Difícil um candidato presidencial não aproveitar um pleito municipal para tentar montar uma falange de prefeitos e vereadores que possam ajudá-lo na campanha pela permanência no Planalto. Por isso mesmo, por mais que diga o contrário, é inevitável o envolvimento do presidente Jair Bolsonaro, virtual candidato à reeleição em 2022, nas eleições municipais deste ano.
Não é, reconheça-se, empreitada isenta de riscos. Ela impõe a Bolsonaro dilemas de naturezas diversas. Para começar, qualquer apoio de Bolsonaro pode transformar a eleição numa espécie de plebiscito sobre o presidente. Quer dizer: a derrota do apoiado jogará estilhaços no candidato de 2022.
É o que explica a vacilação do presidente no Rio, sua base eleitoral. O prefeito Marcelo Crivella, candidato do Republicanos, já esteve próximo de obter apoio de Bolsonaro. As denúncias do Ministério Público, porém, abalaram a relação. Candidato denunciado se torna radioativo. É sintomático que o concorrente do PSL à prefeitura carioca, o deputado federal Luiz Lima, seja incensado pelas hostes bolsonaristas.
Em São Paulo, mesmo que os sinais de Bolsonaro sejam mais claros, eles não garantem o apoio do bolsonarismo. O deputado Celso Russomanno, também do Republicanos, conhecido por ser bom de partida e ruim de chegada, conta com apoio de Bolsonaro e pediu-lhe ajuda para atrair o PSL. Mas o partido lançou Joice Hasselmann, ex-bolsonarista. Se fosse possível, o presidente aumentaria seu poder de fogo para fustigar Bruno Covas (PSDB), que atraiu DEM e MDB para seu projeto de reeleição, e tentar faturar a derrota do arquiadversário João Doria, esteio de Covas. Mas seu eleitorado vai rachado ao primeiro turno.
Ao espalhar apoios pelo país, Bolsonaro testa a influência do auxílio emergencial, cujo efeito populista já provou — e gostou (se atrair o voto em regiões pobres, o risco é ele mandar logo às favas a responsabilidade fiscal para criar seu Renda Brasil de olho em 2022).
Outro fator que facilita a vida de Bolsonaro é a cláusula de barreira. Ao impedir coligações em pleitos proporcionais, ela reduz o número de legendas nos Legislativos e leva os partidos a lançar candidatos mais competitivos. O presidente tende a se tornar, por mera gravidade, um polo de atração nas disputas, sobretudo no segundo turno.
Também conspira a favor de Bolsonaro o fracasso das esquerdas na costura da tal “frente ampla” contra ele. Em São Paulo, o PT, ao lançar o controvertido Jilmar Tatto, rachou o partido. Petistas históricos apoiam Guilherme Boulos (PSOL). No Rio, Marcelo Freixo (PSOL) sofreu pressão para se lançar, mas a legenda manteve a chapa da deputada estadual Renata Souza, sem apoio do PT, que lançará Benedita da Silva. A esquerda também vai às urnas dividida em Salvador e no Recife.
As urnas deixarão claro o tamanho do movimento bolsonarista e das
diversas alternativas para formar polos contrários ao presidente em 2022: com
João Doria ou Sergio Moro; PT ou Flávio Dino; Ciro Gomes ou até a mítica
“frente ampla” pela democracia.
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