O Estado de S. Paulo
Nem Lula nem Bolsonaro defendem a
democracia como um fim em si mesma, mas apenas como um instrumento para a
conquista do poder.
Pobre Brasil diante de uma escolha entre
duas falsas credenciais democráticas, uma representada por Lula, outra por
Bolsonaro. Nem um nem outro defendem a democracia como um fim em si mesma, mas
apenas como um instrumento para a conquista do poder, após a qual as
instituições da democracia são progressivamente minadas. Diferenças menores
consistem em ser esses respectivos discursos mais ou menos explícitos, pois,
para seus objetivos serem alcançados, devem ser velados.
Lula, atualmente, apresenta-se como uma espécie de redentor da democracia, em sua luta contra o autoritarismo bolsonarista. Constituiu-se uma dita “frente democrática” para dar guarida a essa narrativa, que se contrapõe à própria história do PT e aos governos petistas, seja com Lula, seja com Dilma. Sob os seus respectivos reinados, a democracia foi constantemente minada. Logo, tornar o “salvador dos pobres” em “salvador da democracia” é um salto ideológico dos mais perigosos. Antes, como agora, paira a ameaça da censura, encoberta pela proposta de regulação da mídia. O tombo pode ser enorme.
Sob Lula, a corrupção, conhecida sob as
formas do mensalão e do petrolão, não é somente uma grave infração moral,
corroendo os alicerces éticos da Nação, numa perversão do refrão petista de
outrora de “ética na política”, mas uma corrosão das instituições
representativas. Uma vez que suas instituições são corroídas, mediante a compra
de parlamentares e partidos, a democracia sofre um golpe em seus próprios
fundamentos. A tentativa foi explícita do presidente em controlar completamente
o Congresso Nacional, alterando o equilíbrio dos Poderes que diz hoje defender.
Lula e o PT foram e são ferventes
admiradores da ditadura comunista em Cuba. O ex-presidente se contorce em narrativas
toda que vez deve enfrentar prisões arbitrárias dos oponentes ao regime. A
tortura e a morte são, então, justificadas. Nada muito diferente do apoio
incondicional ao regime chavista, que se tornou uma outra ditadura comunista,
sob o manto do “socialismo do século 21”. Quem não se lembra do discurso de
Lula elogiando, sob Chávez, o “excesso de democracia” naquele país? O
autoritarismo mudou de nome! Mais recentemente, o silêncio total a respeito do
regime comunista de Daniel Ortega, na Nicarágua, que destrói as instituições
democráticas, persegue e prende seus opositores, em particular, padres. Até a
religião, principalmente católica, torna-se um inimigo a ser abatido.
No campo, graças às invasões do MST, com a
violência adentrando nas propriedades rurais, o País viveu o desrespeito
explícito da propriedade privada, base mesma da democracia. O Estado
Democrático de Direito foi simplesmente arruinado, sob o apoio explícito de
Lula e seu olhar complacente. Vangloriava-se de usar o boné do MST! Algo mudou?
Bolsonaro não está melhor na foto. Durante
seus quase quatro anos de mandato, não cessou de atacar as instituições
democráticas. Após não ter conseguido se impor ao Congresso Nacional, conforme
alardeara em sua campanha, abominando o dito Centrão, partiu abertamente para
a compra de parlamentares, agora sob a forma do dito orçamento
secreto, que de “secreto” não tem nada, visto que procura subverter a seu modo
as instituições representativas. Visou, sobretudo, à conservação do seu próprio
poder e a viabilizar a sua reeleição.
Ao mesmo tempo que diz pretender jogar
dentro das quatro linhas da Constituição, coloca-se como se fosse o seu
árbitro-mor, atribuindo-se o poder de interferir naquilo que é constitucional
ou não. Posiciona-se como se fosse o supremo árbitro da Nação, uma espécie de
juiz constitucional, superior à própria Suprema Corte do País. Até ameaça mudar
a composição do Supremo Tribunal Federal (STF) mediante o aumento de seus
membros, sinalizando para uma espécie de “chavização”. Aliás, ao se posicionar
como “mito”, assume a figura de um líder máximo, cuja fala deveria ser
seguida incondicionalmente. A Lei deveria ser ele! Tudo o que não corresponde
aos seus desígnios é declarado contra a democracia.
Ademais, seus ataques ao sistema eleitoral
e às urnas eletrônicas expuseram sua tentativa de não acatar os resultados das
eleições, em caso de sua derrota. A democracia só valeria quando vence. Várias
foram suas manifestações nestes anos, como se as ruas e as motociatas devessem
decidir sobre os resultados eleitorais. Homens em motocicletas, de capacetes,
alguns armados, fazendo demonstrações de força, deveriam se impor sobre o voto.
Na seara internacional, alia-se à extrema
direita, como Vladimir Putin, na Rússia, e Viktor Orbán, na Hungria, além de
ter sido simpatizante da tentativa de Trump de desrespeitar a decisão eleitoral
americana. Seu apreço dirige-se a todos aqueles que desprezam a democracia e
procuram afirmar suas formas próprias de autoritarismo. Eis sua afinidade
eletiva.
Opte entre duas falsas credenciais
democráticas e um ato libertário: vote branco ou nulo ou se abstenha! Diga não
aos extremos!
*Professor de filosofia na Ufrgs.
4 comentários:
Incluo tambem como ação democrática ponderar qual opção é menos danosa.
Mas escolho.
Muitas palavras para ESCONDER SEUS PRECONCEITOS! Você já foi um bom filósofo, um filósofo de VERDADE! Hoje, é um rascunhador de palavras vazias, mentindo para si mesmo e tentando enganar seus leitores! A vã Filosofia nunca foi tão vã quanto nas suas colunas...
Onde viu mentiras aí?
LISTANDO SÓ AS MENTIRAS EXPLÍCITAS:
1-Lula não defende a democracia (apenas a usaria pra conquistar poder).
2-A democracia foi constantemente minada nos governos Lula e Dilma!!
3-Ameaça de censura pelo(s) governo(s) petista(s).
4-O Estado Democrático de Direito foi arruinado (por Lula?).
Todas as mentiras implícitas foram ignoradas acima, mas destaco a PRINCIPAL, que é o objetivo único do texto do hoje pseudofilósofo: colocar Lula e Bolsonaro no mesmo nível ou plano, representando a mesma coisa na política brasileira...
Rosenfield é um GRANDE MENTIROSO, incompetente como analista político!
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