e seu anfitrião dará preciosos frutos. O futuro a Deus pertence. O Deus do visitante sequer é o mesmo Deus do visitado.
Os garotos venceram, taokey?
A saga de uma família
Arrastem as correntes os derrotados – ministros militares, políticos dos mais variados partidos e a mídia em geral. Contra fatos, argumentos não passam de chororô. É fato que os garotos Bolsonaro venceram todos aqueles que queriam vê-los distante da boca do palco do governo do pai.
O sinal mais poderoso da vitória dos garotos acendeu ontem dentro e fora da Casa Branca durante a visita do presidente Jair Bolsonaro ao seu modelo de perfeição, o presidente Donald Trump. E só não viu quem não quis. Tanto viu o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, que teve um chilique.
No salão oval da Casa Branca, uma vez esvaziado dos jornalistas barulhentos, foi o deputado Eduardo Bolsonaro quem ficou ao lado do pai para testemunhar sua conversa com Trump e com seus principais assessores. Ernesto foi dispensado de ficar. Para atenuar sua humilhação, disseram-lhe que foi Trump que quis assim.
Nos jardins da Casa Branca, depois que Bolsonaro fez votos para que Trump se reeleja nas eleições do próximo ano, o presidente americano retribuiu a gentileza apontando na direção de Eduardo, festejando sua presença ali, e elogiando seu trabalho em prol de melhores relações entre os dois países.
Eduardo é assumidamente uma tiete de Trump. Já foi visto em um resorts do presidente em Las Vegas para participar de uma reunião da seção local do Partido Republicano. Seu inglês foi muito elogiado. No ano passado, desfilou em Nova Iorque com um boné de campanha onde pedia um novo mandato para Trump.
Foram amigos americanos de Eduardo que lhe sopraram a ideia de Bolsonaro visitar a sede da CIA. Eduardo soprou nos ouvidos do pai. Ambos fissurados em Coca-Cola, na Disneylândia e em calças jeans, concordaram em visitar a sede da CIA. Só eles sabem o que disseram e o que ouviram por lá. O ministro Sérgio Moro também sabe.
A retaguarda da nova família imperial brasileira ficou por aqui aos cuidados do vereador Carlos Bolsonaro, responsável pelo que o pai escreve ou compartilha nas redes sociais. Carlos voou do Rio para Brasília e foi visto em despachos não só no Congresso como também no Palácio do Planalto onde emprega amigos e informantes.
Quanto aos outros irmãos, Flávio, o senador, permanece ocupado com os seus e os rolos de Queiroz. E Renanzinho, além de continuar namorando todas as meninas – menos uma – do condomínio onde o pai tem casa, agora se dedica a aprimorar a pontaria numa academia de tiros. São vencedores também.
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