terça-feira, 27 de setembro de 2022

Andrea Jubé - Reta final testa se ataque é melhor defesa

Valor Econômico

Qualitativas mostram eleitor cansado de conflito

A cinco dias das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram a corrida eleitoral, investem em estratégias distintas para tentar chegar na frente no primeiro turno. Ou liquidar a fatura em rodada única.

Com 51% dos eleitores declarando que não votam nele, segundo levantamento do Ipec divulgado ontem, Bolsonaro dobrou a aposta nos ataques diretos a Lula, no esforço de tentar elevar a rejeição do adversário, que está em 35%, e ressuscitar o sentimento antipetista, que encarnou em 2018.

Na outra ponta, Lula tenta reencarnar o personagem da campanha de 2002, que o alçou à Presidência: “o Lulinha paz e amor voltou com força total”, disse ao apresentador Ratinho, no dia 22 de setembro.

A possibilidade de vencer em primeiro turno estaria ao alcance de Lula, conforme sugerem pesquisas recentes, como o Ipec e o último Datafolha. Mas a proeza depende de uma combinação de fatores, como o sucesso da estratégia do voto útil, associada a uma baixa taxa de abstenção.

A faixa majoritária de eleitores de Lula abrange os brasileiros de baixa renda e menos escolarizados, segmento que, tradicionalmente, responde pelos maiores índices de não comparecimento.

Lula externou essa preocupação no domingo, ao discursar em ato na quadra da Escola de Samba Portela, ao lado do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). O petista fez um alerta de que seus adversários podem até mesmo intervir junto a empresas para que tirem ônibus de circulação no dia 2 para o povo não ir votar. “E a gente vai ter que ir votar a pé se necessário, a gente vai ter que votar de qualquer jeito”, bradou.

Convicto de que o estilo agressivo conquistou o eleitorado em 2018, Bolsonaro decidiu partir para o radicalismo contra Lula nos discursos e na propaganda eleitoral nessa reta final, determinado a resgatar o antipetismo em que surfou na sua vitória eleitoral.

No sábado, em Campinas (SP), ao longo de um discurso que durou 18 minutos, Bolsonaro chamou o principal adversário de “ladrão” nove vezes - o equivalente a uma bordoada a cada dois minutos. Também referiu-se ao petista como “chefe de quadrilha” e o “maior ladrão que passou pela história da humanidade”.

O contraste entre ambas as posturas é cristalino como a água. Na véspera da ofensiva bolsonarista, Lula estava em Ipatinga, Minas Gerais, onde comandou um ato com o candidato ao governo, Alexandre Kalil (PSD). Em uma coletiva de imprensa, foi questionado se estaria disposto a anistiar Bolsonaro, caso vencesse o pleito.

Lula coçou o bigode (a velha mania), encarou o repórter e respondeu que se vencer nas urnas, entrará em campo com o espírito desarmado. “A primeira coisa que eu quero é ganhar as eleições, a segunda coisa é montar o governo e a terceira coisa é começar a governar”, afirmou. “Eu não vou tomar posse com espírito de vingança de ninguém”, completou.

Na sequência, o petista voltou a criticar alguns temas sobre os quais o governo atual impôs sigilo de 100 anos, garantindo blindagem política ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, e aos gastos do cartão corporativo presidencial, por exemplo. Mesmo assim, Lula disse que espera que Bolsonaro, caso venha a ser processado, tenha tratamento diferente: “Se tiver algum processo, e que não será feito nunca pelo presidente, mas pela própria Justiça, posso te garantir que ele terá a presunção de inocência que eu não tive”.

Ambas as estratégias mostram que Lula está seguindo a cartilha escrita pela coordenação da campanha, enquanto Bolsonaro decidiu seguir o instinto, contrariando a cartilha dos caciques do Centrão, que pregam o candidato moderado, mais apto a atrair o voto das mulheres.

Essa aparente indisciplina teria sido um dos motivos das “férias” extemporâneas do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que viajou para o Piauí na semana passada para cuidar de sua base eleitoral. Na função de um dos coordenadores da campanha à reeleição, entretanto, Ciro recuou, diante da repercussão negativa do gesto.

Não é de agora que pesquisas qualitativas internas de ambas as campanhas indicam que o eleitor brasileiro está cansado do radicalismo político e quer paz. Por isso os líderes do Centrão insistem que Bolsonaro vista o figurino do político contido, que ele envergou, por exemplo, ao discursar na Assembleia da ONU no dia 20. Se Bolsonaro transgride, de um lado, do outro, Lula obedece, mede as palavras contra o adversário nas aparições ao vivo e reserva a artilharia pesada ao horário eleitoral.

No dia 13 de setembro, o presidente afirmou, no programa do Ratinho, que o único erro que cometeu em seu governo foi “falar alguns palavrões”. Reconheceu que sua “maneira de falar é um pouco grosseira” e que, por isso, “o pessoal me critica”.

Nove dias depois, coube ao próprio Ratinho admitir, no programa em que entrevistou Lula, que o estilo de Bolsonaro está espantando uma fatia do eleitorado. Durante a entrevista, o petista chamou o presidente de “ignorante”, ao criticá-lo pela postura adotada na pandemia. Ratinho concordou: “Muita gente está deixando de votar no Bolsonaro por causa do jeitão dele e ele sabe disso”.

A rodada mais recente do Ipec (ex-Ibope) divulgada nessa segunda-feira mostrou Lula com 48% das intenções de voto na pesquisa estimulada, oscilando um ponto para cima, enquanto Bolsonaro manteve os mesmos 31% das últimas semanas. Por esse instituto, o candidato à reeleição ostenta esse mesmo percentual há três semanas.

Em contraponto, nessas mesmas três semanas, Lula cresceu 4 pontos percentuais, segundo o Ipec. O petista tinha 44% das intenções de voto no levantamento de 5 de setembro e alcançou 48% no dia 26 do mesmo mês.

Há divergências entre os diversos institutos que estão em campo mapeando a eleição presidencial mais acirrada desde a redemocratização. Mas aqueles mais tradicionais e de mais credibilidade são unânimes em indicar um crescimento lento de Lula, enquanto Bolsonaro permanece estável. Essa conjuntura deveria levar o presidente a refletir se, nessa reta final, está correta a aposta na máxima do futebol de que o ataque é realmente a melhor defesa contra o adversário.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Bozo não está convicto de nada. Ele e sua súcia estão desesperados, batendo cabeça e NÃO LHES RESTA OUTRA OPÇÃO.
Por que?
Porque agora é LULA!
E bozo é péssimo.

Anônimo disse...

Broxonaro é Tchutchuca do Centrão! O Centrão acha ele ótimo...

Anônimo disse...

Bolsonaro é um grande atirador! Já acertou centenas de tiros bem no meio do próprio pé... Agradecemos tanta dedicação do genocida pra facilitar a eleição de Lula no primeiro turno!