quarta-feira, 7 de abril de 2021

Bruno Boghassian - De papel passado

- Folha de S. Paulo

Com chegada de Valdemar, partidos fecham olhos para ação delinquente do presidente

Valdemar Costa Neto visitou Jair Bolsonaro pela segunda vez em sete dias. Depois de um encontro reservado na semana passada, o chefe do PL foi um dos convidados de honra na posse de Flávia Arruda como ministra da Secretaria de Governo. O ex-deputado ajudou a inaugurar a placa oficial do centrão no Planalto e reforçou a aliança política para proteger o presidente.

O PL já tinha cargos no segundo escalão, por indicação do próprio Valdemar. Mas a chegada ao quarto andar do palácio, com o presidente do partido na foto, mostra que esse é um acerto de longo prazo, custo elevado e alto potencial de retorno.

Bolsonaro abriu um gabinete para o centrão no momento em que o grupo farejava a fragilidade do governo. A pandemia galopante, a popularidade decadente e o buraco da economia fizeram disparar a cotação dos partidos de sua coalizão. Agora dentro do Planalto, eles devem fechar de vez os olhos para a ação delinquente do presidente na crise.

Essa união de papel passado indica que Bolsonaro fez mais do que uma contratação de curto prazo, para aprovar alguns projetos de interesse do governo. Além da sobrevivência e da blindagem ao impeachment, o presidente espera ter lançado a pedra fundamental de uma aliança para a reeleição em 2022.

O núcleo duro desse grupo é formado pelo PP de Arthur Lira, pelo PL de Valdemar e pelo PTB de Roberto Jefferson. Os dois últimos, aliás, foram parceiros e desafetos no escândalo do mensalão. Antes de ser preso pelo esquema, Valdemar disse numa entrevista: "o inferno na minha vida foi o Roberto Jefferson". "Vai para o inferno! Um canalha!", completou.

A trinca de partidos, com menos de 100 deputados, não teria votos suficientes nem para aprovar uma moção de aplauso pelo corte de cabelo do presidente. Com o novo ministério, no entanto, o centrão vai gerenciar bilhões em emendas do Orçamento para agregar outros parlamentares à coalizão. Sócios no governo, esses políticos já cobraram o preço para manter Bolsonaro no poder.

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