Com o crescimento do grupo nas eleições da UE, não é inteligente ir contra políticas preservacionistas
A imagem do governo Bolsonaro nas questões de meio ambiente começou a ser degradada ainda na campanha, quando foram feitas promessas que resultariam em recuos sérios no trabalho de prevenção, principalmente na Amazônia.
Houve alguns recuos, como a preservação do Ministério do Meio Ambiente, sem transformá-lo numa autarquia da pastada Agricultura. Contribuiu para a decisão o alerta feito ao ainda candidato Bolsonaro pelo próprio agronegócio, sobre as sanções que as exportações de carnes e grãos brasileiros enfrentariam— e enfrentarão—caso as áreas de produção sejam consideradas de desmatamento ilegal.
Mas a entregada pastado Meio Ambiente a Ricardo Salles, crítico do preservacionismo, nada ajuda. Para reforçara percepção de que os cuidados com o meio ambiente estão sendo relaxados, dados recentes mostram que o desmatamento na Amazônia tem ganhado velocidade. Segundo o Imazon, a derrubada de árvores, em janeiro, aumentou 54% na região em comparação ao mesmo mês de 2018.
Isso costuma acontecer quando a indústria do desmatamento ilegal detecta recuos na política ambientalista. Ela se antecipa e põe mais motosserras para funcionar.
Assim, foi uma surpresa positiva que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em Paris, no fim de maio, tivesse uma audiência com o colega francês, Jean-Yves Le Drian, e acenasse para ele com o aprofundamento do diálogo entre Brasil e França sobre meio ambiente e direitos humanos, outro tema sensível para os franceses. Araújo propôs, ainda, a visita de especialistas para melhorar a compreensão da França acerca da real postura brasileira sobre os dois assuntos.
A simples iniciativa do chanceler de ter essa conversa em Paris é auspiciosa. Se isso significa a possibilidade real de recuos em posições assumidas pelo governo e o próprio presidente, não se sabe. O ministro aproveitou para garantir que o Brasil não sairá do Acordo de Paris sobre o Clima. Outra oportuna revisão do que dissera Bolsonaro na campanha. Mas, infelizmente, não se pode confiar em qualquer mudança para melhor. A ver.
Por coincidência ou não, o tom do chanceler em Paris está em linha com algumas guinadas políticas para as quais as eleições europeias apontaram.
Se a extrema direita, nacionalista, avançou sobre espaços da centro direita e centro esquerda, forças europeístas também se fortalecerem. Com destaque par aos Verdes, sempre atentos a oque acontece na Amazônia. O partido dos defensores do meio ambiente foi o terceiro mais votado na França, o segundo na Alemanha, crescendo também em outros países. Sua bancada no Parlamento Europeu aumentou em cerca de 40%.
Não é inteligente, portanto, o governo Bolsonaro ou qualquer outro que deseje ter boas relações com o núcleo da União Europeia — Alemanha, França — ir na contramão do preservacionismo.
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